Em entrevista para o jornal Los Angeles Times, Margot Robbie e sua parceira de cena em Mary Queen of Scots falaram sobre o filme ao lado da diretora Josie Rourke. Confira:

Desde o momento em que ela se tornou Rainha da Escócia aos 6 anos de idade, o mundo nunca parou de escrutinar cada movimento de Mary Stuart – ou colocá-la contra Elizabeth I da Inglaterra, a prima cujo trono ela tinha uma reivindicação desde o nascimento.

Executada aos 44 anos, envolvida em um planejamento para matar Elizabeth que os historiadores ainda debatem sobre, seriam seus inimigos a escreverem sobre o legado de Mary. Então, nos anos turbulentos de sua vida controvérsia, contemporâneos se perguntam, quem era realmente a mulher conhecida como Mary, Rainha da Escócia, e o que a levou para seu destino trágico?

Colocado de outro jeito na nova biografia da diretora Josie Rourke, Mary Queen of Scots: E se Mary e Elizabeth pudessem sentar e resolver as coisas?

É uma noção que ocorreu em Rourke, nas estrelas Saoirse Ronan, que interpreta a rainha escocesa do título, e Margot Robbie, que interpreta a prima de Mary e inimiga política Rainha Elizabeth I.

“Você não sabe quantas vezes eu pensei, ‘Se elas apenas se encontrassem para um café no começo desse filme… teria sido tão diferente!'” disse Robbie com uma risada, reunindo-se em Los Angeles com Rourke e Ronan pela primeira vez desde que filmou o drama de época.

Atrevidamente, Ronan concordou. “Vamos ao Starbucks,” ela adicionou, incorporando Mary, Rainha da Escócia, por meio de um impecável sotaque de garota do Valley. “Vamos comer um muffin de blueberry e resolver isso.”

Filmado nos locais após 430 anos da execução de Mary, o filme traz a vida da monarca com um alvo feminista, focando nos anos definitivos da carismática rainha católica com a feroz Ronan no papel principal.

Apoiado pelos produtores do ganhador do Oscar, Elizabeth e Elizabeth: The Golden Age, que estrelou Cate Blanchett, e escrito pelo criador de House of Cards, Beau Willimon, o filme da Working Title e Focus Features é parte drama político, parte drama de justiça. O filme marca a estreia da veterana do teatro, Rourke, que também serve como diretora artística do teatro Donmar Warehouse em Londres.

Em um retrato humanista das duas mulheres, o filme sugere que a teimosa Mary e a medrosa Elizabeth, poderiam ter se fortalecido e até mesmo encontrado consolo em seus desafios compartilhados na política e religião se os conselheiros homens não tivessem mantido o conflito em ambos os lados.

“Eu acho que teria tanta coisa que elas encontrariam em comum se pudessem apenas sentarem juntas,” disse Ronan. “Mas é claro, havia uma razão pela qual elas ficaram separadas. Era favorável para os homens ao redor delas.”

Uma batalha foi suficiente para Mary e Rainha Elizabeth I, as únicas governantes mulheres da Europa, para manterem seu trono e suas cabeças; seguirem seus corações livremente era outro assunto. As restrições de Mary e o comando dos homens, a biografia de Rourke discute, significava que sua vida nunca era inteiramente dela.

“Casamento, bebês, religião,” Ronan reflete. “Tudo era um peão. Tudo o que você usava. Tudo o que você dizia.”

A irlandesa indicada ao Oscar estava ligava ao projeto por anos, atraída pela ideia de interpretar uma figura rara no cinema – uma rainha Céltica. Mas quando ela começou a pesquisar com Rourke no controle, usando a biografia do historiador John Guy, Queen of Scots: The True Life of Mary Stuart, como guia, Ronan disse, “se tornou incrivelmente atual.”

Casada aos 15 anos com o futuro Rei da França e viúva três anos depois, o filme encontra Mary, aos 19 anos, retornando para casa na Escócia para reivindicar seu trono – somente para ser envolvida em casamentos ruins, maridos piores ainda e uma série de conspirações sem fim feitas por inimigos querendo sua coroa.

Enquanto isso, na Inglaterra, sua prima Elizabeth tem dificuldades com ansiedades parecidas, sob pressão para casar e gerar um sucessor para sua coroa – mas continua com medo de fazer qualquer escolha de vida que possa levar a sua própria deposição.

“A vida jovem de Elizabeth, o medo de sua própria vida – isso seria considerado abuso infantil, francamente, também deixando de lado o fato de que seu pai executou sua mãe,” disse Rourke. “Se ela estivesse viva hoje, ela estaria em terapia durante 14 horas por dia.”

“A indivisibilidade entre suas vidas sexuais e românticas, seus corpos e seu poder… uma das coisas que me deixou chocada é que mesmo essas duas mulheres, que eram o maior poder da Europa, tiveram que lutar pelo direito de fazer escolhas que quisessem com seus corpos,” adicionou Rourke.

De primeira, Robbie admite, ele hesitou em aceitar o papel de Elizabeth, cujas inseguranças pessoais levaram-na a pisar cautelosamente ao redor de Mary, a única outra rainha na cena que tinha direito a reivindicar a coroa da Inglaterra desde o nascimento.

“Eu provavelmente não estava prestando atenção na escola porque parece que pulei todo o período Renascentista,” a estrela australiana brincou. “Inicialmente, quando Josie e eu falamos sobre o projeto, eu disse, ‘Eu acho que você precisa contratar uma atriz que tem uma formação em história, porque essa não sou eu.'”

“Mas,” a atriz sorriu, “ela me convenceu.”

Robbie assinou e começou a devorar materiais históricos sobre Elizabeth e o período Renascentista. “Na minha cabeça era tipo, corredores de ouro e pessoas com a cabeça branca, e isso soava muito entediante para mim – e então a Josie começou a falar sobre isso, John Guy começou a me contar as coisas e foi essa explosão de cor e vida,” disse Robbie.

“Houve o período medieval, sombrio e cinzento, e de repente as linhas de comércio se abrem e há música, cor, material e comida vindo de todo o lugar do mundo – e adolescentes comandando impérios!” Robbie adicionou. “Eu nunca pensei sobre esse período desse jeito.”

Foi crucial para Rourke que ela tivesse diversidade escalada em seu elenco, selecionando Gemma Chan para interpretar a dama de companhia de Elizabeth, Bess of Hardwick, Ismael Cruz Cordova no papel de partir o coração como o secretário de Mary David Rizzio, e Adrian Lester como embaixador da Inglaterra para a Escócia, Lord Randolph.

“Isso é parcialmente por conta do meu passado no teatro, mas eu fui bem clara trabalhando com a Working Title e Focus, e eles foram muito compassivos, que eu não iria dirigir um filme histórico só com brancos,” Rourke explicou. “Foi isso. Não era uma coisa que eu ia fazer. Não é uma coisa que eu faço no teatro e eu não quero fazer no cinema.”

Bess of Hardwick, interpretada por Chan, “é durona,” Robbie disse. “Ela deveria ter seu próprio filme. Ela teve, tipo, seis maridos que morreram misteriosamente, ou seja, ela provavelmente matou eles e então ia e se casava com um mais rico! Nós filmamos em um dos castelos dela, na verdade.”

“Olhe para Adrian Lester,” Rourke disse sobre o ator ganhador do Olivier Award e OBE. “Ele sabe mais sobre Shakespeare do que a maioria dos acadêmicos. É ridículo que parte de sua herança como um ator clássico inglês não seja passada nas telas. Por que perder esse talento e a habilidade desses atores incríveis de contarem histórias?”

Mesclando com um design de produção lindo com uma execução fora do normal – a maioria dos vestidos de época do filme foram feitos de jeans pela designer Alexandra Byrne, que ganhou o Oscar em 2007 por Elizabeth: The Golden Age – o filme pinta Mary como não comente uma estrategista astuta e confiante, mas, socialmente falando, radicalmente inclusiva.

Enquanto as paredes políticas se fecham ao seu redor, ela encontra conforto e apoio em seu círculo leal de servos e o solitário confidente Rizzio, cuja homossexualidade Mary abraça mesmo quando ele trai a sua confiança. Eles são, em palavras atuais, como Ronan coloca, “seu hashtag-squad.”

Isso não quer dizer que a jovem Mary não tem várias dores no caminho. Ignorando a pressão de seus conselheiros de se casar por ganho político, ela se casa com o primeiro homem que se apaixona. Por fim, Mary precisa seguir o seu próprio ego quando se torna claro que a única aliada que ela deve ter nesse mundo é Elizabeth.

“Você precisa se lembrar, ela é uma menina. Ela é uma menina de 19 anos. Ela tem a mesma idade da Lorde!” Ronan exclamou, comparando a Rainha da Escócia com a cantora de Royals. “Foi muito importante ver essas duas mulheres competirem, mas também foi adorável vê-las como mulheres em suas vidas privadas.”

Enquanto historiadores concordam que as duas rainhas provavelmente nunca se conheceram pessoalmente, mesmo quando Mary fugiu da Escócia e procurou refúgio na Inglaterra sob a proteção de sua prima, Mary Queen of Scots é feito ao redor de uma construção catártica que também marca o momento compartilhado por Ronan e Robbie na tela.

“Mesmo que elas só tenham se encontrado uma vez no filme, elas estão muito presentes na imaginação uma da outra,” disse Rourke, que dirige habilmente um encontro entre as duas mulheres cujas vidas se cruzam na sequência mais elétrica do filme.”

Para se prepararem para a cena de 12 páginas, as atrizes se evitaram no set durante as filmagens, para que o primeiro momento olhando uma para outra fosse capturado nas telas.

“Foi a minha primeira cena e a última da Margot, e foi a cena que eu mais treinei desde que começamos os ensaios,” lembra Ronan. “Nós ensaiamos uma vez por uma hora antes de começarmos a filmar, e pareceu certo desde o começo. Nós sabíamos o que seria isso. Eu pude explorar quem Mary era, cada aspecto dela e cada tom.”

“Igualmente, fazer aquela cena fez do filme a experiência que foi para mim, e os momentos que levaram a isso definem Elizabeth,” concordou Robbie. “Eu acho que faltou coragem para se posicionar e fazer e dizer algumas coisas que Mary fez… Eu acho que ela a admirava por isso, e isso a assustava.”

Quando elas finalizaram a cena, as duas se abraçaram por um longo tempo. “Eu lembro de dizer depois, ‘Eu estive com você na minha cabeça esse tempo todo – você estava lá comigo,'” disse Ronan, virando-se para Robbie. “E quando eu continuei para fazer o resto do filme, ela estava lá. Eu tinha uma pequena Margot no meu ombro.”

Humanizar essas lendárias monarcas nos lembra que figuras como Mary são pessoas também, elas dizem. Monarcas, eles são como nós! “É isso que eu amo sobre ‘Veep,'” Ronan elogia a série da HBO. “É tão genial porque é tipo, ‘Oh, eles são só pessoas. E eles estão errando todos os dias. O tempo todo.'”

As histórias de Mary e Elizabeth ressoam mais forte ainda contadas por lentes modernas, adicionou Ronan, apontando como duas das mulheres mais conhecidas liderando a política da Europa agora são criticadas.

“É uma história muito atual, especialmente no Reino Unido, porque você tem Nicola Sturgeon no norte e você tem Theresa May no sul,” ela disse. “Você tem essas duas mulheres que são muito diferentes, defendendo coisas muito diferentes, mas elas são fortes e estão fazendo seu trabalho. Ter um filme assim saindo agora é perfeito.”

Contar verdades políticas e emocionais de mulheres como Mary e Elizabeth de modos nunca feitos no palco ou nas telas é inteiramente o ponto, sugeriu Rourke, que disse que seu trabalho no teatro compartilha o mesmo objetivo de trazer lições do passado com problemas atuais.

“Eu já fiz várias peças de Shakespeare, e nunca tentamos olhar para uma peça antiga e não arrumar em como fala com o presente,” disse Rourke. “E eu acho que, algumas vezes, o melhor jeito de falar sobre o que está acontecendo agora é com uma história antiga.”

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil