Margot Robbie conversou recentemente com o jornal britânico The Times, durante sua passagem por Londres para a divulgação de I, Tonya e para o BAFTA. A atriz falou sobre sua indicação ao Oscar, livros do Harry Potter, sobre o possível filme de Quentin Tarantino e sobre o famoso momento da entrevista ao Los Angeles Times. Confira:

Margot Robbie é a rainha em ascensão de Hollywood. Ela chegou do interior da Austrália por meio de Neighbours para O Lobo de Wall Street de Martin Scorsese, um papel que ela ganhou por dar um tapa confiante em Leonardo DiCaprio (completamente fora do roteiro) em sua audição. Ela provou sua versatilidade, pulando da supervilã psicopata em Esquadrão Suicida para uma melindrosa em Adeus, Christopher Robin.

Agora, aos 27 anos, ela tem sua primeira indicação ao Oscar por Eu, Tonya, uma fabulosa comédia dramática onde ela não só interpreta Tonya Harding, a patinadora americana banida para sempre do esporte após sua rival foi atacada, mas faz sua estreia como produtora.

Então, como essa glamurosa jogadora abaixa a poeira de noite? Checando sua conta bancária? Jogando fora contratos milionários? Tomando banho em Dom Perignon? Não. Ela lê Harry Potter.

“Eu li que se você lê um livro que você já leu muitas vezes antes, isso te ajuda a dormir,” Robbie explica, não ficando nem um pouco envergonhada. “Eu tenho lido Harry Potter sem parar desde que eu tinha oito anos. Eu sei os livros de trás para frente, mas agora eu estou no meio do sétimo. E então, eu vou voltar para o primeiro de novo.” Hey, não zombe. Quantas indicações ao Oscar você tem?

Eu pergunto se ela preparou um discurso para o Oscar. “Não, eu me sinto um pouco estranha com isso.” Por que é um destino tentador? “Não, eu me sinto boba supondo que eu vou precisar de um discurso.” Ela tem alguma chance de ganhar? “Não. Quer dizer… não!” Ela diz com uma risada.

Estamos na sala de estar de um hotel movimentado no centro de Londres, onde a porta está sendo vigiada por um guarda do tamanho de Norwich. É o dia anterior ao BAFTA: Robbie veio de Los Angeles para a cerimônia, onde ela estará deslumbrante de preto apoiando ao #MeToo e Allison Janney, que interpreta a monstruosa mãe de Harding, irá ganhar o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Algumas estrelas de cinema são decepcionantes em carne e osso; Robbie é, se possível, mais impressionante. Hoje ela está vestida em um terno de listras vermelho e preto e saltos de matar, seu cabelo loiro está liso, sua aparência impecável.

Também há uma economia atlética em seus movimentos, o que é meio essencial se você está interpretando uma atleta olímpica. Mesmo que ela tivesse dublês para as coisas complicadas, como o triple axel que Harding foi a primeira americana a conseguir fazer em competição, o resto foi Robbie, que precisou aprender a patinar para o papel, treinando quatro vezes por semana. Ela mergulhou em vídeos de Harding, indo de “nunca ter ouvido o nome dela na minha vida para assisti-la no repeat, cada vídeo que eu conseguia achar, e ouvi-la no meu iPod.”

O trabalho pesado compensou: Robbie é a primeira mulher a ser indicada ao Oscar por interpretar uma atleta da vida real (entre os homens com essa descrição estão Robert De Niro em Touro Indomável e Will Smith, seu colega de elenco em Golpe Duplo, em Ali). Quando eu menciono isso, ela fica encantada.

“Wow! Eu não sabia que eu era a primeira a fazer nada,” ela diz. Ela chegou perto: Se Eu, Tonya fosse indicado em Melhor Filme, ela diz, ela seria a primeira mulher a ser indicada por produção e atuação pelo mesmo filme. “Eu ainda estou emocionada,” ela adiciona rapidamente. “Já é melhor do que eu poderia imaginar.”

A verdadeira Harding concorda? O filme conta o seu passado caipira por pena e risadas, baseados no que descrevem como entrevistas “sem ironias e ferozmente contraditórias” com Harding e seu ex marido Jeff Gillooly, interpretado por Sebastian Stan. O tom muda cativantemente de exagerado (dizendo “chupa o meu pau” para um jurado) para perturbador (abuso doméstico em grande quantidade) para assustadoramente acreditável (a rival de Harding, Nancy Kerringan sendo atacada com um bastão de polícia por um conhecido do antigo segurança de Harding). Não há evidência de que Harding estava diretamente envolvida com o incidente, mas ela foi culpada de conspirar para atrapalhar a acusação do assaltante e de seu cúmplice.

Você pode entender o motivo pelo qual Robbie atrasou o seu primeiro encontro com Harding. Ela esperou até que ela tivesse desenvolvido completamente o papel, o que ela sempre viu como diferente da pessoa real. “Assim que eu soube completamente quem era a personagem, então eu estava pronta para conhecê-la.”

Ela foi até a casa de Harding em Portland, Oregon, pouco antes das filmagens começarem. “Minha vida toda era Tonya Harding, Tonya Harding, Tonya Harding e então, boom, ela estava sentada na minha frente.” Harding, para o alívio de Robbie, foi calorosa e solidária.

“Ela disse, ‘Eu entendo que isso é um filme e vocês precisam fazer o trabalho de vocês criativamente,'” E o que Harding achou do filme finalizado? “Ela disse que ela riu e chorou, não concordou com as partes contadas por Jeff, obviamente… mas ela ficou grata que uma versão mais sutil da história dela estava no mundo.” Harding deve ter ficado feliz de ter sido a acompanhante de Robbie no Golden Globes, onde ela encantou todos que conheceu. “Foi hilário,” Robbie diz. “Ela não é uma pessoa da indústria. Ela fala com todo mundo. ‘Oprah? Eu fui na Oprah uma vez, vou até lá dizer oi.'”

Com o cabelo bagunçado, aparelho nos dentes e guarda roupa simples, Harding é bem diferente da Duquesa, a esposa perfeita que Robbie interpretou em O Lobo de Wall Street. Existe uma história que atores bonitos precisam ficar feios para serem levados a sério, desde Brad Pitt quebrando o dente para Clube da Luta para Charlize Theron perdendo peso para Monster. Robbie não sentiu a necessidade de interpretar uma personagem que “é o oposto da Duquesa: sem glamour, sem maquiagem, sem roupas de marca, sem ser sensual, ela precisa ser conservadora, vulnerável e insegura.” Mas Eu, Tonya não foi o seu “momento Monster”, ela insiste. Isso aconteceu em 2015, quando ela interpretou uma sobrevivente do holocausto nuclear sem glamour em Os Últimos na Terra.

O único problema foi que quase ninguém viu o filme, com uma bilheteria total de 100 mil euros. Que irritante ficar toda deselegante e ninguém ir ver. Ainda assim, Robbie não perdeu o apetite por sabotar sua aparência. Esse ano, ela irá interpretar Elizabeth I em Mary Queen of Scots, a estreia nos filmes da diretora de teatro Josie Rourke, onde a amiga e indicada ao Oscar Saoirse Ronan interpreta Mary.

Robbie interpreta Elizabeth antes e depois da varíola, o último requer uma careca para imitar a raiz com entradas da rainha e uma peruca ruiva em cima. Ela estava com medo do papel, parcialmente porque já foi feito duas vezes por sua colega australiana, Cate Blanchett. “Cate Blanchett é meu ídolo. Eu não posso interpretar uma personagem que ela já interpretou. Eu nunca vou ser boa o bastante,” Robbie diz. “Mas eu amo fazer papéis que me deixam com medo e pensar no final, ‘Quer saber? Eu acho que consegui.” Ela olha com curiosidade para o biscoito sofisticado que chegou em um prato branco, antes de devorá-lo.

A audácia de Robbie foi feita durante uma infância ao ar livre em Queensland. “Nós tínhamos vacas e eu cortava madeira,” ela diz. “Você podia estar nas montanhas e dirigir por dez minutos e estaria na praia.” Sua mãe, uma fisioterapeuta, separou de seu pai, que era dono de fazendas de cana de açúcar e manga, quando ela era jovem. Ela gostava de atuar quando era criança, mas demorou dois anos em Neighbours para se convencer de que ela poderia ganhar a vida com isso.

Sua grande estreia veio com o tapa que ela deu em DiCaprio, e O Lobo de Wall Street ainda estava nos cinemas quando ela deu o passo de se mudar com seis amigos em uma casa alugada de quatro quarto no sul de Londres (“na rua Clapham High, atrás do KFC”). Um desses amigos, um produtor britânico chamado Tom Ackerley, virou seu marido em 2016. O casal vive em Los Angeles, mas o laço de Clapham permanece forte: eles formaram uma produtora, Luckychap, com outros amigos da casa e estão desenvolvendo vários projetos, inclusive um suspense, Terminal, estrelando Robbie.

Também em seu currículo eclético está a sequência de Esquadrão Suicida, Peter Rabbit, onde ela faz a voz de Flopsy, e, talvez, o filme tão esperado de Quentin Tarantino sobre Charles Manson, que há rumores de que DiCaprio será Manson e Robbie será Sharon Tate, a vítima mais famosa de seu culto. Tarantino se tornou uma figura divisora por causa de seu laço próximo com Harvey Weinstein, e também pela recente entrevista de Uma Thurman, onde ela falou sobre o diretor a coagindo a dirigir o que ela pensou ser um carro inseguro em Kill Bill, resultando em uma batida que a deixou machucada por um tempo.

Robbie irá aparecer no filme de Manson, se acontecer? “A resposta honesta é: Eu não sei. Eu pareço saber menos do que a mídia sabe! A entrevista de Thurman mudou sua opinião sobre Tarantino? “Eu não sabia de nenhuma dessas coisas,” ela diz. “Er… olha, para cada situação eu quero conseguir o máximo de informação disponível antes de fazer uma decisão grande de carreira.” Então temos que ficar de olho? “Eu acho. Eu vou ser a última pessoa a saber. Vocês vão saber antes de mim.”

Isso parece uma ingenuidade falsa para alguém como Robbie. Meu palpite é que está em suas mãos. Você pode ver o motivo da hesitação: Tate, uma mulher assassinada, dificilmente é o papel que o Time’s Up está fazendo campanha.

Robbie também é cuidadosa quando eu falo sobre uma entrevista recente que ela fez para o Los Angeles Times ao lado de Saoirse Ronan, Kate Winslet e Jessica Chastain. Em um vídeo da entrevista que se tornou popular, Winslet elogiava Woody Allen enquanto Robbie olhava. Um relato disse que ela deu o melhor olhar lateral para Winslet. Robbie não lembra do incidente (“Eu não tenho certeza do que estava pensando na hora”), mas ela faria um filme do Allen? “Er…” Outra pausa demorada. “Olha, eu nunca fui chamada para um filme do Woody Allen, então é hipoteticamente, não é?” Ela começa a responder, para e tenta novamente. “Os últimos meses me fizeram perceber que você realmente precisa ter o máximo de informação possível antes de tomar uma decisão.”

Enquanto sua barreira é frustrante, também há uma coragem em sua recusa a condenar Allen automaticamente. Após sua filha Dylan acusá-lo de abusar sexualmente dela, o que ele negou, Greta Gerwig, Ellen Page, Mira Sorvino e os demais condenaram o diretor, apesar de nenhuma acusação ter sido feita contra ele. Robbie é claramente sua própria mulher.

Nosso tempo está quase acabando, o segurança está espiando. A conversa volta para o Oscar. Ela não tem certeza de quantos convites ela vai ganhar, mas ela gostaria de levar o máximo de pessoas da LuckyChap possíveis. Ela já praticou seu sorriso falso no caso de outra pessoa ganhar? “Não! Eu não vou precisar fingir porque eu vou estar realmente muito feliz com qualquer outra pessoa ganhando.” E se Robbie não levar uma estátua para casa, ela terá sempre o consolo dos livros de Harry Potter quando voltar para o quarto de hotel.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil