Margot é capa da edição de outono da revista Wonderland e abaixo vocês podem conferir a entrevista traduzida, onde ela fala sobre Goodbye Christopher Robin e I, Tonya e mais:

Margot Robbie pode ser o tesouro nacional da Austrália e a mais famosa entre os ex-Neighbours (desculpa Kylie). A atriz e produtora não parou desde sua estreia no papel oposto a Leonardo Dicaprio em O Lobo de Wall Street. Naquela época, Robbie surgiu na consciência do público no papel de Naomi Lapaglia, a “loira mais gostosa do mundo”, pronunciando a fala imortal: “A mamãe está tão cansada de usar calcinhas”. Agora, com 27 anos recém completados, recém casada e com quatro filmes estreando esse ano, Robbie está em seu auge. Não foi uma partida fácil, apesar disso.

Em julho do ano passado, Vanity Fair publicou um artigo do jornalista Rich Cohen. Era uma entrevista com Robbie, a estrela de sua edição de agosto, acompanhado de uma sessão de fotos que parecia acentuar os paralelos já estabilizados entre a atriz e os mulherões de Hollywood do ano passado (biquínis brancos, chapéus grandes e piscinas marcando forte presença). As palavras de Cohen foram bastante antiquadas.

“Ela tem 26 anos e linda, não de um jeito de outro mundo ou de passarela, mas como uma dança lenta,” escreveu Cohen. “Ela é alta, mas somente com a ajuda de certos sapatos. Ela pode ser sexy e serena quando está nua mas somente em personagem.”

A dissecação de Cohen sobre a aparência de Robbie e achismos sinistros de como Robbie pode ser quando está nua, ou em particular, não passou despercebido pelos leitores. O público protestou contra o ocorrido – o artigo foi ridicularizado como “assustador” e “sexista” – e serviu como uma forte indicação de o quão amada Robbie é por seu público. Enquanto ela permaneceu calada, sua fã base felizmente protestou por ela (“Não mexa com os australianos”, ela respondeu bondosamente mais tarde).

É claro que Robbie é linda em um nível conto de fadas, mas em Hollywood a beleza é normal: é todo o resto sobre Robbie que é interessante. Até recentemente, a nativa de Gold Coast estava vivendo em um apartamento que ela compartilhava com seu marido Tom Ackerley e amigos de escola em Clapham. Era da distância de um passo de seu lugar preferido para se divertir – o famoso clube com carpete grudento Infernos. Ela come hambúrgueres, já bateu em Leonardo Dicaprio durante sua audição para O Lobo de Wall Street e usa sua conta no Instagram para zombar com os paparazzi que vivem seguindo seus rastros.

Ela não fala muito seriamente sobre sucos detox em entrevistas e está aberta para falar sobre o quanto gosta de seu marido, quem ela conheceu no set de Suite Francesa em 2013, o descrevendo para a Vogue como “o cara mais bonito de Londres. É a sua habilidade de ainda ser como “uma de nós” – livre de todas as aflições das arrogâncias e paranoia que constantemente belisca os dedos do pé dos novatos acolhidos nas asas de grandes estúdios – que a faz ser a atriz mais encantadora de Hollywood atualmente.

Antes da hora, eu recebo uma ligação. “Hey Nellie, é a Margot.” Eu congelo – ela saiu totalmente do código formal de ligação. Sua equipe entraria em contato comigo por email. Após se desculpar profundamente por ser domingo, ela explica que eu sou uma das muitas ligações que ela está fazendo hoje entre as filmagens de Mary Queen of Scots, onde ela está interpretando Elizabeth I para a Mary I de Saoirse Ronan. “Eu acabei de sair de uma ligação com a minha família em Oz,” ela diz.

“Tem sempre uma hora do dia onde eu vou estar ligando para o meu marido nos Estados Unidos, minha família na Austrália ou meus amigos aqui em Londres. Outro dia foi meu aniversário de 10 anos de colégio e todos os meus amigos em Oz fizeram FaceTime comigo durante a festa. Isso me deixou com saudades da escola! Eu constantemente checo o horário mundial no meu celular e penso ‘OK, quem está acordado agora? Quem eu posso ligar?”

Robbie é extremamente orgulhosa de sua mãe fisioterapeuta. “Foi uma infância incrível. Ela é a Superwoman. Agora que sou mais velha, eu penso, ‘Como você criou quatro filhos sozinha enquanto trabalhava seis dias por semana?'” A infância de Robbie foi mais difícil e instável do que mãos de jazz. “Atuação não era um sonho que alguém que vivia em Gold Coast e não conhecia ninguém da indústria do cinema costumava brincar.” Mas aos 17 anos, após alguns papéis em filmes independentes, Robbie fez um teste para interpretar a enérgica Donna Freedman. “Eu fiquei tipo, ‘Eu estou em Neighbours?'” Ela solta uma gargalhada. “Eu vou estar na TV e alguém vai me pagar para fazer isso?” Robbie dá uma rara pausa para respirar. “Aos 18 anos, as pessoas vinham até mim e ficavam, ‘Você é aquela menina de Neighbours! Você tem seis casas ou algo do tipo?’ Na realidade, eu estava morando em um apartamento minúsculo com uma geladeira e um colchão no chão.”

Robbie imensamente dá os créditos de seu sucesso para sua família e amigos. Sophia Kerr, a assistente pessoal de Robbie, também é sua melhor amiga, e Margot me garante que onde ela vai, ela leva seu coelho de pelúcia. “Um dos momentos raros que eu ficava sozinha com a minha mãe quando eu era criança, era na hora de dormir, com meu Ursinho Pooh e Tigrão. Ela fazia todas as vozes e eu achava a coisa mais engraçada do mundo.” Robbie explica que isso foi parte do que a atraiu para seu novo filme, Goodbye Christopher Robin, uma história sobre como A. A. Milne foi inspirado por seu próprio filho quando escreveu os contos de Pooh. Robbie entra graciosamente no personagem de Daphne, a esposa problemática e frívola de Milne, com sotaque sofisticado incluído. “Daphne não é agradável, mas ela é real.” Robbie nivela. “Eu pesquisei muito sobre as mulheres que ficavam em casa durante as duas guerras e eu li algo que falava ‘movimento constante diante do horror’, e é por isso que a fiz tão agitada. Daphne não é uma vilã. Ela é complexa, e às vezes faz escolhas ruins como mãe, mas eu abracei o desafio de evocar algum tipo de empatia por ela.”

O próximo papel de Robbie como a desonrada patinadora Tonya Harding pode ser o seu maior passo contra a simpatia constantemente atribuída a ela. O filme, dirigido por Craig Gillespie, é a história real de como o marido de Harding, Jeff Gillooly, quem famosamente contratou um capanga que fez uma tentativa falha de quebrar as pernas da maior rival de sua esposa, Nancy Kerrigan, durante as Olimpíadas de Inverno de 1994. Nancy ainda ganhou prata, e a envergonhada Harding ficou em oitavo lugar. Prévias de I, Tonya que circulam pela internet sugerem tons de Channing Tatum em Foxcatcher, onde o vimos fazer a transição de atleta para grande peso no filme independente. I, Tonya parece ser transformador para Robbie, provando mais uma vez que ela é maior do que o papel de “namorada”.

Robbie também atua como produtora no filme, por meio da Lucky Chap Entertainment, que ela fundou com seu marido e os amigos Josey McNamara e Kerr, mencionada anteriormente. Isso torna seu investimento no filme pessoal e financeiro; ela até pulou sua lua de mel para filmar. No set, “Tom e eu estávamos congelando, olhando um para o outro tipo, ‘oh meu Deus, algumas semanas atrás estávamos casando no sol da Austrália'”, ela lembra.

Então, por que passar por isso? “Eu li o roteiro e eu pensei que era genial. Eu também pensei que era ficção. Quando eu descobri que era uma história real, eu sabia que seria grande.” A voz de Robbie sobe uma oitava: seu ânimo sobre esse filme sendo óbvio. “Nós pensamos muito sobre acertar o tom para esse filme, e quando Craig Gillespie entrou como diretor, tudo ficou certo. Não havia ninguém melhor para o trabalho.” Enquanto entendemos que Robbie, que tinha quatro anos na época de escândalo de Tonya Harding, não reconheceu a história bizarra, o frenesi depois disso será algo que gerações mais velhas irão lembrar para sempre. Harding era seguida dia e noite durante os jogos; seus treinos em Portland eram vistos por vários espectadores, repórteres e equipes de filmagem. Uma velha imagem de uma sorridente Tonya ao lado de Nancy até foi parar na capa da revista TIME, que tinha a seguinte manchete: “Folia no Gelo: A Estranha Conspiração para Aleijar Nancy Kerrigan.”

Enquanto Gillooly cumpriu pena, Tonya foi declarada culpada como conspiradora do ataque e serviu três anos de condicional, 500 horas de serviço comunitário e fiança de 160 mil dólares. Uma autobiografia foi publicada em 2008 e, posteriormente, o casal vendeu um vídeo caseiro para a Penthouse. A história é tão estranha quanto trágica e cativante, e é prova da confiança de Robbie como produtora para fazer um projeto com uma posição tão fora do comum. Ela me diz que não se incomoda se a bilheteria for boa ou ruim, e que sua dedicação para o papel nunca vacilou, apesar do desafio de ir para uma pista de patinação gelada e dura toda manhã.

“Sarah Kawahara, que trabalhou com Nancy Kerrigan de verdade, estava me treinando. Antes disso, eu pensei que eu não era tão ruim na patinação – eu costumava jogar hockey no gelo. Em breve eu descobri que eu não estaria apenas correndo no gelo, e que não havia enchimento. Meu despertador tocava às 5:30 da manhã e eu queria chorar. Algumas vezes depois do treino eu voltava para o carro e chorava.”

Apesar disso, as roupas dos anos 80 provocaram um alívio. “Acontece que jeans de mãe e presilha de cabelo são muito confortáveis,” ela diz, também notando uma mudança no guarda roupa. “Quando eu estava interpretando a Naomi em O Lobo de Wall Street, tudo era muito sexy. Eu sabia de uma frase no roteiro que dizia que ela era ‘a loira mais gostosa do mundo’.” ela suspira. “Eu claramente não sou a loira mais gostosa do mundo.” Robbie fica séria por um momento. “Eu fiquei apavorada que as pessoas iam ver o filme e pensar ‘Eca! Ela não é tudo isso!’ Para I, Tonya, quanto mais feia eu ficava, mais as pessoas ficavam felizes. Ironicamente, Tonya não era feia, ela só estava danificada por essa história. Como Daphne, Tonya, certa ou errada, é humana.”

Seguindo seu papel como Tonya Harding, 2018 também será o ano que veremos Robbie ficar feia para Elizabeth I. Fotos de Margot nos bastidores sugerem que o departamento de figurino foi mais longe para conseguir autenticidade em Mary Queen of Scots do que qualquer outro filme dramático histórico. A peruca cacheada e ruiva de Robbie revela um couro cabeludo com entradas e careca. Ela também usa um nariz falso encaroçado. Para aqueles que só conseguem pensar que o talento e versatilidade de Margot como um pêndulo entre Naomi e Harley Quinn, no filme de grande bilheteria Suicide Squad, parece que ano que vem será a reavaliação de Robbie.

Nós falamos sobre como o foco é posto constantemente na aparência de suas personagens. “Me deixa frustrada quando eu trabalho tanto para construir os personagens, criando experiências de infância para eles que afetam o jeito que eles agem como adultos. Toda a leitura, todas as aulas de atuação, e então quando alguém critica o filme ou entrevista você, tudo o que eles focam é na estética. Você pensa, ‘Vai se f*der. Você tirou totalmente o crédito do trabalho que eu fiz e isso não é justo.”

Agora 10 anos em sua carreira de atriz, eu tenho a impressão de que uma balança entre privacidade e normalidade é algo que Robbie está tentando achar. Ela baniu celulares de seu casamento (“Foi a melhor decisão do mundo.”) e ainda consegue aproveitar sidras no parque apesar dos paparazzi. “Ontem eu fui visitar um amigo no hospital. Eu pego o metrô sozinha toda vez, e sim, talvez alguém percebe e tira uma foto quando não estou olhando e depois eu acho na internet e é estranho, mas eu prefiro ter esse momento e ainda ter pego o metrô naquele dia.”

Talvez seja por isso que Robbie está aproveitando o escapismo de entrar em tantos papéis inesperados. A anti matriarca Daphne, a excluída socialmente Tonya e a Elizabeth I de nariz curvado e marcado por sinais – seus papéis estão se tornando cada vez mais diversos. Talvez seja parte da razão pela qual a atriz está produzindo também. Eu a pergunto sobre onde ela quer estar em 10 anos, e ela não perde tempo: “Dirigindo, produzindo e vivendo em uma casa na árvore.”

É fácil ficar fascinado pela beleza de Robbie, como Cohen claramente ficou, mas por trás de toda a beleza, parece que ela está passando por uma transformação mais profunda – de atriz para produtora com uma busca séria por arte. Ela muda de forma tanto na tela quanto fora. Uma estrela de Hollywood, produtora, verdadeira humana, que vai para casa, troca essa pele, amarra o cabelo com um prendedor e, como o resto de nós, veste o moletom.

Fonte: @margotrobbve | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil