Margot Robbie é capa da primeira edição da década da V Magazine e escolheu Charlize Theron para entrevistá-la. As duas falam sobre a infância na Austrália, o começo da carreira e O Escândalo. Confira as fotos e a entrevista traduzida abaixo:

Não é de admirar que, para Margot Robbie e Charlize Theron, o fandom seja mútuo. As duas deixaram seus países de origem para se tornarem realeza em Hollywood, e recentemente estrelaram juntas em O Escândalo como âncoras batalhando contra o padrão sexista (ou pior que isso) no local de trabalho. Uma vez estereotipada como a “namorada interesseira,” a Robbie pré-fama poderia ter empatia com sua personagem fictícia, a produtora da Fox News Kayla Pospisil. Mas, é claro, a carreira de Robbie rapidamente ultrapassou as expectativas de qualquer pessoa (incluindo ela mesma), como os créditos da atriz e produtora continuam a provar. Seu próximo filme, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa será o maior filme de sua produtora LuckyChap até agora.

Margot Robbie: Charlize, obrigada por fazer isso! Quer compartilhar um picles? Eu geralmente não como muito picles, mas ultimamente tenho gostado deles…

Charlize Theron: Sim, eu quero compartilhar um picles com você! Como eu poderia dizer não?
MR: Eu acabei de aprender, tipo anos atrás, que picles são realmente pepinos.

CT: [Risos] Isso é incrível para mim. Minha filha acha que pepinos são picles. Ela chama pepinos de picles. Eu fico tipo, isso não é um picles… Falando nisso, vamos falar da sua infância. Eu imagino você fazendo pesca subaquática para o jantar em Gold Coast aos 12 anos.

MR: Literalmente, sim [risos] Então, na verdade eu tive uma experiência australiana rural. Quando eu era mais nova, nos mudamos para o interior, que faz parte da Gold Coast. Nós morávamos na área cultivada, então era definitivamente de acordo com uma certa imagem da Austrália. As pessoas nos Estados Unidos ficam tipo, ‘Tinha cangurus e coalas na janela do seu quarto?’ E eu digo, ‘Bem, sim, existiam, mas isso não é necessariamente uma coisa normal na Austrália!’ Eu acho que eu realmente tive todo o melhor da Austrália.

CT: Então, quando você descobriu os filmes?

MR: Nós tínhamos uma coleção limitada e eclética de fitas VHS, que eu assistia mais de cem vezes. Eu falava as frases na cozinha, e minha mãe ficava, ‘Como você lembra disso tudo? Está inventando?’ E mesmo assim, eu nunca disse que ia ser atriz. Eu acho que provavelmente foi uma coisa semelhante à quando você estava crescendo na África do Sul…

CT: Sim, é como falar sobre um unicórnio. Não existe.

MR: Sim, não é um trabalho de verdade. E mesmo depois que eu estava trabalhando 17 horas seguidas em Neighbours, minha família ficava, ‘Então… qual o seu plano? O que você vai fazer de trabalho e carreira?’

CT: Você precisou convencer seus pais? O que eles queriam que você fizesse?

MR: Eu não sei! Eu acho que o melhor cenário seria ir para a universidade.

CT: Cara, como eles estavam errados [risos]

MR: Eu nunca fui para a universidade! Mas eu fui para todas as festas de calouros das universidades dos meus amigos.

CT: Esperta! É a melhor parte! Então, qual foi o próximo passo depois de trabalhar em Neighbours?

MR: Para começar, eu fiquei tão feliz de não ter sido despedida. Mas depois disso, parecia haver apenas duas opções disponíveis: Uma, ficar em Neighbours; muitos dos meus colegas de elenco trabalharam lá por 30 anos e eu poderia ter uma vida muito confortável e legal fazendo isso. Mas eu sabia que eu não queria. A outra opção era me arriscar nos Estados Unidos. E eu tinha visto alguns colegas de elenco tentarem a sorte em Los Angeles. Então, eu passei os próximos três anos economizando e trabalhando na dicção, porque eu não conseguia fazer um sotaque americano por nada no mundo, e eu fui para a porta número dois.

CT: Uau… Quando você começou, você teve medo de ser estereotipada?

MR: Não foi até depois de O Lobo de Wall Street que muitos papéis semelhantes começaram a aparecer. Eu percebi que precisava fazer algo muito diferente para deixar as pessoas cientes de que eu não ia interpretar a esposa interesseira para sempre. E não é que eu não quero nunca mais interpretar uma esposa interesseira, eu me diverti muito interpretando a Naomi. Mas eu já exercitei esse músculo, já a tinha entendido. E eu queria ler um personagem e pensar, ‘Não faço ideia de como fazer isso.’ Eu sempre quero me sentir um pouco assustada quando escolho um papel e me desafiando de algum jeito. Mas, antes disso, eu só queria qualquer trabalho. Meu primeiro papel de verdade foi em uma série chamada Pan Am, e eu filmei por um ano em Nova York. Eu estava interpretando uma jovem muito doce e inocente vendo o mundo pela primeira vez e se divertindo muito. E talvez eu não fosse tão inocente quanto ela, mas definitivamente estava sentindo a mesma coisa; tipo, uau, o mundo é tão grande e incrível, e eu estou em Nova York, isso é tão louco… Na minha primeira vez em um set, eu queria saber o que todo mundo estava fazendo e por quê. Eu ficava perguntando para o diretor de fotografia, ‘Que lentes você está usando e por quê?’ Eventualmente ele comprou um livro pra mim e ficou tipo, ‘Leia isso, tem todas as respostas!’ Foi tão gentil, e eu ainda tenho o livro. Foi uma leitura interessante e respondia todas as minhas perguntas, então eu parei de perturbar ele…

CT: Talvez tenha sido isso, mas em que ponto você sentiu que queria produzir seus próprios filmes?

MR: É engraçado… Eu falei sobre isso com algumas outras atrizes. A fama é uma coisa estranha. Tem esse jeito de aparecer muito rápido, e eu me senti muito livre disso. Eu estava procurando por jeitos diferentes de tomar o controle da minha vida, de chegar onde eu queria chegar. Como produtora, você faz parte de tudo. E não somente no set, mas nos anos até chegar naquele ponto. Eu gosto de exercitar essa parte do meu cérebro mais experiente em negócios – mesmo fazendo aquela merda de incentivo fiscal.

CT: Quanto tempo levou para Eu, Tonya aparecer?

MR: Esse foi o segundo filme que produzimos na LuckyChap. Nós nos demos um manifesto para começar, e foi de contar histórias sobre mulheres e de trabalhar com o máximo de diretores de primeira e segunda viagem que pudéssemos.

CT: O que nesse projeto fez você dizer, ‘Preciso fazer isso’? Você sabia sobre ela?

MR: Não, eu nunca tinha ouvido o nome dela. E eu achava que era uma história fictícia. Tipo, okay, isso fica um pouco absurdo em algumas partes, as pessoas vão achar que estamos de brincadeira agora. Mas as partes mais absurdas eram realmente verdade.

CT: É tão interessante que você não sabia nada sobre ela. Para mim, ela é tipo o Elvis. E eu imagino, se o papel tivesse vindo para mim, que seria assim que eu iria olhar para ele. Eu acho que talvez essa seja a chave para o fato de que você tocou em um aspecto da personagem que não parecia sensacionalista. Você tocou na história emocional dessa mulher que estava lutando com muita coisa. E ela fez umas coisas terríveis, mas suas circunstâncias não eram boas.

MR: Sim! Foi perfeito que eu não sabia sobre isso porque eu não tinha noções pré concebidas. Como atriz, a primeira coisa é tentar entender o ponto de vista dela. Eu li falas como, ‘A Nancy apanha uma vez e o mundo inteiro surta. Comigo isso acontece todo dia.’ Eu lia isso e pensava, sim, eu concordo! Por que todo mundo é tão duro com você? Eu não entendo! Então eu fiquei muito feliz que eu não sabia nada. Ficou muito mais fácil de entendê-la.

CT: Você lembra da primeira vez que nos conhecemos?

MR: Sim! Em uma sessão de fotos, alguns anos atrás. Você estava praticamente nua.

CT: Tinha muita coisa acontecendo. “Ela está usando um lençol, tem uma criança pequena gritando e está elogiando uma atriz que ela quer trabalhar junto…” O quão estranho é que, três anos depois, eu te chamei para O Escândalo?

MR: Já que estamos nesse assunto… Por que você pensou em mim para esse papel? Nunca perguntei…

CT: Primeira, meu Deus, você é louca? Foi muito fácil, Margot Robbie. Mas segundamente, esse é um elenco de grupo; não tem muito tempo para você alongar sua personagem. Precisávamos de uma atriz que pudesse tocar em todas essas emoções de modo econômico e efetivo. E você fez isso inquestionavelmente. E desde o momento que você concordou em fazer o projeto, você ficou tão comprometida. Você estava fazendo com a gente. O que tornou isso tão claro pra você?

MR: Eu poderia repetir tudo o que você disse, porque foi muito fácil. A oportunidade de trabalhar com você… Eu secretamente só queria a oportunidade de te ver produzir. Tipo, eu não sei se estou fazendo isso certo – lidando com a produção, atuação e com a vida. Seria muito legal assistir outra pessoa fazer isso. Mas mais do que tudo, eu queria ser parte dessa história, e eu queria que as pessoas tivessem a experiência da Kayla, que, como você vê em uma cena, é muito difícil de definir. Ele abusa dela sem nem mesmo levantar de sua cadeira. Eu achei que isso era algo que as pessoas precisavam ver.

CT: Margot. Eu te amo.

MR: Eu também te amo. Você é uma ótima repórter.

CT: Quanto vão me pagar por isso?

MR: Você vai ganhar uma jarra de picles.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil