Margot Robbie é capa da edição de inverno da Porter Magazine, onde divulga seu novo filme Mary Queen of Scots. Na entrevista, ela fala sobre diversos assuntos, incluindo seus projetos, casamento e o movimento #MeToo, além do próprio filme onde interpreta a Rainha Elizabeth I. Confira:

Desde o momento em que Margot Robbie entrou no République, em South La Brea em Los Angeles, passando pela multidão matinal como uma bala loira, fica claro quem tem autoridade. Talvez seja sua idade, uma millennial de 28 anos. Mas há mais. As mensagens que recebo de sua equipe perguntando minha aparência, o que estou vestido, onde estou sentada, se está tudo bem esperar alguns minutos mais do que o combinado, junto com suas imediatas desculpas pelo atraso, mesmo quando ela senta, e então se desculpa novamente e diz que se sente horrível e não me perguntará nada – como se fosse uma conversa normal como dois seres humanos normais – é incomum. A atenção se volta para você, o jornalista, ao invés de Robbie, a estrela, e em Hollywood, isso é tão raro quanto estrume de cavalo.

Robbie come meu café da manhã. Tudo bem, eu digo que ela pode. Eu pedi para retirar o dela no balcão quando ela chegasse (estamos no fundo de um espaço muito grande, como foi pedido por sua equipe, onde costumava ser o estúdio de Charlie Chaplin, e não tem garçom), mas porque ela é uma millennial, ela pode ouvir meus pensamentos e dizer absolutamente não. E porque eu não sou uma millennial, eu imediatamente empurro meu prato de rabanada de ricota com pêssego, romã e nozes tostadas, para ela. Come o meu, eu digo. Eu gosto que ela está comendo meu café da manhã. Muitas atrizes não fariam isso.

Há algo muito doce e cativante sobre Robbie – o jeito como seu comportamento muda de ‘Margot séria’ quando a minha pergunta começa; como ela senta mais ereta e olha nos meus olhos ansiosamente. ”Você está aqui para fazer o seu trabalho,” ela diz, ”e eu respeito isso”. Ela também é naturalmente trabalhadora. Quando ela estava crescendo em Gold Coast, Austrália, a jovem Robbie, como crianças pelo mundo, vendia limonada na rua com seus amigos. Ao contrário de muitas crianças, ela era intensa sobre seu preço. Quando eu pergunto como sua mãe a descreveria, ela diz ”determinada”. Eu também adicionaria, ridiculamente bonita. Mas falar isso não descreve totalmente alguém que também escorre classe. Não há nada específico – ela está usando uma jardineira larga, blusa branca e chinelo de seda, ao redor de seu pescoço estão duas gargantilhas de ouro fino, e brincos de argola torcidos – ela só possui aquele “quê” indefinível e que não se pode comprar.

Deixando de lado a aparência, poucos iriam discordar que ela é uma atriz excepcional, que cada vez mais surpreende com suas escolhas de papéis – sua interpretação cômica e irônica da patinadora americana Tonya Harding em I, Tonya (que ela também produziu) resultou em indicações de Melhor Atriz no Oscar, Golden Globe e BAFTA. E ela surpreende novamente com seu novo filme, Mary Queen of Scots, onde ela interpreta a inicialmente pensativa mas cada vez mais dura e inflexível Rainha Elizabeth I, ao lado da suave e mais rebelde Mary de Saoirse Ronan. Como em I, Tonya, sua personagem em MQOS é feia ao ponto de enfurecer aqueles espectadores que ainda não se recuperaram daquela cena em O Lobo de Wall Street, onde, sentada no chão de um quarto de criança com suas pernas um pouco afastadas, ela provoca Leonardo DiCaprio com as palavras: ”A mamãe está tão cansada de usar calcinhas.”

Transformações para papéis são um território conhecido para atrizes sérias que as usam como uma distração para sua beleza, mas também para destacar seus talentos. Os críticos caem por elas, as bilheterias nem tanto, e isso, às vezes, afasta as atrizes de seu propósito. Não Robbie, que inerentemente entende que se está tudo bem se transformar em alguém que não seja você, que seja em um filme onde todos irão amar. E MQOS é isso, com uma releitura de uma história onde as duas personagens principais são mulheres, e onde parece moderno e poderoso, mas também docemente envolvente. É presumidamente o motivo pelo qual ela mergulhou na chance de interpretar Elizabeth I, apesar de dizer que o pensamento de pegar um papel assim inicialmente a deixou surpreendentemente nervosa. ”Ela [Elizabeth I] é uma figura incrivelmente histórica e icônica. Ela foi interpretada por algumas das melhores atrizes do mundo, incluindo Cate Blanchett e Dame Judi Dench. Quem sou eu para pensar que posso me juntar a esse legado? Então, inicialmente eu pensei, ‘Sem chances, de jeito nenhum’. Eu não achava que eu conseguiria.” Ela pausa, e ri. ”O filme não foi lançado ainda, então isso ainda vai ser determinado…”

Uma das coisas que a atraiu foi trabalhar com Saoirse Ronan. As duas se conheceram em um jantar na casa de Richard Curtis, e imediatamente se deram bem. ”Eu lembro de pensar que ela tão legal. E inteligente, determinada e divertida. Eu tive uma queda enorme por ela daquele momento em diante.” A dupla só se encontra nas telas no final do filme, já que elas comandam cortes diferentes. A pessoa que mais tem cenas com Elizabeth é seu amante, Robert Dudley, interpretado por Joe Alwyn. Eu digo a ela que só percebi mais tarde que ele era namorado da Taylor Swift. ”Eu sei,” ela diz, ”eu não sabia que eles estavam juntos, também.” Nós duas concordamos que ele é muito bonito.

Ela está atualmente trabalhando no altamente aguardado Once Upon a Time in Hollywood de Quentin Tarantino – agendado para estrear em julho de 2019 – onde ela interpreta Sharon Tate (a esposa de Roman Polanski que foi assassinada pela Família Manson), e também estrela Leonardo DiCaprio e Brad Pitt. Nada mal. “Sim, mas quase não estou no set com eles, ela diz, revelando menos do que eu esperava. Sobre Tarantino, ela não pode dizer o bastante. “É um objetivo de vida,” ela diz. “Quando eu me reuni primeiramente com minha equipe americana, eles me perguntaram o que eu queria da minha carreira, e eu disse: ‘Uma miragem? Tarantino.’ Todo mundo me pergunta como é o trabalho, como ele é no set, e eu estive em sets por bastante tempo durante os últimos dez anos e eu ainda entro e penso, ‘Isso é tããããããão legaaaaal! Olha isso! Incrível! Meu Deus!’ Sou como uma criança em uma loja de doces, e então o Tarantino entra e tem o mesmo, se não mais, entusiasmo e ele fica muito animado. É o set dele e ele não está saturado de jeito nenhum – ele fica muito feliz de estar lá.”

Uma das primeiras coisas que ela perguntou ao diretor de Pulp Fiction e Kill Bill foi se ela precisaria usar seios falsos. “Eu sou muito achatada,” ela diz, apontando para baixo, “e Sharon Tate não era. Então, eu perguntei ao Tarantino: ‘Alguma situação com seios falsos?’ e ele disse, ‘Não, isso não muda o personagem.'” Ela entrou em contato com o Polanski para falar sobre sua mulher? “Não, não entrei, mas ele escreveu um livro e tem muitos detalhes lá, então não precisei.”

É justo dizer que sua ascensão desde que chegou em Los Angeles para a temporada de pilotos em 2011 foi rápida. Com 20 anos na época, ela tinha completado três anos na novela australiana Neighbours, e estava esperando por um papel no reboot para a televisão de As Panteras, mas ao invés disso, ela foi contratada para Pan Am, ao lado de Christina Ricci. Papéis pequenos seguiram em Questão de Tempo de Richard Curtis e uma adaptação do livro de Irène Némirovsky, Suíte Francesa. Mas foi em O Lobo de Wall Street de Martin Scorsese que tudo mudou. Desde então, os papéis continuaram chegando: A Lenda de Tarzan, Esquadrão Suicida, Adeus Christopher Robin, uma participação como ela mesma em A Grande Aposta, e a grande consagração, apresentadora do início da temporada do Saturday Night Live, ao lado de The Weekend.

Podemos imaginar o que Hollywood fez da jovem australiana quando ela apareceu com seu plano-negócio. Ela diz que agradece ao seu agente australiano por prepará-la bem. Talvez, mas o que também acertou não foi só sua ambição, ou a conclusão antecipada de seu sucesso, mas uma auto consciência inata de quem ela é, o que ela quer e o que ela vai fazer sobre isso. É uma coisa que ela garante que sua equipe se lembre em suas reuniões semestrais, o que gira em torno de seu mantra: Qualidade, Variedade e Longevidade. “Nós perguntamos: ‘Estamos indo de encontro a isso, ou estamos começando a desviar um pouco?’ E algumas vezes estamos, então é bom ter essas conversas, para corrigir o curso, checar e ficar ‘OK, legal, vamos voltar aos trilhos.'”

É tentador, ao pé da letra, colocá-la no papel de outra narcisista ambiciosa, mas se não tivesse sido interpretada com realeza, eu diria que não teria sido Robbie de nenhuma maneira. Claro, ela é uma boa atriz, mas ela também tem boas maneiras, é uma pessoa focada que quer uma carreira decente, alguém para quem o dinheiro não é o melhor e maior. Ela também é rápida ao rir de si mesma. “Eu digo finja até você conseguir, porque todo mundo está fingindo saber o que estão fazendo e quase ninguém sabe.” Ela pausa e sorri. “É segunda feira de manhã e estou aqui falando palavras de sabedoria.”

Ela é confortável em sua própria pele, o que fala bastante sobre o que ela tem a dizer sobre sua infância muito feliz com seus três irmãos em Gold Coast. Quando seus pais se divorciaram quando ela era jovem, a família viveu com a mãe fisioterapeuta perto do mar. Ela reclama daqueles que tentam pintá-la como uma menina do interior que surgiu do nada. “Eu tive a melhor criação,” ela diz. “Eu sei que eu posso viver com pouco dinheiro. Eu sei como fazer isso. Eu já fiz, e não tenho medo.”

Parece que essa criação também fez bem para seus relacionamentos com homens e mulheres. Sua vida amorosa sempre foi frustrante para os tablóides porque ela sempre tem truques. Sua decisão de casar com o britânico Tom Ackerley aos 26 anos pareceu inesperada para uma atriz em ascensão. “Eu sempre pensei ‘Urrgghhh, casamento parece um tédio.’ Eu pensei em morder a isca no final dos meus trinta anos e ver como fica.” Mas então ela conheceu Ackerley no set de Suíte Francesa. Ele era o terceiro assistente de direção, e ela era a terceira em um elenco com Michelle Williams e Kristin Scott-Thomas. Ao invés de ficar com as estrelas, ela ficava com a equipe no set. Eles se deram tão bem que a convidaram para morar na casa que eles compartilhavam em Clapham, um subúrbio em Londres. Após um ano, ela e Ackerley confessaram para seus amigos que eles estavam secretamente namorando. Isso deixou o ambiente relaxado da casa chateado. Ela brinca que uma guerra quase começou mas logo acalmou, e ao invés de se mudaram, o casal ficou na casa. Eles finalmente moram sozinhos em Los Angeles, quando se mudaram dois anos atrás.

O casal abriu sua própria produtora, LuckyChap Entertainment, com dois de seus colegas de quarto de Londres. I, Tonya e Terminal foram ambos produzidos por Ackerley. “Eu sou uma ótima defensora de fazer negócios com seu parceiro,” ela di. “Estar casada na verdade é a coisa mais divertida do mundo, a vida ficou mais legal de algum jeito. Eu tenho a responsabilidade de ser esposa de alguém, eu quero ser melhor.” Eles operam com uma regra de três semanas quando estão separados. “Mesmo quando temos que ir para um país no meio de onde estamos por uma noite, fazemos isso e então voltamos a trabalhar no próximo dia. E nos falamos o dia inteiro, todo dia no telefone.”

Quando o assunto inevitável de bebês aparece, sua resposta é imediata e sem dúvidas. “Não! Definitivamente não,” ela diz, rindo. E quanto a Ackerley, ele sente o mesmo? “Três dias atrás, meu marido parou em um abrigo de animais no caminho de volta do aeroporto, e agora nós temos um filhote de pit-bull,” ela diz. “Nós já temos um cachorro de dois anos que ainda age como um filhote. Eu o amo, mas ele dá trabalho, e eu não durmo por três dias. Eu digo ‘Vamos cuidar dela por uma semana’, e meu marido diz, ‘Não! Vamos ficar com ela’. E eu digo, ‘Nós absolutamente não podemos e se serve de algo, você está agora colocando na minha mente que nós não podemos ter filhos. Eu não aguento dois filhotes, imagina crianças!'” Ela deve tomar cuidado, eu aviso, sempre começa com um animal de estimação. Ela pausa e olha para o teto. “Se eu estou falando do meu futuro daqui a 30 anos, eu quero ver um grande jantar de Natal com muitas crianças,” ela diz. “Mas definitivamente não agora. Isso é 100 por cento certeza.”

Sua conversa é recheada de menções para suas amigas: australianas que estudaram com ela desde que ela tinha cinco anos; sua gangue de Londres, que também inclui meninos (“Na mesma hora em que chegamos, todos vão para o pub, as pessoas saem do trabalho na hora que podem. Nós até tiramos férias em grupo.”); e um grupo em Nova York, também. E fala isso com segurança emocional. “Eu posso te mostrar meu celular,” ela diz, pegando-o. “Me dá nervoso, eu tenho 80 e tantas mensagens não lidas, 500 WhatsApps e 300 emails…” Amigas próximas incluem duas irmãs britânicas, Poppy e Cara, ambas atrizes. Ela foi ao Glastonbury com a última, quem ela conheceu no set de Esquadrão Suicida. “Eu sou a pessoa mais entediante do mundo comparada a essas duas,” diz Robbie. “Cara diria, ‘Eu vou para essa luta na lama hoje.’ E eu fico, ‘Eu tenho uma reunião às 7 da manhã, não posso ir para uma luta na lama – é quarta feira!’ Falar sobre elas me dá muita saudade. Vou ligar para a Cara logo após essa entrevista.”

Fama é, claro, sua vida agora. Eu suspeito que ela escolheu me encontrar em um restaurante menos óbvio de propósito, ao invés de algum lugar mais público. “É uma coisa estranha, não tem outra forma de colocar.” Ela diz que há partes boas e ruins, mas que ela está constantemente se adaptando porque ela ama o nível que a fama muda constantemente. “Sua relevância na conversa atual muda; algumas vezes você está na cara das pessoas, outras não. Há momentos em que você vai sentir esquentar, mas vai esfriar um pouco e você vai poder respirar, então vai surgir do nada e te pegar de surpresa. Então você está na ponta dos pés tentando manter a cabeça acima da água, eu acho.” Ela diz que quando está na Austrália, sente a responsabilidade de parar para selfies e conversas. “Eu sei o que significa para eles. ‘Oh, eu vi uma pessoa do lugar onde eu cresci, e agora ela conseguiu sair e fazer isso e parece possível para mim também.’ E é especial.”

Mas e quando ela não tem controle da situação, quando ela não sente que é seu dever parar para cada foto? Como ela lida com isso? “Eu odeio quando as pessoas tiram fotos sem pedir, é o sentimento mais nojento e acontece o tempo todo. Todo mundo tem um celular com uma câmera com eles em todos os segundos do dia em todas as partes do mundo.” Presumidamente, ela agora sente que precisa estar pronta para as câmeras todo o tempo. Ela discorda. “Minha visão é que, para algumas pessoas, é parte do trabalho delas ter uma certa aparência. Eu já estive em hotéis onde eu esbarrei em alguém na manhã seguinte de uma premiação e ela estava arrumada – maquiagem completa, roupa perfeita. É o trabalho delas.” E qual a dela? “Eu quero que as pessoas me vejam como uma atriz. Não sou modelo.”

Talvez não, mas ela está regularmente em capas de revistas e é considerada uma das atrizes mais bem vestidas do mundo. Ela é o rosto do perfume da Calvin Klein, Deep Euphoria, e a Chanel a anunciou como embaixadora da grife no começo do ano. Seu look hoje – seu corte de cabelo no queixo em ondas, sua maquiagem discreta – seria perfeito para os fotógrafos de estilo de rua. Ela gosta de moda? “Não muito. Eu aprecio como uma forma de arte, mas não é minha paixão.” Ela se arruma para o tapete vermelho com a ajuda de sua estilista Kate Young, que também arruma Sienna Miller e Natalie Portman. Mas similar ao jeito de escolher papéis, ela comanda o navio. “Eu deixo eles fazerem o trabalho deles e então eu tomo a decisão. Eu digo, ‘Eu quero essa vibe e quero dar essa impressão. Agora, eu vou ouvir vocês em como podemos alcançar isso.”

Deve ser complicado avaliar o que as pessoas pensam de você – profissionalmente e pessoalmente – em uma conversa e rodeada de pessoas que são pagas para dizer sim. “Você tem que se calcular,” ela diz, concordando. “Mas eu não se eu me sujeitaria a me tornar um monstro completo.” Ela viu diferença em sua personalidade desde que ela se tornou mais famosa? Ela é mais mimada, sente mais raiva, dá piti? “A diferença é que eu não gosto de como a fama me tornou cínica,” ela fiz. “E isso me chateia porque eu sempre fui otimista. Sempre. Mas a cada ano que passa, isso diminui.” Ela consegue definir sobre o que é cínica? “A intenção das pessoas,” ela responde. “E isso é triste. Eu não sei como não fazer isso porque é algo que você não pode controlar. Cada vez que alguém faz algo legal, tem uma voz na minha cabeça que se pergunta, ‘Eles estão sendo legais comigo porque gostam de mim ou estão sendo legais porque querem algo de mim?’ Não importa se é um membro da família ou um completo estranho, essa voz na minha cabeça está sempre lá e eu odeio muito essa voz que questiona as boas intenções das pessoas. Mas eu prefiro me ferrar e ainda ter uma visão positiva do mundo do que ser cínica, afastada, uma pessoa negativa que nunca se ferra. Eu preferiria me ferrar 10 mil vezes e ainda acreditar no melhor das pessoas. Então, alguns anos atrás eu parei e diz para mim mesma, ‘Sim, você vai se ferrar, você vai se magoar, pessoas irão se aproveitar de você. Mas, pelo bem da sua felicidade e sanidade, suponha o melhor das pessoas.'” É um jeito de olhar para a vida excepcionalmente maduro e emocionalmente inteligente. Eu percebo, não pela primeira vez em nossa conversa, o quanto ela é diferente de tantos na indústria.

No que diz respeito à crítica profissional, ela diz que lê críticas online mas evita sites de fofoca. O que ela achar que a indústria pensa sobre seu trabalho? “Eu geralmente penso sobre isso,” ela diz. “Você sabe quando você está com amigos e fica, ‘Ok, que filme vamos assistir?’ E então alguém fala um filme e todo mundo diz, ‘Err, não, eu não suporto aqueles isso e aquilo na tela, eu quero me matar, eles são horríveis!’ Eu me pergunto se muitas pessoas por aí pensam, ‘Eu não consigo assistir esse filme… Eu odeio aquela Margot Robbie.’ Então, sim, eu me pergunto como eu irrito as pessoas, ou se eu faço uma entrevista e eles ficam, ‘Urggghhh, ela é tão isso ou aquilo.'”

É claro, só há um tópico em Hollywood no momento. Ela já sofreu assédio sexual? “Sim! Ela responde imediatamente. “Mas não em Hollywood. Eu tenho dificuldade em achar mulheres que não tenham sofrido assédio sexual de algum nível. Então, sim, muitas vezes. E em níveis variados de seriedade ao longo da minha vida.” Sua mãe passava para ela artigos sobre os perigos de viajar antes que ela partisse com seus amigos. “Ela dizia para mim, ‘Tchau, querida, tenha uma ótima viagem – e aqui está um artigo que pode ser útil para você, sobre como não ser estuprada.’ Eu ficava tipo, ‘Obrigada, mãe, bon voyage!'” Mas, um ano depois, ela acha que as coisas mudaram para melhor? “Definitivamente, sim.” Como? “Em termos de como as pessoas veem isso como um problema em que podem dizer não. Ou até mesmo chamar de problema. Eu já disse isso antes, mas eu não sabia o que constituía como assédio sexual antes do movimento #MeToo. Estou no final dos meus vinte anos, sou educada, alfabetizada, já viajei, tenho meu próprio negócio, e eu não sabia. Isso é insano.” Certamente ela estava ciente que o limite estava sendo ultrapassado. Mas ela está fazendo a distinção, eu acho, entre intimidação e assédio sexual físico. “Eu não sabia que você podia dizer ‘Eu fui abusada sexualmente’, sem alguém te tocar fisicamente, que você podia dizer ‘Isso não está OK.’ Eu não fazia ideia. Eu sei agora porque pesquisei sobre o que é assédio sexual ilegal como ter conotações negativas para o seu trabalho e como você é paga.” Mas mais do que isso ela não irá dizer.

No dia em que nos encontramos, a notícia de que Robbie está em negociações para o filme da Barbie estouram. Sério? “Oh, sim, isso,” ela diz. “Isso não era para ser anunciado. Ainda estamos organizando, mas espero que tudo dê certo.” E se ela tivesse que dizer algo? “Seria algo entediante tipo, ‘Estou animada sobre essa parceria em potencial com a Mattel.'” Eu me pergunto onde esse projeto se encaixa em seu mantra. Parece uma escolha estranha, mas novamente, ela não é burra, então ou está fazendo por razões comerciais, ou talvez ela ame a ideia de ser a Barbie.

Antes de ir embora, pergunto a ela sobre filmar aquela cena em O Lobo de Wall Street. Ela ri. “Não parece quando você está vendo o filme, mas na realidade, estamos em um quarto pequeno com 30 membros da equipe amontoados.” A maioria homens? “Todos homens. E por 17 horas estou fingindo me tocar. É uma coisa muito estranha e você tem que enterrar a vergonha e o absurdo, bem fundo, e se comprometer por completo.” E ninguém pode discutir que ela não fez exatamente isso.

O despertador em seu telefone toca e ela vai embora como chegou, afobada, com um propósito e outra desculpa. “Novamente, me desculpe…” ela diz, enquanto pega sua pequena bolsa cilíndrica do chão. “Essa conversa foi muito de um lado só. Espero vê-la novamente e conversar de verdade.” Com isso, uma das estrelas mais lucrativas e mais simpáticas de Hollywood desaparece na multidão desconhecida. E eu termino o que Margot Robbie não comeu do meu café da manhã.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil