Margot Robbie foi uma das capas da edição anual da revista W que lista as melhores performances de 2022. Na entrevista, ela fala sobre Babilônia, sobre não se identificar com seu signo e mais. Leia:

O estrelato, aquela mágica difícil de definir possuída por poucos humanos, é algo que Margot Robbie tem em abundância. Em Babilônia, ela canalize cada pitada disso em sua interpretação de Nellie LaRoy, uma atriz de filmes mudos no meio de uma era desordenada e decadente de Hollywood. Nesta entrevista, Robbie fala sobre como se conectou com o papel — e como se sente desconectada de seu signo astrológico.

Como Babilônia apareceu na sua vida?
Quando recebi o roteiro, senti que tinha que fazê-lo. Nunca me senti assim antes. Eu estava frenética, em um momento até sugeri ir até a casa do diretor. Quando eventualmente nos encontramos, eu disse: “Eu tenho que interpretar essa personagem, ela é minha.”

Você conhecia muito da era silenciosa de Hollywood que é apresentada no filme?
Não havia assistido muitos filmes mudos. Os do Charlie Chaplin, é claro, vi clipes. Mas os filmes mudos são incríveis. E o Damien [Chazelle, roteirista e diretor] é o maior defensor da era silenciosa porque ele é um grande cinéfilo. Ele já assistiu tudo e pode te indicar os melhores. O primeiro ganhador de Melhor Filme no Oscar em 1927 foi um filme chamado Asas, Clara Bow estrela, e é uma obra prima. Tipo, é melhor do que 90% dos filmes que já vi na vida.

Sua personagem, Nellie LaRoy, lembra Clara Bow, a estrela de cinema mudo que era um tanto selvagem.
Interpretar uma maluca não é difícil para mim. [Risos] Na época, na década de 1920, havia mais cocaína em Los Angeles do que hoje em dia. Pessoas de 30 anos estavam no comando dos estúdios e as de 20 estavam se tornando milionárias. Não tinha regras — era uma indústria completamente nova e nada era regulado. Elas se divertiam muito, tinha muitas festas. Nellie está no meio desse mundo. E ela não usa muitas roupas! Um dos principais figurinos que uso no filme é um macacão sem sutiã, blusa, nada — e ninguém ama mais se vestir do que eu. Sempre que faço uma festa, meus amigos dizem: “Qual o tema? Vamos ter que nos fantasiar, não é?” No ano passado, minha festa de aniversário foi com o tema Love Island, o reality show. Todos tinham que se vestir como participantes. Houve muitos bronzeados artificiais, apliques de cabelo e unhas de acrílico.

Você se lembra do seu primeiro beijo em cena?
Não me lembro… mas em Babilônia, a Nellie beija muitas pessoas. Eu improvisei um beijo que não estava no roteiro. Estávamos fazendo uma cena de festa e a Nellie vai até o personagem do Brad [Pitt] e da Katherine [Waterston], e eu pensei: “Foda-se. Vou beijá-los e ver o que acontece.” Eles ficaram um pouco chocados. Não sei se está no filme.

Está no filme. Você já ficou impressionada com alguma celebridade?
Sim, é claro. Acho que consigo esconder bem. Mesmo quando já trabalhei com alguém antes, ainda fico: “Uau, é o Brad Pitt. Que incrível.”

Você já entrou de penetra em alguma festa, assim como a Nellie?
Ah, em várias festas. Já entrei de penetra em um casamento uma vez, só para ver como seria. Me diverti muito.

Qual seu signo?
Sou de Câncer. Mas não me identifico muito, para ser honesta. Tudo que ouço sobre o signo não parece em nada comigo: são muito sensíveis, demonstram muita emoção e são muito caseiros. Eu odeio ficar em casa, não sou muito sensível e nem emotiva. Já chequei várias vezes meus ascendentes e tudo isso, é tudo Câncer. Acho que sou, tipo, triplo Câncer. Até chequei com a minha mãe se ela não me registrou na data errada, o que a ofendeu muito. Acho que sou mais de Gêmeos, talvez.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil

Para a entrevista anual da Variety em que os atores entrevistam outros colegas de profissão, Margot Robbie se sentou para uma conversa com Carey Mulligan. As duas falam sobre seus respectivos filmes, Babilônia e Ela Disse, sobre Bela Vingança, filme protagonizado por Carey e produzido por Margot, Barbie e muito mais. Confira a entrevista na íntegra e a transcrição traduzida abaixo:

CAREY MULLIGAN: Tenho muitas perguntas sobre Babilônia. Na verdade, eu terminei Maestro agorinha e estava conversando com Steve Morrow, do som, e ele disse: “Eu trabalhei em Babilônia. É incrível.”
MARGOT ROBBIE: É maluco! Quando eu li o roteiro, pensei que era como se La Dolce Vita e O Lobo de Wall Street tivessem um bebê — eu amei! Mas também pensei: “Podemos mostrar isso? Podemos mostrar aquilo?” Há tantas cenas em que pensei a) não tenho ideia de como farei isso e b) como vamos nos safar?
MULLIGAN: O quanto o roteiro está próximo do corte final?
ROBBIE: Bem perto. Como é o caso com muitos roteiristas que também são diretores, Damien não está entendendo o filme conforme edita, ele tem uma visão. E porque ele tem tanto talento musical, acho que o ritmo do filme era evidente nas páginas, então traduziu muito bem.
MULLIGAN: A música é tão incrível. Eu assisti com a minha mãe e ela…
ROBBIE: O que ela achou? Ai, meu Deus.
MULLIGAN: É um filme divertido para se ver com a mãe.
ROBBIE: Todo mundo deveria ver Babilônia com os pais. Não vai ser nada estranho.
MULLIGAN: Anos atrás, eu levei minha mãe e meu namorado de dois meses, agora meu marido, para assistir Shame. É, foi pesado.
ROBBIE: Um bom jeito de quebrar o gelo.
MULLIGAN: Mas, não, ela amou Babilônia. Então, a primeira grande sequência é uma festa gigante com um elefante. O quanto do elefante era real? Não destrua o cinema para mim.
ROBBIE: O elefante não era real.
MULLIGAN: Explicando, a sequência inicial é uma festa enorme, devassa e maluca. E muitas pessoas usam roupas bem pequenas ou até mesmo nada.
ROBBIE: É basicamente uma festa/orgia. Meio que vira uma orgia.
MULLIGAN: É porgia! Então, quem são esses figurantes? Porque são dançarinos incríveis.
ROBBIE: Muitos dançarinos. Também pedi para alguns amigos participarem porque era importante ter a atmosfera de festa durante o filme inteiro. Eles sempre estavam no meu trailer. O intervalo era como uma festa contínua. Pensei que precisava disso para a Nellie, precisava que ela nunca tivesse um minuto de silêncio para nunca se recompor.

Mas, é, falando sobre entrar no personagem, podemos por favor falar sobre você e esse filme, Ela Disse? Fiquei impressionada quando terminei de assistir. Fiquei relembrando momentos diferentes do filme na minha cabeça. Eu pensei: “Estou tão animada, vou ver o filme da Carey!” Mas não penso em você como atriz quando estou te assistindo, penso em você como um ser humano verdadeiro. Você traz tanta humanidade, é como se não estivesse atuando. Exceto quando você faz essas cenas malucas de choro ou grita com algum cara no bar, aí eu penso: “Ela está atuando pra caramba, mas não parece.” Fiquei muito impressionada.
MULLIGAN: Ah, amiga, obrigada. Quando eu li o roteiro, ainda estava divulgando Bela Vingança, que você produziu. Você estava por trás das câmeras.
ROBBIE: Você era nossa gloriosa estrela. É estranha, a relação.
MULLIGAN: E, é claro, estamos falando de coisas bem sensíveis em Ela Disse. Nosso filme, Bela Vingança, era uma fantasia com base em coisas que sabemos e vivemos, mas não era real, não estávamos falando sobre o depoimento verdadeiro de alguém. Mas Megan Twohey e Jodi Kantor são bem reais, estão bem vivas, ainda trabalham e são jornalistas incríveis, talentosas e formidáveis. E a história que elas escreveram é um material bem carregado. É uma responsabilidade a mais. E eu fiquei fascinada com a Megan — quem ela é e como o cérebro dela funciona.
ROBBIE: Ela parece durona. O que ela fez é insano.
MULLIGAN: É incrível. É o trabalho que fizeram desenvolvendo esses relacionamentos com as sobreviventes que eventualmente testemunharam — de modo oficial ou não — pareceu tipo, nossa, esse grupo de mulheres fez algo heroico mesmo. Eu tenho descrevido para meus filhos porque estão vendo vários anúncios. Eles perguntam: “O que é Ela Disse?” E eu respondo: “Podemos assistir quando vocês tiverem 40 anos, mas é sobre umas mulheres que estavam sofrendo bullying feito por um homem. E isso aconteceu por muito tempo. Era muito injusto, então elas decidiram tomar uma atitude. Elas se juntaram e o enfrentaram. Ele foi responsabilizado.”
ROBBIE: É um jeito incrível de explicar.
MULLIGAN: Eu apenas pensei: “É isso.” Mais exemplos assim, por favor. Mais exemplos de como mulheres podem se juntar e serem muito fortes.
ROBBIE: E você conversou com a Megan?
MULLIGAN: Bastante, na verdade. Fizemos muitas chamadas no Zoom e me mudei para Nova York com a minha família, então nos encontramos muito com as crianças. Megan foi muito solícita. Ela foi muito honesta sobre sua experiência com a depressão pós-parto e muitas coisas que aconteceram em sua vida doméstica.
ROBBIE: Lembro-me de quando fui até você para interpretar a Cassandra em Bela Vingança. Pensei: “Nunca vamos conseguir a Carey Mulligan.” E paguei a língua. Já disse isso antes, mas tenho você como a Meryl Streep neste ar rarefeito de atores de prestígio. E eu queria ver uma atriz de prestígio usando vestido apertadinho, com o rímel escorrendo pelo rosto e bêbada em um bar.
MULLIGAN: Meu sonho era que um dos figurinos dela se tornasse uma fantasia de Halloween para as mulheres… E aconteceu.
ROBBIE: Sempre pensei que eu realmente chegaria no auge quando um rapper de verdade usasse meu nome em um rap.
MULLIGAN: Deve ter acontecido.
ROBBIE: Na verdade, foi o Jack Harlow. Fiquei muito animada. Todos os meus amigos me enviaram dizendo: “Aconteceu. Você chegou no auge.”
MULLIGAN: Eu quero perguntar sobre Barbie. Ainda não conheci Greta Gerwig de maneira apropriada. Ela é a melhor — digo isso de vista. Mas ela fazendo com você e com o Ryan Gosling, minha nossa.
ROBBIE: É verdade, você trabalhou com…
MULLIGAN: Trabalhei com o Ryan em Drive.
ROBBIE: Ele não é o ser humano mais glorioso do mundo?
MULLIGAN: O homem mais doce e gentil do mundo e um ator incrível. Vocês dois fazendo Barbie com a Greta é tão engraçado.
ROBBIE: Vi muitas semelhanças entre a Greta e o Damien. Eles faziam as mesmas referências. Os dois amam Os Guarda-Chuvas do Amor. Digo, vários diretores amam, mas estranhamente peguei os dois fazendo as mesmas referências. E perguntei se eles já haviam conversado antes e Greta disse que eles nunca se conheceram.
MULLIGAN: Foi uma reviravolta surpreendente para a Greta.
ROBBIE: Estive trabalhando no filme por uns quatro ou cinco anos — é um projeto da LuckyChap. E fomos atrás da Greta. Existiam talvez três pessoas com quem eu gostaria de fazer um filme da Barbie, então se ela dissesse não… Que bom que ela aceitou. Ela é brilhante.
MULLIGAN: Vocês construíram casas dos sonhos gigantes no filme?
ROBBIE: As casas dos sonhos? Vocês vão ver algumas. E será tudo o que sempre sonharam.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil

Margot Robbie é capa e recheio da edição de dezembro/janeiro da revista Vanity Fair! A atriz e produtora conversou com a revista sobre seu papel como Nellie LaRoy em Babilônia, falou sobre as últimas fofocas inventadas por tablóides, sobre a LuckyChap Entertainment e muito mais. Veja as fotos e leia a entrevista traduzida abaixo:

Margot Robbie quer me levar para Nova York. Estamos no lote da Paramount em Los Angeles e ela está fazendo um tour comigo por alguns dos lugares em que filmaram Babilônia, seu próximo filme sobre a mudança vertiginosa que aconteceu em Hollywood no final da década de 1920. Estamos prestes a entrar no lote de Nova York — bairros falsos usados como cenário para várias cidades — quando um segurança nos interrompe dizendo: “Com licença, para onde estão indo?”

Tentamos dizer “para lá” e continuar caminhando como se fossemos donas do lugar. O segurança não acredita. Ele pergunta com qual produção estamos. É quando espero que minha guia turística diga: “Sou a Margot Robbie.” Em vez disso, ela murmura algo sobre estar com Babilônia e “fazendo pós-produção”. Em seguida, sua voz desaparece. O segurança claramente não reconhece que em sua frente está a atriz que deu vida à Harley Quinn e foi indicada a um Oscar por interpretar Tonya Harding. Ele nos diz para sair do set porque estão filmando. Robbie concorda educadamente. Ela ri quando viramos a esquina. “Eu deveria ter uma história melhor para a capa”, diz ela. “Você deve achar que eu seria melhor nisso.”

E eu realmente acho difícil acreditar que Robbie dá de cara com duros “nãos” com muita frequência. Não por conta de sua aparência — sim, ela é deslumbrante, já falamos muito sobre isso — mas por conta das histórias que ouvi sobre sua tenacidade. Seu primeiro grande trabalho, a novela australiana Neighbours, era para ter sido uma aparição especial, mas ela causou uma impressão tão boa que ficaram com ela por três anos. Robbie conseguiu seu primeiro papel bem-sucedido em O Lobo de Wall Street em parte porque teve a coragem de dar um tapa em Leonardo DiCaprio durante o teste. E ela escreveu uma carta não solicitada para Quentin Tarantino dizendo que esperava trabalhar com ele um dia, eventualmente se vendo no set de Era uma Vez em… Hollywood.

Todos com quem falo sobre Robbie enfatizam sua ética de trabalho. “Seu superpoder e o que a torna um talento de uma geração só é que ela consegue fazer tudo”, diz Christina Hodson, uma boa amiga e roteirista de Aves de Rapina. “Se você assistir Margot aprendendo uma nova habilidade, é bem assustador. Quando ela fez as cenas de ação para Aves de Rapina, as equipes de dublês mostravam algo para ela uma vez só. Ela tenta uma vez e na segunda já está fazendo melhor do que eles.” A colega de elenco de Robbie em Eu, Tonya, Allison Janney, disse que ela a lembra de Katherine Hepburn, que organizou Núpcias de Escândalo sozinha quando sentiu que não estava recebendo os papéis que merecia. Martin Scorsese diz que ela o lembra de duas lendas, Carole Lombard e Joan Crawford: “Como Lombard, ela é vivaz, de uma beleza impressionante, e com um ótimo senso de humor, principalmente sobre ela mesma. Como Crawford, ela é completamente pé no chão e instantaneamente dominante — ela entra em cena e você presta atenção nela.”

Não é surpresa, então, que Robbie interpreta um ícone fictício de Hollywood em ascensão em Babilônia, a dramédia épica da Paramount liderada por ela, Brad Pitt e o novato Diego Calva. O filme, que chega aos cinemas em janeiro, se passa durante a época mais louca da indústria, quando o dinheiro estava fluindo, as regras eram poucas e as possibilidades de fama e sucesso pareciam infinitas. De acordo com a uma hora e pouquinho que assisti, o filme aspira ser uma visão caleidoscópica sobre a indústria do cinema quando os filmes falados estavam prestes a mudar tudo para sempre. Babilônia busca capturar a decadência e deprevação da época, junto com a loucura e — não querendo soar muito como a Nicole Kidman naquele comercial da AMC — a mágica do cinema. “O que você vê na tela é o caos de fazer um filme e como é foda, mas também como é a melhor coisa do mundo”, Robbie diz sobre Babilônia. “E, literalmente, filmar foi a mesma coisa. Tudo era tão descontrolado, divertido, incrível e absurdo. Definitivamente foi a melhor experiência da minha vida.”

Robbie pode estar sentada comigo porque ela tem um filme para divulgar, mas para constar, eu acredito nela. A Nellie LaRoy de Babilônia é sem dúvidas a personagem mais próxima dela mesma que ela já interpretou. Nellie é uma estranha em Hollywood, apimentada e cheia de vigor e de uma energia indomável. Ela tropeça em seu primeiro papel com um pouco de sorte, mas faz uma performance tão distinta que a coloca no caminho do estrelado. “Margot é capaz de explorar esse lado selvagem e essa bravura em que você não sabe o que vai acontecer, e continua a surpreender” diz Damien Chazelle, que dirigiu Babilônia. “Normalmente, quando você pensa em atores com esse tipo de energia crua, é uma energia sem instrução. Com a Margot, esse não é o caso.” Em outras palavras, ela é um tornado com uma verdadeira técnica.

Assim como Nellie, Robbie, que tem 32 anos de idade, ganhou a atenção de Hollywood com uma performance explosiva, em O Lobo de Wall Street, e construiu uma carreira que sugere o que uma estrela de cinema moderna pode ser. Ela é uma atriz e produtora que não leva desaforo e fica entre os filmes de grande orçamento e independentes obscuros, mesmo que ainda esteja um pouco desconfortável com a atenção. “O jeito que eu tentei explicar esse trabalho — e mundo — para as pessoas é que os altos são realmente muito altos,” diz ela, com a mão pairando acima de sua cabeça, “e os baixos são muito, muito baixos. E acho que, se você tiver sorte, encontra uma balança no meio.”

Robbie está usando uma jaqueta preta grande por cima de uma camiseta preta e calças xadrez marrom wide-leg, carregando uma braçada de cadernos e livros. É provavelmente por isso que, quando três carrinhos de golfe repletos de turistas passam por nós, ninguém a nota. Enquanto caminhamos pelo lote, falamos sobre como é louco que 100 anos de estrelas passaram por essas mesmas ruas, Clara Bow entre elas, o ícone da era dos filmes mudos. Bow foi a primeira it girl — um símbolo sexual e a principal bilheteria da Paramount por vários anos, estrelando em 46 filmes mudos, incluindo Asas, de 1927, o primeiro a ganhar o prêmio de Melhor Filme.

Bow também é a principal inspiração para Nellie LaRoy em Babilônia. Robbie estudou seus filmes e, principalmente, o começo de sua vida. “Sempre que estou tentando formar um personagem, tenho que entender sua infância. Posso justificar tudo o que fazem no resto da vida se apenas conseguir entender a infância”, diz ela. Uma vez que Robbie aprendeu sobre o quanto a juventude de Bow foi traumatizante — repleta de violência e pobreza, além do abuso cometido por sua mãe com problemas mentais — ela entendeu o que levou Nellie a fugir para os filmes. “Ela provavelmente teve a pior infância que eu poderia imaginar”, diz ela. “Você consegue justificar tudo o que Nellie faz e diz no filme se você imaginar que ela passou por algo assim quando criança.”

Robbie trabalha com um instrutor de movimento para encontrar animais que inspirem o físico de seus personagens — ei, qualquer coisa que dê certo — e me diz que os animais de Nellie eram um polvo e um texugo do mel, porque ela é fluida e tátil, mas brutal quando necessário. Robbie abre um caderno preto e lê algumas anotações sobre polvos: “Eles são fluidos, são brincalhões. Muito inteligentes, ótimos sobreviventes e transformadores. Podem se transformar em qualquer coisa.” Posso confirmar que o polvo aparece em uma cena de festa no começo do filme, em que Nellie — usando um vestido vermelho justo e tendo acabado de usar cocaína — se move pela multidão em uma dança libidinosa e contorcida. O texugo do mel aparece mais tarde durante brigas. Robbie fecha o caderno. “Queria estar com o mapa da minha personagem também,” diz ela, “porque isso faria você ter certeza de que sou maluca quando visse aquilo.”

Nellie é sexy de um jeito natural. Em um momento, Robbie está usando um macacão sem nada por baixo, uma roupa inspirada em algo que Bow já usou uma vez, e ela tem alguns momentos em que está seminua no filme, embora isso não a desanime: Ela já mostrou tudo o que tinha para mostrar em O Lobo de Wall Street. “Eu realmente não tenho muita modéstia sobrando”, diz Robbie, rindo, antes de adicionar que consegue separar-se de seus personagens. “Não tenho vergonha quando é a Nellie fazendo alguma coisa. Teria se fosse eu, mas é tudo ela.” A cena da festa exigiu que Robbie dançasse por oito horas sem parar em dois dias consecutivos. Calva diz que quando terminaram a cena, toda a equipe do filme, os dançarinos e músicos a aplaudiram: “Ela deu tudo de si. Tudo é cru. Ela é uma atriz destemida.”

Adam McKay, que dirigiu Robbie em uma cena altamente memorável em A Grande Aposta em que ela explica os títulos garantidos por hipotecas enquanto toma um banho de espumas, concorda que o compromisso de Robbie é uma de suas maiores qualidades, junto com a vida sempre presente em seus olhos. “Com a Margot, tudo o que ela fizer vai ser sem parar, do começo ao fim”, diz ele. “Mas o que é tão legal nisso é que existe um senso de humor por trás. Há uma diversão que é irrestível.”

Antes do tour pelo lote, Robbie e eu nos sentamos na primeira fila do Paramount Theatre, o deslumbrante cinema de 500 lugares que fica logo após a fonte icônica e o portão de entrada ornamentada do lote. Seu cabelo está alguns tons mais escuros do que o loiro iluminado que já vimos nas telas. Seus livros e cadernos estão em pilha no seu colo. Robbie me conta sobre sua infância em Queensland, Austrália, onde ela e os irmãos foram criados apenas pela mãe. “Eu cresci em uma casa muito barulhenta e movimentada, então me sinto segura e confortável quando o caos está acontecendo ao meu redor”, conta ela. “Acho que é por isso que amo sets de filmagens.” Ela odeia ficar sozinha e muitas vezes convida amigos para ficarem em seu trailer entre as tomadas.

Depois de Neighbours, Robbie mudou-se para os Estados Unidos e interpretou uma comissária de bordo na série da ABC, Pan Am. A série só durou uma temporada, mas ela conseguiu o papel do mulherão que era Naomi Lapaglia em O Lobo de Wall Street de Scorsese. Robbie não estava preparada para ser uma it girl. A fama foi instantânea e intensa. Ela não estava preparada emocionalmente para a perda de sua privacidade e a estabilidade financeira ainda estava longe. Ela me disse que foi um de seus piores momentos: “Algo estava acontecendo naquele momento inicial e foi muito ruim, me lembro de dizer para a minha mãe: “Acho que eu não quero fazer isso.” E ela apenas olhou para mim, completamente séria, e disse: “Querida, acho que é tarde demais para não fazer.” Foi quando percebi que o único caminho era para frente.”

Robbie está lidando melhor com a fama. “Eu sei como passar despercebida em aeroportos e agora sei quem está tentando me foder e de quais jeitos”, diz ela. Mas ainda existem obstáculos. Antes da nossa entrevista, Robbie estava de férias na Argentina quando um paparazzo supostamente tentou tirar fotos dela e de sua amiga Cara Delevingne enquanto tentavam entrar em um táxi. Relatos iniciais afirmaram que Robbie havia se machucado. Quando pergunto sobre o episódio, ela diz que não pode falar nada por conta de questões legais em andamento entre as outras partes envolvidas. Pergunto se ela se machucou e ela diz: “Não, mas poderia ter me machucado.”

De maneira internacional, ela me diz que não há leis que protegem figuras públicas como há em Los Angeles. A família de Robbie na Austrália já passou por situações perigosas enquanto foram perseguidos por fotógrafos. “Se minha mãe morre em um acidente de carro porque você queria uma foto minha indo fazer compras, ou você derruba meu sobrinho da uma bicicleta — para que? Por uma foto?” diz ela. “É perigoso, mas estranhamente parece que nada vai mudar.”

No outono, a mãe de Robbie ligou para ela após um paparazzi fotografá-la supostamente chorando do lado de fora da casa de Cara Delevingne. Os tabloides teorizaram que Robbie estava preocupada com sua amiga e colega de elenco em Esquadrão Suicida, que recentemente havia sido fotografada parecendo transtornada. Então, a mãe dela ligou. Margot estava bem? E a Cara? “Eu disse: “Primeiramente, sim e sim’”, diz Robbie, furiosa. “‘Em segundo lugar, não estou na casa da Cara… Estou do lado de fora de um Airbnb que eu estava alugando por cinco dias! E não estou chorando!” Tinha alguma coisa no meu olho. Estava tentando pegar minha máscara, tentando segurar um copo de café e não conseguia tirar um cabelo do meu olho.”

Antes de entrar para a indústria, Robbie presumiu que a imprensa só publicava a verdade. Então, os tablóides começaram a anunciar diariamente que ela estava grávida quando não estava, e as pessoas ligavam para dar os parabéns. Eventualmente, Robbie aceitou o fato de que ela não pode refutar todas as histórias falsas, uma tarefa de Sísifo, se já existiu alguma. “Você quer corrigir, mas não pode. Você precisa, não sei, olhar para o outro lado.” Quanto a entrevistas, ela admite que a deixa estressada. “Eles querem uma manchete e eu entendo, eles só têm três minutos”, diz ela. “Mas é como fazer sapateado em um campo minado porque você está tão cansada e deu entrevistas por horas e horas, então ter que ficar atenta o tempo todo… Você pode falar a coisa certa centenas de vezes, mas se disser uma coisa errada uma vez, está fodido.”

Quando encontro com ela, Robbie havia acabado de completar a turnê de imprensa de Amsterdam, de David O. Russell, um filme estranho ambientado na década de 1930 em que ela estrela ao lado de Christian Bale e John David Washington. Russell é conhecido por, como posso dizer, seu comportamento intenso no set. Para começar, ele fez Amy Adams chorar enquanto faziam American Hustle e gritou de modo profano com Lily Tomlin no set de Huckabees – A Vida é uma Comédia em um vídeo tão horrível que agora virou lenda. Pergunto para Robbie se ela teve receio em trabalhar com ele, especialmente nessa “nova” Hollywood em que, idealmente, comportamento tóxico não é tolerado. “O processo com David começou anos atrás”, diz ela, completando que eles criaram o personagem juntos. “Uma conversa levou para outra que levou para outra que durou anos e anos. Então, não foi um momento do tipo: “Você diria sim para um filme do David O. Russell?’” Ela gostou do brainstorming, dizendo: “Nunca me envolvi tanto apenas como atriz. Nunca um diretor quis ouvir tanto o meu ponto de vista no processo de desenvolvimento.”

Eu pergunto se alguma vez foi desconfortável no set. Ela balança a cabeça em negação. “Eu tive uma experiência bastante incrível”, diz ela. “Outra coisa que gostaria que as pessoas entendessem é que quando você faz um filme, não está fazendo apenas com o diretor e com os atores. Está fazendo com tantas pessoas.” Ela destaca o cinegrafista ganhador do Oscar Emmanuel “Chivo” Lubezki e diz que trabalhar com ele foi um dos “melhores momentos” de sua carreira.

À medida que nos falamos, Robbie é sincera e generosa, muitas vezes divagando em histórias apaixonantes sobre suas experiências no set de filmagens ou seus filmes e podcasts favoritos (ela ama Team Deakins, um podcast sobre filmes com o cinegrafista Roger Deakins e sua esposa, James Ellis Deakins). Ela é mais cuidadosa quando desviamos para sua vida pessoa. “É uma coisa tão irônica”, diz ela. “Quando você é ator, o ponto principal é que você está mostrando outras pessoas para as pessoas, então é uma coisa tão sem lógica falar sobre si mesmo quando você passa esse tempo todo se escondendo.”

Mesmo assim, ela parece estar escondendo nada mais do que decência humana (ela pagou toda a hipoteca da mãe com seu primeiro grande salário) e um gosto por se divertir com amigos (ela viaja com as amigas para surfar na Nicarágua e vai para a Espanha em grupos). Alguns outros detalhes que sugerem que estamos lidando com uma pessoa em três dimensões: Robbie consegue abrir uma garrafa de cerveja com outra garrafa de cerveja. Ela quer aprender a tocar banjo. Sua festa de aniversário teve a temática de Love Island. “Ela realmente ama Love Island, o que é surpreendente porque ela tem muita classe”, diz Hodson. “Mas, sim, definitivamente é um prazer culposo que gastamos muitas e muitas horas.”

Em um momento, Robbie diz que gostaria de ter sido atriz na década de 1920 ou até mesmo na década de 1970. Mas ela pôde interpretar uma variedade de papéis — colocando furúnculos no rosto para interpretar a Rainha Elizabeth I em Duas Rainhas, usando patins e enchimento para Tonya Harding e maquiagem exagerada e um taco de beisebol para a Harley Quinn — enquanto produzia os tipos de projetos que desejava. Clara Bow podia interpretar apenas um tipo de personagem e tinha pouco controle sobre sua carreira — o que, posso dizer com certeza, incomodaria Robbie. Ela pega outro caderno e lê Walt Whitman: “Eu me contradigo? Muito bem, então me contradigo. Sou grande. Contenho multidões.” Ela olha para cima e sorri. “‘Contenho multidões” é uma coisa bem legal de se lembrar.”

Hollywood não esperava que ela fosse conter multidões. Quando ela ganhou destaque depois de O Lobo de Wall Street aos 22 anos, Robbie recebeu ofertas de papéis previsíveis da loira gostosa, e ela recusou todos. Digo que Hollywood ama colocar as mocinhas em uma caixa e ela vai ainda mais longe: “Acho que as pessoas gostam de colocar outras em caixas.” Até mesmo hoje em dia, Robbie não recebe os créditos suficientes por seu trabalho como produtora. Em 2014, ela fundou a LuckyChap Entertainment com três de seus melhores amigos — um deles, Tom Ackerley, tornou-se marido dela em 2016. A primeira estreia da produtora foi Eu, Tonya em 2017, um sucesso em críticas que rendeu três indicações ao Oscar e uma vitória para Allison Janney. Em 2021, Bela Vingança trouxe mais cinco indicações ao Oscar e uma vitória em Melhor Roteiro Original para Emerald Fennell. A produtora, que defende histórias e talentos femininos, produziu cinco filmes neste ano, incluindo o próximo de Fennell.

E então, há Barbie. O filme estava essencialmente morto depois de mudar de atrizes principais (Amy Schumer e Anne Hathaway) e roteiristas até que Robbie assinou para estrelar e produzir. Ela trouxe Greta Gerwig para coescrever (com seu parceiro, Noah Baumbach) e dirigir, buscando uma visão subversiva da boneca mais icônica do mundo. “Fazer um filme óbvio sobre a Barbie seria extremamente fácil,” diz Robbie, “e tudo o que é fácil provavelmente não vale a pena fazer.” Gerwig ficou tão impressionada com Robbie a ponto de ficar perplexa: “Uma vez, queria filmar a Margot em câmera lenta, mas fazer todo o resto continuar rápido, então fui até ela e disse: “Você pode se mover em 48 quadros por segundo, mesmo que estejamos filmando em 24 quadros por segundo e todo mundo se movendo na velocidade normal?” Ela fez algum cálculo de cabeça e conseguiu. Ela literalmente se moveu em uma taxa de quadros mais alta. Não sei em que categoria isso se encaixa além de mágica.”

Robbie está ciente de que há muitos olhos nesse filme, o que ela vivenciou em primeira mão enquanto filmava em Venice Beach com seu colega de elenco Ryan Gosling usando maiô neon e patins: “As pessoas têm sentimentos intensos. Eu prefiro isso do que indiferença. Agora, deixe-me destruir suas expectativas. É muito mais assustador, mas é um ótimo lugar para começar.”

Para deixar claro, Robbie é uma produtora que realmente trabalha. Ela está nas reuniões de pré-produção, está no set, está apagando incêndios e recebendo “gritos dos agentes”. Quando aponto que muitos atores que conseguem créditos como produtores realmente não, hm, fazem nada na produção, ela diz: “É, isso me tira do sério. É tão irritante porque eu tenho que lutar toda vez.” Por lutar, ela quer dizer lutar para ser levada a sério como produtora. No começo de todos os projetos, ela é deixada de fora dos e-mails ou não é convidada para as reuniões porque as pessoas presumem que é apenas um título de vaidade para ela. “Então, depois de alguns meses, as pessoas percebem: “Ah, ela realmente é produtora’”, diz ela. “Mas ainda assim, as pessoas dirigem todas as perguntas sobre dinheiro aos meus parceiros, nunca a mim. E muitas vezes Tom e Josey precisam falar: “Isso é com ela, na verdade.’”

Passeamos por quase todas as ruas no lote da Paramount. Robbie me mostrou onde ela fez ensaios de dança (e escola de palhaço) por meses para Babilônia, e onde ela filmou uma de suas cenas favoritas, uma briga voraz e acirrada entre sua personagem e o de Calva. (Ela acidentalmente quebrou uma janela e machucou as costelas de Calva — e então a cena foi cortada do filme.) Robbie mostrou alguns dos 31 sotaques que ela tentou para a Nellie em algumas gravações em seu celular. Em uma delas, ela soa exatamente como Fran Drescher. Em outra, é como se a Snooki de Jersey Shore encontrasse o Joe Pesci. Eles eventualmente concordaram em um sotaque de Jersey com uma voz rouca de tanto festejar. Quando as filmagens de Babilônia terminaram, Robbie estava desnorteada: “Foi a personagem com mais desgaste físico e mental que já interpretei, em disparada. Ela exige tanto de você que me deixou em frangalhos.”

Robbie e o marido estão se mudando para uma nova casa em Los Angeles — eles também têm uma casa em Londres — e, para completar os cinco filmes que está produzindo, ela está preparando Barbie para o próximo verão. Robbie também está em pré-produção com a prequência de Onze Homens e Um Segredo que ela irá estrelar e produzir. O outro spin-off de outra franquia, Piratas do Caribe, que ela esteve envolvida está morto, ela me conta. “Tínhamos uma ideia e estávamos desenvolvendo por um momento, um tempão atrás, de ter um filme mais comandado por mulheres — não totalmente, mas só um tipo diferente de história — o que achamos que seria bem legal, mas acho que eles não queriam”, diz ela sobre a Disney.

Há diretores que ela ainda espera trabalhar, é claro: Paul Thomas Anderson, Bong Joon Ho e Céline Sciamma. Mas mais do que nunca, o foco de Robbie está no legado. Ela fala sobre os filmes que ela assiste e reassiste em suas noites de cinema com o marido e amigos — os de 1920 ou de 1970 que “décadas e décadas depois, ainda conseguem te emocionar de novo.” Robbie fará alguns. Apenas espere.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil

Margot Robbie foi homenageada com o prêmio Entertainment Innovator of the Year da revista Wall Street Journal. A atriz e produtora ganhou capa e recheio da publicação que destaca seu trabalho na LuckyChap Entertainment, sua produtora fundada ao lado dos amigos Josey McNamara e Sophia Kerr e do marido Tom Ackerley. Confira fotos e o artigo traduzido abaixo:

“A loira mais gostosa que existe.” Era a famosa descrição dada para a personagem de Margot Robbie no roteiro de O Lobo de Wall Street (2013), dirigido por Martin Scorsese. Amplamente creditado como o primeiro sucesso de Robbie, o papel ajudou a estabelecê-la de maneira instantânea como uma das maiores estrelas do cinema.

No entanto, Robbie, nascida na Austrália e novata em Hollywood na época, diz que tinha pouco interesse em continuar no tema do mulherão: “Eu precisava mostrar para as pessoas que eu podia fazer algo diferente. Não queria ser rotulada.” De acordo, seus próximos papéis mostraram o dedo do meio para o paradigma da loira-gostosa.

No set de Suíte Francesa, em 2013: “Eu interpreto uma camponesa francesa e, acredite em mim, minha aparência era repugnante”, diz ela no Zoom. (Seu nome aparece como “Maggot”, seu apelido de infância, em vez de “Margot”.) “Depois, eu fiz Os Últimos na Terra… e, novamente, minha aparência era repugnante. Naquela época, eu pensei que já tinha provado meu ponto.” Como a Rainha Elizabeth I com varíola em Duas Rainhas, de 2018, Robbie recebeu feridas, crostas e cicatrizes.

Enquanto filmava Suíte Francesa, Robbie fez amizade com os assistentes de direção, Josey McNamara e Tom Ackerley. Ambos tornaram-se seus parceiros de negócios, junto com a amiga de infância, Sophia Kerr; mais tarde, ela casou-se com Ackerley. Os quatro discutiram suas aspirações mútuas pela produção e sobre o que viam como uma falta de papéis desejáveis no cinema para mulheres. “Me lembro de dizer: “Toda vez que leio um roteiro, quero interpretar o personagem masculino’”, relembra Robbie. “‘Não seria muito legal se as pessoas lessem os roteiros dos filmes que estamos fazendo e sempre quisessem interpretar a personagem feminina?’”

Eles decidiram criar sua própria produtora, chamada LuckyChap Entertainment. Robbie havia acabado de completar 24 anos de idade. (O nome da produtora surgiu enquanto eles estavam bêbados, diz Robbie; talvez seja uma referência a Charlie Chaplin, mas ninguém consegue lembrar de verdade.) A ordem da LuckyChap, desde o primeiro dia, era “contar histórias de mulheres.” Todos os projetos precisavam envolver uma história feminina ou narradora mulher. Eles também queriam, de acordo com Ackerley, “encontrar a próxima geração de talentos” enquanto ficavam “do lado certo da cultura.”

Conseguir fazer qualquer filme é difícil, mas Robbie, agora com 32 anos, diz que a equipe da LuckyChap não ficou intimidada. “Éramos muito jovens e estúpidos para saber o quanto seria assustador”, diz ela. “Começamos tudo em uma cadeira em uma cozinha em Londres e todo mundo pensava: “Eles são tão idiotas… Seria um milagre se fizessem algo.’”

Mas o grupo logo manifestou o tal milagre, na forma de um roteiro especulativo escrito por Steven Rogers que estava rodando por aí: um filme de redenção audacioso sobre a ex-patinadora olímpica Tonya Harding. Outras pessoas na indústria passaram o projeto, Robbie relembra. “Eles diziam: “Não dá para fazer esse filme… Tem por volta de 200 cenas, várias locações, é de época’”, diz Robbie. “Nós lemos e pensamos: “Mas é bom pra caralho, é o melhor roteiro do mundo, então, e daí?’” Eles agarraram a opção.

Quando interpretou a Rainha Elizabeth I, Robbie diz que sentiu-se “muito restringida, tanto de maneira emocional quanto física.” Mas com Eu, Tonya, no qual ela interpretou o papel titular, ela chegou atirando e teve seu verdadeiro primeiro sucesso. Por meio da personificação improvável de Harding, ela transmitiu as qualidades que desde então definiram melhor um papel para Robbie: fisicalidade extrema, um desafio explícito do clichê e uma vontade de entrar de cabeça em um personagem.

Eu, Tonya também serviu uma declaração da intenção da LuckyChap. O jovem grupo havia acabado de estrear um filme que seria indicado a três Oscars em 2018, incluindo uma indicação de Melhor Atriz para Robbie e uma vitória para sua colega de elenco Allison Janney. A empresa e Robbie tinham certas coisas em comum: suas sensibilidades eram incomuns, até mesmo loucas. Ambas flertavam com o risco. E ambas viam valor e oportunidade infinitos no que outros haviam dispensado.

Com 8 anos de idade, a LuckyChap, agora com sede em Los Angeles, deixou de ser uma novata desconexa para uma gigante independente. A empresa possui entre 15 e 20 projetos cinematográficos em vários estágios de desenvolvimento, de acordo com a vice-presidente de cinema da LuckyChap, Bronte Payne. Eu, Tonya, Aves de Rapina (2020) e Bela Vingança (2020) arrecadaram juntos mais de 275 milhões de dólares, de acordo com a produtora.

A LuckyChap também expandiu-se em séries para a televisão e para o streaming, com um acordo de exclusividade com o Amazon Studios. Eles possuem entre 15 e 20 séries em desenvolvimento, de acordo com Dani Gorin, presidente de televisão da produtora. Tanto nas operações de filmes e séries, a empresa manteve a ordem original de promover criadoras de conteúdo e de contar histórias de mulheres. Gorin cita a série de 2021 da LuckyChap, Maid, criada para a Netflix e estrelada por Margaret Qualley como uma mãe solo e empregada doméstica lutando para sobreviver, como “uma representação dos tipos de histórias que queremos contar, com uma criadora e protagonista mulher.”

“É uma história muito direta e simples sobre alguém batalhando em um sistema que não é construído para ela”, adiciona. “Há uma qualidade subversiva… a série tinha um tema sombrio de comédia nela, e um elemento de realismo mágico.”

O atual leque de projetos da produtora varia amplamente em conteúdo e teor. O que eles procuram, de acordo com seus princípios: material que é deixado de fora. Novo. Experimental. Porém, comercial, eles logo explicam. Dos projetos apresentados para eles, apenas “1% são “sim para caralho’”, diz Robbie. O cofundador e codiretor da LuckyChap, Josey McNamara, adiciona: “Não diria que o resto é “nem pensar”, mas na maioria das vezes… não é a coisa certa para a gente.”

Robbie diz que o movimento #MeToo deu ainda mais força para a missão de longa data da empresa: “O efeito colateral disso foi que um turbilhão foi criado para as mentes criativas femininas. Consigo ver algumas de nós tirando vantagem disso e eu dou força para todas as mentes criativas femininas fazerem o mesmo.”

Entre os talentos incentivados pelo grupo da LuckyChap: a cineasta e roteirista Emerald Fennell, que ganhou um Oscar, um BAFTA e um WGA, todos por Melhor Roteiro Original, por seu filme de 2020, Bela Vingança. Fennell tornou-se uma diretora da casa e prova de conceito para a LuckyChap, que também está produzindo seu segundo filme, Saltburn, atualmente em pós-produção. Fennell diz que a empresa incentivou e defendeu seu trabalho.

“Eles não bajulam Hollywood ou ninguém”, diz ela. “Eles te apoiam e não se importam se isso traz problemas para eles.” Desde o começo de seu relacionamento com a Luckychap, “eles nunca me fizeram sentir-me como uma menininha. Acreditaram em mim e me ajudaram”, diz Fennell. “Me senti segura.” E em Hollywood, ela diz que “isso não é pouca coisa.”

A escritora e diretora Greta Gerwig, que coescreveu e dirigiu o próximo projeto da LuckyChap, Barbie, também descreve Robbie e a produtora como defensores do talento feminino com os quais trabalham. “Assim que eles começam um projeto, vão até o fim”, diz ela. Como atriz e produtora, “Margot tem um lampejo de certeza e se dedica”, Gerwig diz. “Ela não tem um aspecto vago em sua psique.”

Robbie e seus colegas são parte de uma onda de líderes do cinema e da televisão que ajudam mulheres a comandar os principais papéis criativos e contar histórias de mulheres nas telas. A atriz e diretora Eva Longoria fundou a UnbeliEVAble Entertainment, dedicada a contar histórias latinas roteirizadas e não roteirizadas. A escritora e diretora Ava DuVernay fundou a Array, uma cooperativa que produz conteúdo que busca “contar histórias inclusivas e divertidas que irão ampliar pessoas não brancas e mulheres de todos os tipos por todos os formatos narrativos.” Hello Sunshine, uma empresa criada pela produtora e atriz ganhadora do Oscar Reese Witherspoon, “coloca as mulheres no centro de todas as histórias que criamos, celebramos e descobrimos.” (Whiterspoon vendeu a produtora em 2021 por aproximadamente 900 milhões de dólares para uma nova empresa apoiada pela firma de capital privado Blackstone Group). A empresa da produtora, roteirista e showrunner Shonda Rhimes, Shondaland, fez parceria em 2019 com a SeriesFest para lançar a Women Directing Mentorship, uma competição projetada para descobrir aspirantes a diretoras.

É uma área de jogo cada vez mais lotada. Embora a LuckyChap às vezes deva competir por projetos com outras empresas com ordens parecidas, “não parece uma competição prejudicial”, diz Robbie. “Eu ficaria emocionada se cada vez mais produtoras lideradas e incentivadas por mulheres abrissem as portas. Quanto mais melhor.”

Nos primeiros anos da indústria cinematográfica, as mulheres trabalhavam de forma regular como diretoras e produtoras. No começo do século XX, a diretora Alice Guy Blaché comandava seu próprio estúdio, Solax, e produzia três filmes por semana; Dorothy Arzner dirigiu aproximadamente 20 filmes entre 1927 e 1943. No entanto, assim que os filmes mostraram sinais de se tornarem lucrativos como um entretenimento de massa, a Wall Street notou, o sistema de estúdios surgiu e rapidamente fechou a indústria. As mulheres que eram diretoras e produtoras foram exiladas.

“Hollywood era um espaço aberto na época e uma nova indústria”, diz Stacy Smith, professora associada de comunicação na University of Southern California e fundadora da Annenberg Inclusion Initiative da faculdade. “Mas quando o dinheiro entra, as comunidades marginalizadas são colocadas para fora… Esse é um tema comum que vai até os dias atuais.”

Durante as décadas, com a mudança da indústria, algumas atrizes determinadas fundaram suas empresas ou atuaram como produtoras em uma tentativa de garantir o controle sobre suas carreiras. A atriz Mary Pickford fundou sua própria produtora em 1916 para criar melhores projetos e colaborações para si mesma e ajudou a fundar a United Artists em 1919 em parte para distribuir seus filmes. Depois de ser chamada de “repelente de bilheteria” em 1938, Katharine Hepburn conseguiu optar pelos direitos de Núpcias de Escândalo e usar como um veículo para seu retorno em seus próprios termos. O filme deu uma indicação ao Oscar para ela; Robbie o cita como um de seus favoritos.

Embora estimulantes, esses triunfos e outros que vieram depois também contradizem a luta histórica por igualdade de gênero da indústria. Apenas cinco mulheres ganharam um Oscar por Melhor Roteiro Original desde 1956, quando a Academia estabeleceu sua atual configuração das categorias de roteiro; apenas três mulheres ganharam Melhor Direção, de um total de oito indicações. (Jane Campion foi indicada duas vezes.) Mesmo com a atual proliferação de empresas dedicadas a estimular o talento feminino, Smith destaca que as estatísticas mostram que a desigualdade continua tenaz.

Hoje em dia, estúdios e produtoras estão considerando mais mulheres como diretoras e roteiristas, diz Robbie. “Mas é fácil colocar nomes de mulheres em uma lista”, diz ela. “É um obstáculo maior conseguir alguém que financie um projeto. Ainda temos um longo caminho a percorrer nesse sentido; vai levar muito mais tempo para corrigir esse percurso.”

Ela diz que ajuda quando um filme dirigido por uma mulher obtém bons números de bilheteria: “Como aconteceu com o primeiro filme da Mulher Maravilha [de 2017 dirigido por Patty Jenkins e estrelado por Gal Gadot], você conseguia ver quase na mesma semana como as conversas eram diferentes. Quando alguma coisa realmente funciona na bilheteria é quando você vê uma mudança positiva.” Por outro lado, ela continua, se um filme liderado por mulheres não vai bem, esse fracasso tem uma repercussão negativa. “Quando uma diretora perde, todos voltam para a mentalidade inicial”, diz Robbie. “Eles dizem: “Ah, viu, talvez não funcione mesmo.” E então temos que nos recuperar de novo.”

Smith concorda com a declaração e diz que existem dados que a apoiam. Financiamento para projetos liderados por mulheres permanecem “incrivelmente difíceis” e ela teme que a indústria possa estar recuando nos aumentos das tentativas de inclusão dos anos recentes. “Mas é claro que Margot Robbie está continuando”, diz Smith. “Ela vê a falta de inclusão e está fazendo escolhas que são influências contrárias ao que vemos muitos outros na indústria fazendo.”

Comandar a LuckyChap poderia dominar a vida de Robbie; ela diz que também gostaria de, talvez, dirigir algum dia. Mas por agora, ela diz que continua dedicada à atuação, o que começou a fazer aos 17 anos de idade. Nativa da Gold Coast da Austrália, onde foi criada por uma mãe solo e com três irmãos, ela tinha muitos empregos quando adolescente, incluindo o de fazer sanduíches no Subway. Quando Robbie decidiu que deveria entrar para o elenco da novela australiana Neighbours, ela entrou em contato com a diretora de elenco e disse o que desejava. Eles acabaram escalando-a para um papel regular. Três anos depois, ela colocou os olhos em Hollywood, mudando-se para Los Angeles e garantindo um papel na série da ABC, Pan Am, e chamando a atenção de Scorsese.

Desde então, ela continuou trabalhando com os maiores diretores da indústria enquanto defendia os novatos. Neste ano, ela fez parte do elenco grandioso de Amsterdam, filme de David O. Russell, e estrela ao lado de Brad Pitt e Diego Calva em Babilônia, escrito e dirigido por Damien Chazelle, que será lançado em breve.

Chazelle diz que ele abordou Robbie para interpretar o papel de Nellie LaRoy, uma estrela de Hollywood na década de 1920, quando ocorreu a mudança dos filmes mudos para os falados. Para o filme, Chazelle diz que criou um “clima sem barreiras, com nenhuma regra e muitos comportamentos extremos” e que o papel de LaRoy era “completamente animalesco.”

“Eu precisava de alguém… totalmente destemido. Tinha um pressentimento de que ela viria para o ataque”, diz ele. “Ela tem esse tipo de bravata física insaciável. Por outro lado, também é a atriz mais habilidosa tecnicamente com a qual você poderia trabalhar como um diretor.”

“Eu nunca trabalhei tanto na minha vida”, diz Robbie sobre seu papel em Babilônia. “Fiquei destruída no final desse trabalho.” Ela adiciona que muitas vezes usa animais para ajudá-la a entrar nos papéis. A Nellie, de Babilônia, precisou de dois: um polvo (“Ela podia ser tanto fluida quanto transformadora”) e um texugo do mel (“Ela está pronta para brigar, o tempo todo. Os dois são casca grossa”).

Na série de filmes de Robbie, de Eu, Tonya até a homicida Harley Quinn em Aves de Rapina e em Babilônia, o empenho físico exigido em alguns deles é impressionante. Sobre sua preferência por papéis exaustivos, ela diz: “Sou masoquista.” Não importa o quanto um papel seja esgotante, ela continua: “Sempre consigo encontrar uma quinta marcha.”

No ano que vem, a LuckyChap vai estrear Barbie, que Gerwig coescreveu com Noah Baumbach. Robbie interpreta o papel titular e Ryan Gosling estrela ao seu lado como Ken. “Ela é uma atriz que chega armada com todo o tipo de preparação e todo tipo de possibilidade explorada”, diz Gerwig. Mesmo que Robbie estivesse “completamente presente como produtora” em Barbie, Gerwig diz que ficou “impressionada com a habilidade dela de se entregar totalmente a ser atriz” ao mesmo tempo.

Para o papel da Barbie, Robbie diz que em vez de um animal, escolheu um arquétipo que parecia incorporar a personagem. Muitos escritores e atores escolhem entre os arquétipos clássicos quando criam um papel, como o guerreiro, o herói, o bobo da corte, entre outros. Para Robbie, Barbie era o arquétipo “da criança”. Ela não vai elaborar. O filme da Barbie está envolto em segredo. Revelações públicas até mesmo dos mínimos detalhes acabam “explodindo em manchetes”, diz Robbie.

Respondendo sobre por que o assunto da Barbie provoca reações imediatas e interesse, Robbie pensa bem para não revelar nada sobre o filme. O projeto tem certas coisas em comum com aquele que ajudou a começar a LuckyChap em primeiro lugar, ela diz: isto é, que as pessoas aparentemente possuem ideias preconcebidas sobre os dois assuntos que Robbie e a equipe da LuckyChap dizem que estão determinados a mudar.

“Por isso que Eu, Tonya nos intrigou tanto, porque as pessoas tinham uma reação tão imediata e forte ao nome Tonya Harding”, diz Robbie. “É um tanto incrível começar dessa forma.” Barbie também será incomum; McNamara diz que irá “subverter as expectativas.”

Fonte | Tradução: Equipe Margot Robbie Brasil