O site The Hollywood Reporter entrevistou as estrelas de Mary Queen of Scots, Margot Robbie e Saoirse Ronan, junto com a diretora Josie Rourke e os produtores da Working Title sobre os bastidores do filme. Confira:

Margot Robbie e Saoirse Ronan passaram a maior parte do tempo no set de Mary Queen of Scots se evitando como praga.

Na verdade, as estrelas do filme de época de U$ 25 milhões da Focus Features sobre a rivalidade do século 16 entre as primas Mary Stuart e Rainha Elizabeth I foram tão extremas para se manterem afastadas até a única cena juntas, que seus assistentes tinham que ter certeza que as atrizes entravam e saiam do set por portas diferentes. A ideia era que quando as mulheres se encontrassem para o clímax do filme, como Al Pacino e Robert De Niro no que a diretora Josie Rourke descreve como “uma versão renascentista de Fogo Contra Fogo, suas reações fossem espontâneas e verdadeiras. Ou pelo menos tão espontâneas e verdadeiras possíveis enquanto usavam golas no pescoço e pinturas com um centímetro de espessura no rosto.

“Foi um momento incrível onde a vida meio que encontrou a arte,” diz Ronan, de 24 anos, sobre a cena. Robbie, de 28 anos, adiciona, “Nós estávamos chorando o tempo todo.”

É claro que Mary e Elizabeth já apareceram nas telas antes. Katherine Hepburn e Florence Eldridge interpretaram os papéis em Mary of Scotland de 1963, e Vanessa Redgrave e Glenda Jackson fizeram sua interpretação em Mary, Queen of Scots em 1971. Mais recentemente, Samantha Morton e Cate Blanchett interpretaram as monarcas em Elizabeth: The Golden Age em 2007. Foi nessa época que o produtor Tim Bevan, que também produziu a primeira vez que Blanchett foi rainha em Elizabeth em 1998, teve a ideia de fazer um filme focado no relacionamento disfuncional das primas. “Havia um negócio inacabado,” o co-chair da Working Title diz.

O projeto continuou inacabado por vários anos, enquanto Bevan e sua co-produtora, antiga presidente da Working Title Debra Hayward, gradualmente pegaram vários elementos da produção. O primeiro projeto, em 2012, mesmo antes de ter um roteiro, já tinha assinado com Ronan para interpretar a personagem títular. Na época, a atriz era conhecida por interpretar a irmã mais nova de Keira Knightley no drama de 2007, Desejo e Reparação (e por conseguir uma indicação ao Oscar por isso. ”Nós a conhecíamos desde que ela era criança,” diz Bevan. ”E temos muita sorte. Demorou mais quatro anos para organizar Mary Queen of Scots, então ela estava na idade perfeita quando conseguimos”

Em algum ponto durante esses quatro anos, Bevan e Hayward foram ao teatro em Londres assistir Ligações Perigosas e escolheram o próximo pedaço – a diretora da peça. Inicialmente, eles falaram com Rourke, de 42 anos, sobre fazer uma adaptação de A Megera Domada, mas quando isso não se concretizou, eles escolheram Mary Queen of Scots. Rourke, que nunca dirigiu para o cinema antes, amou a ideia e rapidamente ligou para seu amigo roteirista Beau Willimon, que sabia uma coisa ou outra sobre drama político por escrever House of Cards. Rourke e Willimon viram o filme como uma oportunidade para corrigir algumas ideia erradas de longa data sobre as primas. Mary, diz Rourke, foi ”pintada como má pela história”, sendo incompetente e sem experiência uma ”grande campanha desinformada sobre ela que durou até esse filme.” Elizabeth, diz Willimon, é popularmente imaginada como essa ”face armada de uma monarca, mais simbólica do que humana.”

Por contar sua versão da história, Rourke e Willimon humanizaram as duas mulheres, focando em sete anos, desde 1561 até 1568, após o retorno de Mary para a Escócia e o começo de sua guerra com Elizabeth pelos direitos do trono britânico que começou com uma batalha que envolveu palácios cheios de homens manipuladores (Jack Lowden como o vaidoso e alcoólico Lord Darnley; David Tennant como o fanático padre protestante John Knox) e terminou com Mary decapitada.

Em 2016, um rascunho do roteiro foi finalizado e Ronan, agora com 22 anos, estava realmente na idade perfeita para o papel de Mary (e tinha conseguido sua segunda indicação no Oscar por Brooklyn em 2015). O que estava faltando era uma Elizabeth. Foi Rourke que sugeriu Robbie, uma escolha que levantou as sobrancelhas na Working Title. ”Nenhum de nós tínhamos visto I, Tonya naquela época e pensamos, ‘Oh, isso é interessante,’” admitiu Bevan. Mas Rourke ficou impressionada com o rosto novo que ela viu em O Lobo de Wall Street. ”Eu pensei que ela era mais velha do que a idade que eu descobri na época porque sua performance tinha tanta maturidade,” diz a diretora. ”Eu a achei completamente fascinante.”

Robbie, no entanto, não queria ser rainha, pelo menos de primeira. ”Eu me lembro de pensar inicialmente, ‘Absolutamente não, eu não posso interpretar a Rainha Elizabeth,’” diz a atriz. ”Minha equipe ficou, ‘Qual o problema? O roteiro?’ E eu fiquei, ‘Não, o roteiro é incrível.’ ‘É a diretora?’ ‘Não, ela é incrível.’ ‘O que é?’ ‘Sou eu, eu não sou boa o suficiente!’” Em uma reunião em L.A, Rourke tentou seu melhor para convencer a jovem estrela de que ela era boa o bastante, até escreveu uma carta para Robbie explicando por que ela era a “pessoa essencial” para interpretar Elizabeth. Eventualmente, Robbie foi convencida.

Se ela soubesse o quão envolvida sua transformação seria, Robbie teria ficado com sua opinião. Ao contrário de Mary, que usa uma aparência inspirada nos franceses durante o filme, Elizabeth aparece com cabelo e maquiagem que é praticamente um efeito especial sozinho. Marcada pela varíola aos 20 anos, Elizabeth usava uma pintura branca no rosto e cobria seus fios finos com uma peruca vermelha e cacheada. Robbie passou horas na cadeira de maquiagem enquanto a maquiadora Jenny Shircore meticulosamente desenhava cicatrizes e cobria com pintura de rosto, só para Robbie saber que elas estavam lá. ”Maquiagem de método,” é como Shircore chama.

Enquanto isso, a estilista Alexandra Byrne, que trabalhou nos dois filmes de Blanchett sobre Elizabeth, foi descobrindo o guarda roupa, usando o tecido menos historicamente preciso imaginável – jeans. ”Os Elizabethanos teriam suado, molhado e secado em suas roupas, que ficavam moldadas em seus corpos,” Byrne explica. ”O jeans faz isso.” E também é barato, então Byrne conseguiu desenhar para a alegria do seu coração. Ainda assim, foi um pouco confuso para os atores. Quando Ronan viu o mood board de Byrne, cheio de fotos de pessoas usando jeans, ela pensou que tinha entrado no set errado. ”Eu fiquei, ‘Er, o que estou fazendo?’” ela lembra. ”E Alexandra apenas disse, ‘Confia em mim, isso vai funcionar.’”

Seguindo as duas semanas de ensaio, as filmagens de oito semanas começaram – em agosto de 2017 – no interior da Inglaterra, em terras antigas como Hardwick Hall em Derbyshire e a Catedral Gloucester do século 17, antes de mudarem para a Escócia. Durante as três primeiras semanas de filmagens, onde a maior parte das cenas de Robbie na Inglaterra foram filmadas e as de Ronan na Escócia estavam prestes a começar, as duas atrizes se encontraram em um celeiro em Buckinghamshire para filmar sua aguardada cena juntas.

Elas deliberadamente evitaram qualquer comunicação uma com a outra durante as semanas que levaram até aquele momento. Mesmo durante o dia da filmagem, quando elas estavam no mesmo lugar, elas ficaram fora de vista uma da outra se escondendo por trás de lençóis brancos pendurados sob vigas. Quando finalmente chegou a hora de ficarem frente a frente, elas estavam se vendo pela primeira vez.

”Foi uma animação pessoal porque ficamos separadas desde o começo,” observa Ronan. ”Fez a cena que tínhamos juntas ficar ainda mais poderosa.”

No entanto, uma coisa não é historicamente precisa. Como qualquer fã de história inglesa pode te contar, Mary e Elizabeth nunca se conheceram na vida real. Nem mesmo uma vez. No que diz respeito a Bevan, porém, a história não importa. ”Não ia funcionar se elas não tivessem se conhecido,” ele diz. ”Você se sentiria interrompido porque não teria o desfecho. Se não fizéssemos o encontro, teríamos que adicionar drama filmando alguma enorme cena de batalha. Mas filmar uma cena com Margot e Saoirse discutindo – uma cena escrita por Beau Willimon – isso é suculento. E consideravelmente mais barato.”

Willimon coloca o problema em termos mais filosóficos. ”Existem verdades históricas e verdades essenciais,” ele diz, ”e algumas vezes você precisa tomar algumas liberdades.”

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil