Margot é capa da revista The Hollywood Reporter ao lado de Tonya Harding e além de um entrevista conjunta, a atriz concedeu uma entrevista individual em sua casa e falou sobre sua carreira, revelou ter recebido ameaças de morte por fãs de quadrinhos e mais. Confira:

Antes de Margot Robbie chegar em Hollywood, um agente na Austrália a aconselhou a se preparar para uma pergunta que seria feita quando ela chegasse.

“O que você quer da sua carreira?

Robbie, na época com 20 anos e estrelando uma novela local, levou o conselho a sério. Ela começou a rabiscar páginas e páginas anotando o que se tornaria sua resposta em apenas três palavras: “Qualidade, versatilidade e longevidade.” Consiga os dois primeiros, ela pensou, e o terceiro virá.

Nem meia década depois, Robbie explodiu em Hollywood com sua performance revelação como a ardente esposa de Jordan Belfort de Leonardo DiCaprio no sucesso de bilheteria O Lobo de Wall Street de 2013. Ela pegou o que poderia ter sido um papel facilmente esquecido – descrito no roteiro de Terence Winter como a “loira mais gostosa do mundo” – e o tornou memorável. Prontamente, ela foi inundada de propostas para interpretar a “esposa gostosa” ou “namorada gostosa” de outros atores. Lisonjeada pela atenção repentina, tais personagens inessenciais não se encaixavam nos planos de carreira dela, então ela recusou quase todos. “Você lia um roteiro e se retirasse elas, nada seria afetado,” ela diz agora, entre goles de chá no pátio nos fundos de sua casa em Los Angeles. “Se você tirar essa carta e o castelo de cartas não desmoronar, isso não é emocionante para mim.”

Ao invés disso, Robbie começou a construir um currículo que misturava filmes de grandes estúdios com filmes independentes. Ela conseguiu papéis como uma ladra, uma jornalista de guerra e uma fazendeira seguidora da Bíblia. Logo, a indústria já tinha dado a ela o título de estrela do cinema, entregando franquias enormes, algumas que funcionaram (Esquadrão Suicida) e outras que não (A Lenda de Tarzan). Novamente, Robbie estava lisonjeada e cuidadosa. “Eu não quero brilhar rápido e então sumir,” ela explica. Para ter esse poder duradouro que ela estava procurando, ela sabia que precisava ir além das propostas e começar a dirigir suas próprias narrativas.

I, Tonya, o conto cômico sobre os altos e baixos da patinadora Tonya Harding em volta do ataque em sua rival Nancy Kerrigan em 1994, é a primeira investida de Robbie, desenvolvida com o banner da LuckyChap Entertainment, que ela fundou em 2014 ao lado do marido de um ano, Tom Ackerley, e alguns amigos próximos. A produtora já possui um segundo filme no gatilho e um portfólio de pelo menos uma dúzia de projetos em desenvolvimento. Mas nas recentes semanas, quase toda a atenção de Robbie está sendo para I, Tonya, onde a atriz de 27 anos estrela como a famosa ex atleta. Desde que o filme começou a rodar nos cinemas no começo de dezembro – onde arrecadou fortes 66 mil dólares por tela no fim de semana de estréia – Robbie e sua mãe nas telas, Allison Janney, conseguiram indicações ao Golden Globe e Screen Actors Guild Awards e possuem um sério burburinho para o Oscar.

Enquanto o público ainda está se atualizando nas ambições de Robbie, o diretor de I, Tonya, Craig Gillespie, admira sua motivação, elogia sua habilidade de estrelar, produzir, falar com um novo sotaque e aprender a patinar simultaneamente como ela fez ao interpretar Harding. E sua parceira de cena de 58 anos, Janney, que rouba várias cenas como a mãe do inferno, brinca que ela ainda fazendo peças “longe da Broadway” na idade de Robbie. “Eu só pensava em Katharine Hepburn quando eu olhava para ela,” diz Janney. “Katharine montou Núpcias de Escândalo porque ela não estava conseguindo os papéis que queria, e foi o que a Margot fez. Ela ia ser estereotipada como essa coisa linda e jovem, e ela queria encontrar papéis interessantes para ela e para outras mulheres, então ela tomou as rédeas e formou essa produtora.”

Certamente, lançar a LuckyChap foi o jeito de Robbie de garantir que ela tivesse uma mão no processo criativo de ambos os projetos individuais e a missão maior de acertar a balança de gênero da indústria. O fato de que ela começou esse caminho em uma idade tão jovem, no entanto, não parece fora do comum para ela. “Eu passei os últimos 10 anos da minha vida em sets, e depois de um tempo, é tipo, ‘Eu quero ter minha palavra quando eu leio um roteiro que eu amo, como I, Tonya. Eu não quero esperar a chance de ir para a direção que eu acredito que deveria ir,” ela diz, enquanto seu pequeno cachorro, Boo Radley, investiga o par de tênis Puma que a estrela chutou para o lado na manhã quente de domingo em dezembro. “Algumas vezes, eu não quero deixar na mão de outras pessoas, e isso não quer dizer que eu quero estar na frente de todas as decisões porque eu não sei o bastante para estar na frente de todas as decisões, mas eu quero fazer parte da conversa.”

Criada como a terceira filha de quatro por sua mãe solteira fisioterapeuta em Gold Coast, Austrália, Robbie começou a pensar grande para si mesma cedo.

Ela tinha muitos amigos na escola cujo famílias eram consideravelmente melhores, o que, ela acredita, “foi o melhor cenário para criar ambição.” Isso deu a ela um olhar mais próximo das portas que o sucesso financeiro pode abrir, assim como sua própria educação ilustrou como a falta de meio pode mantê-las fechadas. “Quebrar um prato ou derramar leite era grande coisa na nossa casa. Era tipo, ‘Bom, agora não temos leite para a semana,’ e isso colocava muita tensão em todos,” ela diz. “Enquanto isso, se você quebrasse um prato na casa de um amigo, era tipo, ‘Não se preocupe, vamos comprar um novo.’ Era alegre e calmo, e eu pensei, ‘Oh, eu quero ter certeza de que terei isso.'”

Então Robbie começou a trabalhar, mostrando instintos empresariais que poderiam ocasionalmente preocupar a família. Ela admite timidamente vender os brinquedos do irmão mais novo na estrada ou cobrar familiares para assistir seus shows de mágica e então cobrava mais se eles quisessem saber como ela fez os truques. Aos 14 anos, ela estava ganhando salário cuidando de um bar. (“Com certeza não era legal,” ela ri agora.) Uma série de trabalhos vieram depois, geralmente mais de um de uma vez: faxineira, atendente de loja de surf e fazendo sanduíche no Subway. “Margot sempre foi trabalhadora,” diz sua amiga de infância e atual assistente, Sophia Kerr, outra fundadora da LuckyChap.

Aos 17, Robbie se mudou para Melbourne e, após sondar diretores de elenco com ligações, ela conseguiu um papel como uma adolescente bissexual na popular novela australiana Neighbours. Durante a sua segunda temporada, ela já estava pensando alto sobre o que viria depois. “Eu quero ir para L.A.,” ela disse para uma revista estudantil, “e ser uma grande atriz por lá.” Enquanto isso, ela guardou seu dinheiro e trabalhou com uma professora de dialeto para aprimorar seu sotaque americano. Após seu terceiro ano na série, seu plano era de vir para os Estados Unidos e garantir um representante na época de pilotos. Isso aconteceu sem empecilhos. Ela desembarcou em Los Angeles no fim de 2010, assinou com a Management 360 e, quase imediatamente, conseguiu um papel na série então promissora da ABC, Pan Am. A série acabou falhando em decolar com o público, mas isso abriu as portas para outras oportunidades, incluindo seu papel em O Lobo de Wall Street de Martin Scorsese.

Até então, “qualidade, versatilidade e longevidade” tinha se tornado o mantra da carreira de Robbie e, após Lobo, ela dizia com a frequência que ela começava a, como ela coloca, “correr atrás de papéis que as pessoas não queriam me dar.” Entre eles: essa menina da fazenda de 19 anos no filme independente Os Últimos da Terra. Robbie tinha sido dispensada do papel porque ela não tinha o valor de bilheteria necessário para conseguir financiamento para um filme independente. Mas antes das filmagens começarem, Amanda Seyfried deixou o projeto, e Robbie, com Lobo prestes a estrear, fez uma segunda abordagem. Ainda assim, os financiadores estavam nervosos. Ela garantiu para eles que assim que Lobo estreasse, seu nome teria peso e que, em todo caso, ela era mais como a menina da fazenda do que a esposa promíscua de Lobo. “Eu sabia que eu precisava ajustar a percepção das pessoas sobre mim logo,” ela diz, “porque caso contrário, eu só iria receber esse único papel.”

Robbie foi similarmente persistente com outros papéis: aquela ladra ao lado de Will Smith no suspense de 2015 Golpe Duplo, a jornalista de guerra com Tina Fey na comédia dramática de 2016 Uma Repórter em Apuros e, logo, será a Rainha Elizabeth I, ao lado de Saoirse Ronan, no drama história da Focus Features, Mary Queen of Scots. Robbie buscou o papel de Harding usando seu chapéu de produtora, abordando o roteirista Steven Rogers em nome da LuckyChap. Ela tinha apenas 3 anos na época do escândalo de 1994, então ela inicialmente confundiu o roteiro – o resultado de longas entrevistas com Harding e seu ex-marido abusivo, Jeff Gillooly – com uma obra de ficção. “Foi uma personagem que definitivamente me assustou,” ela diz sobre a atração, como produtora e estrela. “E eu não conseguia entender por qual razão ela estava fazendo o que fazia e dizendo as coisas que dizia, mas eu queria entender – e sempre que isso acontece em um roteiro, é um personagem que eu quero interpretar.” O papel também exigia que ela se transformasse em uma atleta durona que carecia do físico e classe das outras estrelas do esporte, o que só tornou o trabalho ainda mais atraente. Robbie, que já teve experiências no rinque jogando hóquei no gelo, começou um treino exaustivo que a colocava no gelo cinco dias por semana. (Dublês fizeram cada salto menos o triplo, que foi trabalho do CGI.)

A interpretação de Harding com todos os defeitos feita por Robbie pode surpreender os espectadores que a conhecem por seus anúncios sensuais para a Calvin Klein ou pelo blockbuster de 2016 Esquadrão Suicida, onde ela interpretou a supervilã Harley Quinn. Apesar do filme da DC Comics ter sido queimado pelos críticos, arrecadou mais de 750 milhões de dólares na bilheteria mundial, e a personagem de Robbie provou sua estreia, com a Rolling Stone sugerindo que sua performance é “a única coisa que esse desastre do Universo DC tem de bom.” O diretor e roteirista do filme, David Ayer continua a falar com carinho sobre o comprometimento de Robbie com o papel, lembrando das acrobacias que ela fazia voluntariamente por conta própria e o jeito qual ela, com Smith, se tornou a cola do elenco cheio de estrela. “Ela nunca, nunca reclama, nem mesmo às 4 da manhã quando você está derramando água congelada dos Grandes Lagos nela e ela está usando a roupa da Harley Quinn, encharcada até a alma e tremendo,” ele diz. “Você grita ‘ação,’ e ela para de tremer e abre um sorriso, e então ‘corta,’ e ela volta a tremer. Eu nunca vi alguém com esse nível de disciplina física e emocional.” Pelo menos dois projetos focados na Harley estão em desenvolvimento na Warner Bros.

O status de celebridade que veio ao se juntar ao Universo DC, no entanto, é algo que Robbie ainda está entendendo. Ela tem pensado bastante sobre o lado ruim da fama nos últimos anos e se pergunta se talvez alguém nas agências de talento ou em outro lugar durante o processo deveria dizer para um ator antes de assinar um projeto como Esquadrão Suicida, “Você está prestes a estar em um filme de quadrinhos; agora aqui está a pior das hipóteses do quão grande e assustador isso pode se tornar.” Robbie, que já teve que lidar com stalkers e ameaças de morte, agora é forçada a gastar tempo e dinheiro com segurança pessoal. “Existem essas coisas que você aprende ao longo do caminho, tipo, quando você recebe essas ameaças, é inteligente ter uma equipe de segurança para fazer uma checagem em quem mandou para ver se existe um histórico de violência porque você precisa saber se vai precisar de segurança para ir em certos eventos,” ela explica. “E toda vez que você faz essa checagem, isso irá te custar 2 mil dólares, então considere isso quando você for entrar nesses projetos.”

Robbie fica mais fervorosa enquanto continua. “E tipo, ok, é uma carreira diferente. Porque então você precisa sempre fazer um trabalho que vai suportar financeiramente esse tipo de estilo de vida. Você não pode fazer filmes independentes pelo resto da sua vida porque esse filme lá atrás mudou tudo e agora você precisa gastar com segurança.” Ela pausa para juntar seus pensamentos, e então adiciona, “Eu só gostaria que alguém tivesse me explicado muitas dessas coisas no começo. Eu não iria ressentir a minha posição porque eu saberia onde estaria me envolvendo.”

Alguns dias depois, na manhã do dia 11 de dezembro, Robbie e seu marido juntaram-se aos seus parceiros da LuckyChap, Josey McNamara e outros em sua casa. As notícias das indicações ao Golden Globe começaram a entrar: O nome de Robbie e Janney foram lidos primeiro, e então I, Tonya, todos conseguindo grandes indicações em um ponto crucial durante uma temporada de premiações de olhos bem abertos. O grupo, ainda em seus pijamas, abriram uma garrafa de Dom Perignon que sobrou do casamento de Robbie e Ackerley e começaram a servir o champagne.

Robbie conheceu Ackerley apenas quatro anos e meio antes, quando ele e McNamara foram diretores assistentes no set europeu de Suíte Francesa. Robbie tinha um papel coadjuvante no filme de época, e juntos os novos amigos decidiram abrir uma empresa algum dia, o que aconteceu no próximo ano. Pensar que três anos depois seu primeiro filme seria reconhecido com três indicações ao Golden Globe era demais para engolir. “Nós sabemos que geralmente não é assim que acontece,” diz Kerr com uma risada. “Por isso que continuamos nos perguntando se a partir daqui é ladeira abaixo.”

Ladeira ou não, a produtora já conseguiu contratos com as unidades de filme e TV da Warner Bros., com séries vendidas para a Hulu e NBC. E aquele segundo filme – Terminal, um suspense noir filmado antes de I, Tonya – está previsto para estrear dia 19 de janeiro. Desde então, o objetivo é continuar a contar histórias de mulheres e dar chance para diretores de primeira e segunda viagem. Robbie precisa estrelar no grupo inicial dos projetos para o cinema para garantir que eles saiam do papel, mas ela insiste que irá continuar atuando nos filmes de outras pessoas, também, identificando Quentin Tarantino e Wes Anderson como cineastas que ela está desesperada para trabalhar. (Na época, Robbie estava envolvida no rumor de que estaria no filme do Tarantino sobre os assassinatos da família Manson, o qual ela só podia dizer, com um grande sorriso: “Não é oficial… mas eu mataria para trabalhar com ele.”)

Ela está igualmente ansiosa para trabalhar com outras atrizes, e elogia abertamente seus ídolos, incluindo Cate Blanchett e Angelina Jolie, com quem ela criou laços recentemente em premiações. “Eu provavelmente dei a impressão de apenas uma pessoa que estava suando e respirando alto,” diz Robbie, que em adição a atuar e produzir, alimenta ambições de escrever e, como Jolie, dirigir. Vale a pena notar que o círculo de amizades de Robbie não inclui muitas Blanchetts e Jolies. Ao invés disso, seu grupo de amigos é pesado com trabalhadores abaixo da linha – diretores assistentes como seu marido, dublês e cenógrafos. Kerr, que estava em cada set com Robbie desde A Lenda de Tarzan, diz que “Margot não anda em bando com os outros A-listers porque, para ser honesta, acho que ela não se considera isso.”

Foi do seu círculo de amizades que Robbie tirou a ideia e inspiração para um discurso feito no evento Women in Hollywood da revista ELLE em outubro, apenas dias depois das acusações contra Harvey Weinstein se tornaram públicas. Em formato de carta, o discurso começou com “Querida Hollywood,” e concluiu, “Sinceramente, o clube das garotas.” No desenvolvimento, “Ser uma mulher em Hollywood significa que você provavelmente terá que lutar contra situações degradantes e papéis sexistas serão oferecidos por homens que pensam que isso é tudo que querem nos ver interpretar.” Agora, dois meses depois, Robbie está menos inclinada a se envolver no assunto, ainda se recuperando de uma conferência de imprensa recente onde ela diz que foi questionada, de cara, se ela já tinha sido molestada. “Eu fiquei chocada com a indiferença que esse homem perguntou, como se fosse uma pergunta casual,” ela diz, “e isso faz parte do problema, também.” Se o jornalista tivesse perguntado com mais sensibilidade, ela teria respondido desse jeito:“Ninguém nunca abusou do poder comigo nessa indústria, mas eu sou uma mulher e eu já vi e lidei com isso um milhão de vezes nesse mundo.”

Se Robbie quer falar sobre isso ou não, ela provavelmente terá mais oportunidades no tópico sobre abuso nas próximas semanas. Isso é, apesar de tudo, um grande tema em I, Tonya. Na premiere do filme em Los Angeles no começo de dezembro, Robbie apareceu com a própria Harding ao seu lado. As duas se conheceram brevemente em um almoço antes das filmagens começarem, e assistir ao filme juntas pela primeira vez com um público foi algo que as duas descrevem como surreal. No dia seguinte, durante um momento mais calmo entre a estrela e a mulher que ela passou meses interpretando, Robbie reconheceu que ela achou “emocionalmente traumático me colocar no lugar de alguém em um relacionamento abusivo.”

Para Harding, que foi banida do esporte em 1994 – e, salva por um breve e embaraçoso momento como boxeadora profissional, quase não ouvimos mais sobre ela – I, Tonya oferece o tipo de conclusão que ela queria por muito tempo. E apesar do filme permitir cada um de seus personagens contar sua própria versão do famoso incidente, a performance poderosa de Robbie tem o potencial para restaurar a humanidade de Harding aos olhos do público, o que é um grande presente para a antiga patinadora – e a melhor indicação até agora de que Margot Robbie estará por perto por um bom e longo tempo. “Qualidade, versatilidade e longevidade,” ela sorri, recitando seu mantra uma última vez.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil