Margot participou de um Q&A após uma exibição de I, Tonya com o site Refinery29 em Nova York semanas atrás e falou sobre o filme, mulheres no esporte, o movimento #MeToo e mais. Confira:

Em uma exibição de I, Tonya em Nova York, Margot Robbie chegou com um vestido longo transparente e brilhoso. Eu quase tive que olhar duas vezes para me certificar que era realmente Robbie na minha frente, e não a versão para as grandes telas da patinadora Tonya Harding. E então ela ofereceu aquele grande sorriso que é sua marca registrada e seu sotaque australiano e eu pensei “Ah, aí está ela.”

Robbie pode não ser Tonya Harding, mas ela com certeza está ganhando tanto quanto a famosa patinadora artística como estrela e produtora desse filme, que revela a perspectiva de Harding sobre seu envolvimento em uma agressão contra a patinadora Nancy Kerrigan em 1994. O filme acabou de ser indicado para três Golden Globe Awards, incluindo um para Robbie como Melhor Atriz em Musical ou Comédia. Mas para ela e sua produtora, Lucky Chap, I, Tonya é só o começo para trazer mais histórias femininas para a luz.

“Nossa produtora possui 13 filmes em desenvolvimento no momento, e eu estou estrelando em alguns deles,” Robbie disse durante um Q&A após a exibição do filme. “E temos um departamento de TV agora, então eu estou realmente muito ocupada produzindo histórias lideradas por mulheres no momento. E espero estar interpretando Harley Quinn em breve. Espero que seja ano que vem!”

O roteirista de I, Tonya Steven Rogers juntou-se a conversa, assim como Paul Walter Hauser, que interpreta o antigo “segurança” de Harding, Shawn Eckhardt no filme. Rogers explicou que o que ele espera que faça o filme única é o jeito cheio de camadas que conta um dos momentos mais escandalosos da história do esporte.

“É realmente uma história engraçada, uma história muito trágica e louca,” ele disse. “E é uma história real, dependendo do ponto de vista que você acredita. Eu não queria limitá-lo. Por que qualquer filme deveria ser somente uma coisa? Por que não pode ser tudo?”

Você pode assistir o vídeo completo do nosso painel abaixo ou ler os destaques para descobrir mais sobre como Robbie aprendeu a patinar como Harding, sua visão sobre por que mulheres no esporte são colocadas uma contra a outra, o que os três convidados estão sentindo sobre o estado de Hollywood no meio do movimento #MeToo, e mais.

Como o filme diz, eu acho que todos possuem uma memória diferente sobre o que aconteceu entre Tonya Harding e Nancy Kerrigan. Quais são as suas memórias sobre o incidente?
Paul:
Eu sabia muito pouco. Eu nasci em 1986, então para mim foi como clipes dessas pessoas sendo investigadas e isso sendo uma história para Ricki Lake, Montell Williams, Oprah e Sally Jesse. Foi como fazer parte dessa cobertura televisiva.
Margot: Eu tinha quatro anos na época, então eu perdi completamente, e eu estava na Austrália. Quando eu li o roteiro, eu não sabia que tudo isso era verdade. Eu não sabia que eram pessoas reais, achei que fosse uma completa ficção do cérebro do Steve!

Como a ideia para I, Tonya ganhou vida?
Steven: Eu apostei comigo mesmo e escrevi o roteiro sem financiamento para ver se as pessoas iriam querer. E se eles quisessem, eu poderia ter algumas condições. A primeira foi que Allison Janney iria interpretar o papel que eu escrevi para ela [como a mãe de Tonya]. Eu conheço Allison por uns 100 anos, então eu queria isso no roteiro, ou não tinha acordo. Eu fiz isso antes mesmo da Allison ler o roteiro ou dissesse que ela ia fazer o filme!
Margot: Eu li o roteiro, e obviamente nossa produtora estava procurando por um conteúdo liderado por mulheres. Falamos com diretores brilhantes, mas a conversa que tivemos com Craig Gillespie, que acabou sendo nosso diretor, foi algo que ninguém mais conseguiu articular como eles lidariam com o tom do filme do jeito que ele poderia, e como eles lidariam com a violência. Essas foram as duas maiores questões que tínhamos, e nossa visão para o projeto era bem clara. Não tínhamos julgamento por esses personagens.

Você entrevistou Tonya Harding e seu ex-marido Jeff Gillooly na vida real antes de criar o filme. Você pode falar um pouco sobre isso?
Steven:
Eu vi esse ótimo documentário na ESPN sobre Tonya Harding chamado 30 for 30. Algumas coisas no documentário ressoavam para mim sobre classes na América, a privação de direitos e como dizemos para as mulheres como elas devem ser. E a verdade, a percepção da verdade, e o que nós contamos para nós mesmos para conseguirmos viver. Tudo isso estava enrolado nessa história muito louca. Então eu fui no site da Tonya Harding para encontrar se os direitos de vida ainda estavam disponíveis, e encontrei o número do agente dela e era um Motel 6. Eu apenas pensei, “Eu estou muito dentro!” Eu encontrei Tonya Harding e encontrei Jeff Gillooly, e eu nunca tinha entrevistado ninguém antes. Quando entrevistei eles, as histórias eram tão diferentes, eles apenas lembravam das coisas de um modo diferente. Eu pensei, “É isso, eu vou mostrar o ponto de vista de todo mundo e então deixar o público decidir o que é o que.”

Margot, como você se preparou fisicamente para o papel de uma patinadora olímpica? O quanto vimos você e o quanto vimos a dublê?
Margot
: Qualquer coisa espetacular não sou eu. Por mais que eu tentasse, eu nunca poderia fingir ser uma patinadora profissional. Eu treinei por quatro ou cinco meses, cinco dias por semana, quatro horas por dia. Foi bastante. Eu patinei diversas vezes na infância, mas não muito porque eu sou de Gold Coast, na Austrália. Não tem gelo! Eu posso surfar! Mas quando eu me mudei para a América, eu entrei para um time de hockey… mas acontece que hockey no gelo e patinação no gelo são totalmente diferentes, então eu fiquei pensando até realmente me decidir sobre o tópico. Eu descobri rapidamente que era um esporte brutal e incrivelmente difícil. Eu treinei bastante e depois de um tempo eu comecei a progredir e depois se tornou bem divertido, eu realmente amei.

Quais foram as cenas mais difíceis para você filmar, Margot?
Margot:
Logisticamente, filmar essas cenas é normal, é uma coisa mecânica. Emocionalmente, é diferente. Honestamente, fazer essas cenas com a Allison ou com o Sebastian Stan [que interpreta o Jeff], isso depende muito do seu parceiro de cena. Mas o que me marcou foi que, em um documentário sobre a Tonya quando ela tinha 15 anos, bem antes da mídia analisar de perto cada movimento dela, ela era muito sincera e vulnerável. Ela estava falando sobre sua vida doméstica, e ela estava dizendo com sinceridade para a câmera, “A minha mãe me bate, me espanca e ela é alcóolatra.” Ela dizia simples assim. Ela estava anestesiada a isso aos 15 anos. Isso me atingiu como um elemento importante desse ciclo abusivo que ela passou quando era criança e em seu casamento, que ela apenas aceitou porque era muito habitual. Craig teve a ótima ideia de quebrar a quarta parede nesses momentos para que você pudesse ver como ela estava emocionalmente desconexa do que estava acontecendo fisicamente com ela na época, para você ter a ideia de o quão repetitivo esses relacionamentos abusivos podem ser. E eu acho que falar diretamente com o público nesses momentos torna um pouco mais fácil para eles ficarem, “Eu posso continuar assistindo, eu acho que ela está bem em algum nível, e estou assistindo a um filme.” Eu acho que foi um jeito importante de fazer as cenas. Mas Craig disse que você não pode se afastar da violência, porque seria um desserviço enorme com qualquer pessoa que tenha sofrido violência. Foi algo que prestamos uma atenção particular.

Por que vocês acham que o público foi tão rápido em tornar Tonya a vilã nessa história da vida real, apesar dos papéis que o ex-marido e o segurança tiveram?
Steven
: Foi a primeira vez que houve um ciclo de 24 horas de notícias e a primeira vez que as pessoas tiveram que preenchê-lo. Eu eu acho que as pessoas ligaram pouco sobre serem precisos, eles só queriam conteúdo. Então, o jeito mais fácil de fazer isso foi reduzi-las a uma coisa só. Tonya era a vilã e Nancy era a princesa, era disso que eles se alimentavam e o que acreditavam.
Margot: Eu acho que foi mais fácil colocar Tonya como vilã porque ela não era a imagem que a patinação queria. Eu assisti cada vídeo dela patinando umas cem vezes e o número de vezes que eles comentam sobre a classe de sua família, deveria ser sobre a patinação, mas eles ficam “Aqui está Tonya Harding, a garota do lado errado dos trilhos!” É tipo, apenas dê uma chance para ela! Mas é sobre qual caixa eles decidem colocar cada mulher. Eu acho que as duas foram representadas injustamente, porque eles representaram Nancy Kerrigan injustamente, porque aparentemente ela também era de uma família simples.
Paul: Eu acho que tem sido um estigma injusto, ultimamente os homens estão recebendo isso em Hollywood e graças a Deus as pessoas estão descobrindo muito lixo. Mas as mulheres, vá até qualquer caixa de supermercado e você vai ver pessoas espalhando nomes e acusações sobre mulheres na mídia apenas por lerem algo sobre elas, que você sabe que é mentira. São apenas pessoas indo em direção a uma história e as coisas se tornam uma bola de neve. No caso de Tonya, como muitos outros casos, eles deixaram evoluir para esse monstro.
Steven: Eu acho que a mídia gosta de colocar uma mulher contra a outra, e as pessoas engolem isso.

Shawn e Jeff receberam 18 meses na prisão por seus papéis no incidente com Nancy Kerrigan, mas Tonya Harding foi banida para sempre da patinação. Vocês acham que essas sentenças foram justas?
Todos os três
: Não.
Margot: Eu acho que ela não deveria ter sido banida da patinação. Isso era sua subsistência. Ela largou a escola para patinar, não havia nada mais para se apoiar. Ela obviamente não veio de uma família que podia oferecer um ombro amigo ou algo assim. Eu achei muito injusto. Eu não ligo se as pessoas acharam que ela fez ou não fez, mas ela não merecia isso.

Vocês estão contando uma história muito importante para as mulheres nesse filme. No auge do movimento #MeToo, vocês estão esperançosos sobre Hollywood no momento?
Paul: Muito esperançoso. Eu acho que estamos cansados das mentiras. As pessoas estão prontas para falar e apoiar umas as outras. Muitas pessoas queriam apoiar outras, mas todos estavam com medo por seus empregos. E agora as pessoas estão perdendo os empregos. Eu estou animado que isso está acontecendo e acho que veremos uma grande reviravolta, não só no jeito que as pessoas são tratadas, mas como os filmes são feitos e veremos mais projetos femininos em Hollywood.
Margot: O que ele disse! Mas é verdade, eu acho que é uma nova onda… Nós somos uma produtora muito nova, esse é o nosso primeiro filme que estreia nos cinemas. Eu posso sentir essa geração jovem quando entramos na indústria, estamos apontando para as coisas que não concordamos e nós queremos mudar isso. É sobre seguir em frente e encontrar o que iremos consertar, e realmente fazer algo ao invés de falar sobre isso. Há muita conversa sobre isso, e a conversa precisa continuar para que não seja varrida para baixo do tapete. Mas todos viraram rapidamente sobre como podemos consertar isso e como vamos nos certificar para que não aconteça novamente.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil