A revista People lançou uma edição especial do filme da Barbie, estrelando Margot Robbie e Ryan Gosling. O recheio da revista conta com entrevistas com o elenco e imagens inéditas. Confira a entrevista traduzida abaixo:

Como você começa a pensar na Barbie como personagem?
MARGOT ROBBIE:
O filme começa com a Barbie — a que eu interpreto — tendo uma crise existencial. Eu trabalhei no filme por muitos anos como produtora antes de começar a pensar nele como atriz. Então, de repente, disse: “Ah, é, preciso interpretar esse papel.” Eu disse para a Greta: “Não sei como interpretá-la sem que ela pareça burra.” A Barbie é extremamente inteligente, mas ela também nunca vivenciou nada. “Eu não quero que ela pareça vazia, mas ela não deveria ter conhecimento.” Por exemplo, a vergonha não deveria ser um conceito que ela possa imaginar, mas não porque ela não é inteligente e sim porque ela nunca se sentiu constrangida antes. Ela não encontrou algo que a fizesse duvidar antes — até começar a ter a crise existencial.
GRETA GERWIG: É claro que conheço a Barbie desde sempre, e há um tipo de memória coletiva que eu queria abordar, algo do tipo: Nós inventamos coisas como bonecas para explicar para nós mesmos o que é ser humano. Uma parte de mim se perguntou se havia uma maneira de permitir que essa boneca também tivesse essa humanidade. Não seria maravilhoso se a Rainha do Plástico ganhasse algo real?

Você pensou nas pessoas — adultos — que são obcecados pela Barbie assistindo ao filme?
GERWIG:
A Mattel foi muito generosa em abrir os arquivos e me levar até onde a marca está hoje em dia. Eles falaram sobre os colecionadores e os fãs que sabiam de toda a história, no investimento em bonecas diferentes específicas. Nós queríamos mostrar algumas das versões mais icônicas da boneca… e colocar alguns detalhes escondidos para pessoas que são muito fãs. Eu gosto de qualquer comunidade nerd e a comunidade de Barbie é muito nerd, e isso é muito lindo.

Como você se prepara para interpretar bonecos?
RYAN GOSLING:
Sinto que a Margot e a Greta invocaram o Ken de dentro de mim de alguma forma. É o primeiro e único roteiro que li em que havia sido escrito para mim. Então o feitiço já estava lançado quando li pela primeira vez. Foi como aquele momento em A História Sem Fim em que a criança que está lendo percebe que o personagem pode ouvi-lo.
ROBBIE: Foi divertido para nós descobrir: “Ok, o quanto vamos agir fisicamente como bonecos?” Decidimos no começo que não seríamos óbvios demais com esse tipo de coisa. Mais do que tudo, eu estava tentando parecer e agir menos como adulta e incorporar mais uma criança, o que foi muito divertido porque há tantos casos em que Ryan e eu damos um chilique imenso e é naturalmente engraçado assistir adultos dando chilique como uma criança de três anos de idade. Encontrar minha criança interior ajudou mais do que tentar fazer algo parecer rígido ou de plástico.

Conte-nos sobre seus personagens.
SIMU LIU:
O nome do meu Ken é Ken Simu. Não é todo dia que você interpreta um personagem com o seu nome. Todos os Kens — como digo isso? — não têm muito o que fazer da vida. As Barbies são médicas, vencedoras do prêmio Nobel, astronautas, físicas, autoras e tudo mais. Os Kens são apenas Kens, e na falta do que fazer, o trabalho deles é só Praia, o que consiste em ficar na praia esperando alguma Barbie validar a existência deles.
ISSA RAE: Greta questionou: Se essa fosse a sua versão criança, como ela vestiria a Barbie Presidente? Como a Barbie Presidente dela agiria? Ela é quem minha versão criança veria como presidente. Eu acho que ela impõe muito respeito. Mas cabe a você julgar.
KATE MCKINNON: A Barbie Estranha é aquela Barbie especial, ou várias Barbies especiais, que sinto que toda criança tinha e brincava um pouco demais com ela. Cortava o cabelo, depois cortava mais o cabelo, desenhava com canetinha no rosto, vestia as roupas das outras bonecas, e se tornavam um recipiente para os seus piores impulsos.

E ela está sempre com as pernas abertas. Como você conseguiu fazer isso?
MCKINNON:
Não é a minha perna. Foi um equipamento de perna falsa inventado de maneira engenhosa. Fiquei em pé por horas sem cansar.

Fantasias de Halloween incríveis vão sair desses personagens.
MCKINNON:
Eu espero. É o meu objetivo de vida: levar alegria para o meu feriado favorito.
GOSLING: Eu vi algumas no Halloween do ano passado. Vi um Ken de patins descendo a rua. Senti a Kenergia fervendo. É um Kenascimento.

Também há humanos no filme. O que você pode me dizer sobre a sua?
AMERICA FERRERA:
Gloria é uma humana que a Barbie encontra no mundo real… e a brincadeira começa. Acho que posso dizer isso. Fiquei tão boba e me senti tão sortuda quando Greta me ligou. Apesar da Barbie ter sido uma narrativa tão icônica para meninas, não parecia necessariamente como uma que era acessível para mim. O fato de que havia um espaço para alguém como eu dentro dessa narrativa é algo positivo e uma mudança real da que eu tive quando criança.

E existe o Allan. Para os principiantes, quem é Allan?
MICHAEL CERA:
O Allan é uma figura meio triste. Ele é contextualizado completamente por outra pessoa, o Ken, por quem ele dedica a vida. Ele e o Ken tiveram seus dias de glória, e agora que isso ficou para trás, não dá mais para voltar. Eu acho que esse boneco é um empreendimento fracassado. O mercado não demonstrou nenhum interesse por ele. Espero que esse filme mude isso e haja um ressurgimento dos bonecos do Allan. Pode ser uma história lenta e triunfante para esse carinha. Na verdade, eu comprei um boneco do Allan. Ficou no meu camarim durante o filme inteiro.
RAE: É hilário para mim que o Michael Cera tenha comprado um boneco do Allan. Digo, ele já é naturalmente engraçado, mas ele incorporou o boneco de um jeito perfeito. Então, não importa o método.

Como todas as Barbies e Kens se davam na vida real?
LIU:
A Margot é muito incrível. Ela fez uma festa do pijama com todas as Barbies antes das filmagens começarem e o Kens podiam visitar ou fazer uma ligação para dizer oi. Então, nos certificamos de demonstrar nosso apoio sem dominar o lugar com a nossa presença. E todas as Barbies e Kens participam de um grupo de mensagens.
CERA: Eu não tenho um iPhone… o meu é de abrir e fechar. Porém, acho que não caberia no grupo de mensagens de qualquer maneira porque o Allan fica no mundinho dele. O presente que a Greta me deu quando cheguei no set foi um disco de vinil estampado do álbum No Strings Attached do NSYNC, que pareceu uma verdadeira luz para me guiar até a história do personagem.
RAE: Eu cheguei tarde. Fiquei muito triste por ter perdido a festa do pijama. Mas houve várias atividades para criar laços. O aniversário do Simu foi durante as filmagens. E a Margot e o Tom [Ackerley, marido de Robbie e produtor] faziam noites de filmes.
GOSLING: A Margot fazia o dia rosa uma vez por semana em que todos precisavam usar algo rosa. Se você não usasse, seria multado. Ela passava coletando as multas e doava para uma caridade. O que foi muito especial foi a maneira como os homens da equipe ficaram animados. No final do filme, eles se juntaram e, com o próprio dinheiro, fizeram camisas rosas com franjas de arco-íris para a equipe. Foi a oportunidade de demonstrarem respeito e admiração pelo o que a Margot e a Greta estavam criando. Foi quase como naquela cena no final de Sociedade dos Poetas Mortos em que todos sobem na mesa e dizem: “Ó capitão! Meu capitão!”

Você foi multado?
GOSLING:
Não, eu usava muito rosa por conta do figurino do Ken.

Simu, Michael e Ryan são de Ontario. Houve algum vínculo entre os caras do Canadá?
GOSLING:
Você acabou de dizer Kenadá sem perceber? Tipo, Ken-adá. Somos todos Kenadenses.

Minha nossa. Sim! Ken-adenses! Mas o Michael diria que ele é o Allan.
GOSLING:
[Suspiro pesado] Ah. Allan.

Todos vocês cresceram com Barbies?
ROBBIE:
Eu não era muito fã da Barbie. Meu quarto não era repleto de Barbies. Minha irmã deve ter tido algumas, mas ela não me deixava brincar com elas. Minha prima tinha um monte. Eu gostava mais da Casa dos Sonhos, era o que eu tinha.
MCKINNON: Eu era mais de montar blocos.
FERRERA: Minha prima tinha muitas e muitas Barbies. Metade estava sempre sem roupa e com as pernas abertas, com certeza. Nós cortávamos os cabelos delas. Definitivamente tive a experiência de ser uma criança entediada com uma pobre Barbie desprotegida. E, é claro, se você tinha irmãos ou primos, você sabia que elas seriam corrompidas de alguma forma.
RAE: Minhas Barbies cumpriam cenários. Elas também era minha educação sexual quando eu ainda nem sabia o que era sexo. Eram minha oportunidade de brincar de Deus — as Barbies eram o The Sims para mim quando eu ainda não jogava The Sims. Também havia muito estigma associado à Barbie. Sentia que havia muita pressão, em termos de imagem, ao brincar com uma Barbie branca e meus pais se certificando de que eu tivesse uma Barbie negra para que eu me sentisse representada. As Barbies me conscientizaram sobre raça muito jovem… muita coisa estava nas costas da Barbie. Quando eu era criança, só queria brincar de faz de conta e fazer elas se beijarem.

O interessante é como essa Barbie funciona na visão de mundo de uma criança, mas como o filme também reconhece como os adultos entendem ela.
RAE:
Uma parte da genialidade do filme e da escrita da Greta e do Noah é que não se afasta de nada disso. Há uma enorme brincadeira, mas é uma inspeção tão rica sobre como criamos essa boneca para ser um brinquedo e depois colocamos todas essas expectativas nela, e a criticamos e ressentimos.
ROBBIE: O filme acaba indo em uma direção mais profunda. Não quero classificá-lo dizendo que é apenas sobre as complexidades de ser uma mulher. Acabamos tendo uma conversa sobre as complexidades do ser humano, na verdade.
RAE: Existem tantas Barbies diferentes na Barbielândia. Elas podem ser tudo. E o Ken, nem tanto. Eu lembro que tive um Ken Jean Jack e um Ken Black Beach que era muito bonito, tinha o cabelo ondulado e usava shorts lindos. Mas, tipo, isso é tudo que posso dizer sobre o Ken.

Para os meninos, talvez vocês não tivessem uma Barbie, mas sabiam da existência dela. Como ela se encaixa na vida de vocês?
GOSLING:
Minhas filhas me apresentaram. Acho que elas ficaram confusas sobre por que eu gostaria de interpretar o Ken. Elas não usam o Ken para nada. Há uma cena que exigia uma preparação maior da minha parte e minhas filhas estavam em casa durante os meses em que eu estava me preparando. Então, elas também se prepararam sem intenção. Depois, elas foram para o set naquele dia, me apoiaram e fizeram comigo fora das câmeras.
CERA: Nenhuma das minhas irmãs mergulharam fundo no mundo da Barbie, mas ficaram nas beiradas. Nossa casa era do tipo Polly Pocket e Cabbage Patch. Eu era mais Tartarugas Ninjas e os Caça-Fantasmas, basicamente.
LIU: O que posso dizer, sou um produto do patriarcado da época. Eu aprendi a brincar com figuras de ação. Caminhões de bombeiro e o He-Man eram legais, e sempre que alguém me mostrava uma Barbie ou qualquer coisa rosa, eu dizia: “Eca, que nojo.” Eu era só uma criança e éramos uma família de imigrantes, então os brinquedos que eu tinha eram comprados pelos meus pais em qualquer venda de garagem por perto. Eu sinceramente não fui muito exposto fisicamente a uma boneca Barbie. Agora, sei de muitos meninos que torturavam a boneca. Eu nunca fiz isso.

E você, Greta?
GERWIG:
Minha mãe desconfiava muito da Barbie, do mesmo modo que muitas mães — especialmente daquela geração, saindo da década de 1960 — também desconfiavam. Mas algumas meninas do bairro, que eram mais velhas do que eu, acabaram me dando as Barbies delas quando ficaram maduras demais para brincar com elas. Minha mãe cedeu eventualmente. Eu disse para ela: “O Papai Noel deve ser de verdade porque você nunca compraria uma Barbie para mim.” Eu tenho uma lembrança de brincar com elas sozinha, de criar histórias para elas. Na verdade, é um pouco difícil descrever essa brincadeira como uma adulta. Eu vejo meus filhos brincando e é muito bonito. Quando você fica mais velho, às vezes perde isso. Talvez, para mim, escrever seja a maneira de me conectar de volta com a brincadeira.

À medida em que você ficou mais velha e se conscientizou sobre a discussão em volta da Barbie — que o corpo dela era irreal e que isso poderia causar danos na autoestima das meninas —, o que você pensou sobre o assunto?
GERWIG:
De uma forma, fazer o filme foi como processar todas essas facetas diferentes. Parte do que Noah e eu fizemos no roteiro foi olhar para o começo da marca, quando ela se descreve como “Barbie Estereotipada”, e como estão diferentes hoje em dia do que até mesmo vinte anos atrás. Poder também, por meio dos personagens, realmente confrontar qual seria o argumento contra a Barbie. Não falar sobre isso seria uma óbvia omissão. O fascinante sobre a Barbie é que ela é uma coisa que você pode amar e ter muitas críticas a fazer. Ao mesmo tempo, a Barbie foi para a Lua antes que as mulheres pudessem ter um cartão de crédito, o que é meio extraordinário. Que lugar maravilhoso e rico em contradições para explorar.
FERRERA: Qualquer outra versão não faria sucesso hoje, qualquer versão que não aceitasse todos os sentimentos complexos das pessoas. A aceitação sem remorsos da Barbie sobre sua própria fabulosidade é um tanto revolucionário, que nesse mundo imaginário, há um lugar em que as meninas dizem: “Nós somos tudo e tudo de que precisamos.” O Ken tem um propósito, mas ele não é o ponto.
MCKINNON: A construção desse mundo é tão nítida e tem grandes ideias sobre a vida, política de gênero e todas essas coisas que estão ligadas de maneira subversiva, enquanto é, ao mesmo tempo, excêntrica e divertida.

Qual foi a reação do elenco quando entraram no set da Barbielândia pela primeira vez?
GOSLING:
Foi como imaginei o que a Dorothy sentiu quando entrou em O Mágico de Oz.
ROBBIE: Eu era obcecada pelas Casas dos Sonhos e não posso colocar em palavras como a experiência de assistir centenas de pessoas construírem a Casa dos Sonhos nesses sets incríveis foi surreal, além de assistir todas as coisas que brincávamos quando crianças se transformarem nos brinquedos em tamanho real na minha frente, e depois poder fisicamente descer no escorrega e acordar na cama.
RAE: Os cenógrafos colocaram cada pecinha, desde apontadores até pequenos enfeites que você nunca vai conseguir ver. A atenção ao detalhe foi excelente.
GERWIG: O rosa foi uma parte muito importante. Eu realmente queria me conectar com a minha memória emocional da Barbie, que era o rosa. Eu nunca quis esquecer o que eu amava quando criança: eu queria cores vivas, queria brilho, queria que fosse iridescente. Tínhamos, não sei, 500 paletas diferentes de rosa e sempre usávamos as mais vivas, as mais felizes. Não queria nada puxado para o salmão. Senti que estava honrando a criança dentro de mim.

Vocês desceram no escorrega quando não estavam filmando?
GOSLING:
Não… era o escorrega da Barbie. Respeitamos muito as coisas da Barbie.

Há também uma grande coreografia nesse filme.
RAE:
Foi o meu primeiro dia no set. Foi um sentimento tão esmagador porque eu não sou dançarina. Foi assustador encontrar o elenco inteiro pela primeira vez e ser jogada no meio de um número musical.
LIU: Em uma das minhas reuniões com a Greta, ela perguntou sobre minha história com a dança. Eu compartilhei que fui dançarino de competição de hip-hop na faculdade. Nunca vi a Greta ficar tão impressionada por qualquer outra coisa dita por mim até aquele momento. Tenho certeza que foi o que me fez conseguir o papel.
GOSLING: Eu amei trabalhar com o Simu, ele é tão bom em tudo. Basicamente todos os outros Kens e Barbies eram dançarinos.

Ryan, você já dançou, então não é como se fosse uma coisa estranha.
GOSLING:
Bom, eu pendurei minhas calças de dança há muito tempo. Precisei tirar a poeira delas.
CERA: Eu ainda tenho aqueles movimentos no meu corpo. Treinei de verdade.
FERRERA: Eu estava em um dos ensaios e eles precisavam de uma pessoa porque a Margot estava fazendo Coisas Importantes de Produtora. Eu disse: “Vou ser a Margot.” Aprendi a coreografia e continuei indo nos ensaios porque queria estar lá com todo mundo. Não tinha lugar para mim na dança. Eu não deveria estar lá.
GERWIG: Todos no set faziam o aquecimento. Digo, não era só os atores. A equipe da câmera fazia. Rodrigo Pietro, meu cinegrafista gênio, estava na frente fazendo a coreografia. Todos os homens no set sabiam a letra da música do Ken e cantavam. Foi extraordinário.

Como vocês conseguiram filmar sem rir em todas as tomadas?
ROBBIE:
Ryan é o ator com mais talento para comédia com quem já trabalhei. De verdade. Ele é conhecido por atuar em dramas, e com razão. Mas ele tem um talento inacreditável para comédia e eu arruinei a maioria das tomadas dele porque ficava rindo.
MCKINNON: É tão divertido tentar fazer a Margot sair do personagem. Ela não sai. Ela é uma profissional perfeita, mas é divertido tentar.
ROBBIE: Felizmente, já fiz um filme com a Kate [O Escândalo] e também já participei do SNL com ela. Eu a amo muito. Mas eu podia me preparar para o que ela fazia. Com o Ryan, toda vez era inesperado.
GERWIG: A Margot e o Ryan… é como assistir Carole Lombard e John Barrymore. Eles são absurdos, são muito bons. Eu tinha que me esconder atrás de uma barreira e morder alguma coisa para não rir e arruinar as tomadas.
LIU: A grande tragédia de trazer mestres como Will Ferrell e Kate McKinnon é que não importa quantas tomadas incríveis eles façam, você só pode escolher uma versão da cena.
GERWIG: A primeira vez em que o Ryan chegou no set usando uma roupa toda rosa… Eu não acreditei que ele ia usar aquilo. Digo, eu sabia como seria o figurino, mas quando ele realmente apareceu vestido de Ken, eu acho que nunca ri tanto.

O figurino é incrível. Vocês ficaram com alguma coisa?
ROBBIE:
Eu não fiquei com nada porque sempre estou no modo produtora pensando: “Não, precisam ser arquivados. Isso pertence ao estúdio, bla bla bla.” Depois, quando estou conversando com outros atores, eles dizem: “Ah, eu peguei isso” e eu penso: “Que droga, por que não peguei?”
MCKINNON: Eu não pude ficar com nada, não. Tive sorte de trabalhar junto à mestre do cabelo e maquiagem, Ivana Primorac, e à figurinista, Jacqueline Durran. Elas são artistas incríveis. Cada centímetro do visual foi pensado minuciosamente, o que é engraçado porque é para parecer que ela levou uma surra, basicamente.
LIU: Não sei se era permitido, mas há um… devo dizer, macacão do Ken. Desde o momento em que coloquei os olhos nele, soube que queria para sempre. É tão confortável, mas também é fabuloso e incrível.

Esse filme é único ou haverá um Universo Cinematográfico da Barbie?
GERWIG:
Eu espero que seja o lançamento de um mundo e de vários filmes diferentes da Barbie. Há tom, humor e alegria, e obviamente o mundo é tão lindo. Eu quero voltar para a Barbielândia.
ROBBIE: Greta tem uma coisa muito específica em que ela pode ser muito boba e muito inteligente ao mesmo tempo, além de ser muito emocionante. O humor dela nunca é cínico ou frio. É sempre caloroso e gentil, mas muito, muito bobo e meio que maluco e absurdo. Na verdade, acho que há uma nostalgia no tom. Para ser honesta, acho que não vejo um filme utilizando esse tipo de comédia há muito, muito tempo.

Com certeza pode sobreviver por meio dos tie-ins. Ryan, você já viu o boneco que a Mattel fez de você como Ken?
GOSLING:
Digamos que é uma coisa que você nunca pode desver. Outro Ken que minhas filhas não vão poder brincar.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil

Margot Robbie e as Barbies Issa Rae, Kate McKinnon, Hari Nef e Alexandra Shipp são capa da icônica revista TIME. A atriz e produtora do filme do momento conversa com a revista sobre a produção, além de participar de um vídeo brincando com as bonecas ao lado das atrizes. Leia:

Há muito a ser considerado sobre a Barbie, mas vamos começar com os pés dela. Perfeitamente arqueados, mas não totalmente em meia ponta — a posição ideal para caber em qualquer salto alto. Eles são instantaneamente reconhecíveis para qualquer pessoa que já brincou com a icônica boneca. Então, quando o trailer do filme da Barbie começou com uma cena da estrela Margot Robbie tirando os saltos, ainda na ponta dos pés, a internet explodiu. No TikTok, pessoas tentaram imitar a cena que viralizou com saltos ainda mais altos. O Wall Street Journal entrevistou um podólogo sobre a impossibilidade física do momento. “Eu preciso saber tudo”, tweetou Chrissy Teigen.

Robbie tem as respostas: A cena precisou de oito tomadas. Ela teve que segurar em uma barra para manter os pés flexionados. E, sim, são os pés dela. “Eu realmente não gosto quando outra pessoa faz as minhas mãos ou pés em uma cena de inserção”, diz ela.

Interpretar a Barbie é complicado, e não só porque requer uma força imensa na panturrilha. Já fiz reportagens sobre a Mattel, empresa-mãe da Barbie, pela maior parte da década e já participei de grupos de teste com mães e filhas. Alguns pais dizem que a Barbie inspira as crianças a se imaginarem como astronautas e figuras políticas. Porém, outros se recusam a comprar a boneca — com a cintura pequena e grandes seios — porque ela estabeleceu um padrão de beleza impossível para suas filhas, um problema que precipitou grandes mudanças no visual da boneca em 2016. Um filme da Barbie sempre seria complicado e o estúdio que está por trás da divulgação sabe disso. Como o trailer coloca: “Se você ama a Barbie, esse filme é para você. Se você odeia a Barbie, esse filme é para você.”

Robbie adiciona: “Se você se sente indiferente quanto a Barbie ou não pensa nela há anos, esse filme também é para você.”

Quando foi anunciado em 2021 que Greta Gerwig, que dirigiu as histórias de amadurecimento indicadas ao Oscar Lady Bird e Adoráveis Mulheres, estaria no comando de Barbie, os fãs ficaram confusos, surpresos e encantados. Talvez o filme fosse uma abordagem idiossincrática, subversiva e até feminista da boneca, não apenas um comercial para a Mattel. Porém, assim como a Barbie, a existência do filme é um exercício sobre contradições.

Se você está se perguntando se Barbie é uma sátira das ambições capitalistas de uma empresa de brinquedos, uma denúncia contundente do estado atual das relações de gênero e uma homenagem comovente, embora ocasionalmente clichê, ao poder feminino, ou um espetáculo musical repleto de músicas chicletes de Nicki Minaj e Dua Lipa, a resposta é sim. Todas as opções. E mais algumas.

Também é o filme mais aguardado do verão — se não do ano —, o que significa que muito depende de Barbie. Não apenas para Robbie e Gerwig, nenhuma já tendo produzido um filme dessa escala, mas também para a Mattel. Depois de um período de queda nas vendas, a Barbie recentemente revigorada está pronta para sua estreia nas telas. A mudança da Barbie para Hollywood é ideia do CEO da Mattel, Ynon Kreiz, que assumiu o cargo há cinco anos com a visão de alavancar a propriedade intelectual da empresa em um universo cinematográfico baseado nos brinquedos da Mattel.

Barbie será a prova do conceito quando chegar aos cinemas no dia 20 de julho, mas primeiro precisa enfrentar Tom Cruise (Missão: Impossível) e Christopher Nolan (Oppenheimer) na temporada de filmes de verão mais movimentada em anos. Se as projeções de estreia de 55 milhões de dólares de bilheteria se confirmarem, será graças à febre da Barbie. Qualquer coisa associada ao filme — um raro blockbuster direcionado para mulheres — tem sido recebida de maneira impressionante, desde fotos de paparazzi de Robbie com o colega de elenco Ryan Gosling (Ken) andando de patins em Venice Beach usando maiô fluorescente no ano passado até uma prévia que parodia de forma inteligente o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço. A Mattel criou parte do entusiasmo lançando cafés com a temática Barbie Malibu e anunciando parcerias com a Bloomingdale’s, a Crocs e a Hot Topic. Outros momentos sugerem um efeito bola de neve: Kim Kardashian recentemente fez uma festa com o tema da Barbie para a filha e celebridades estão sendo fotografadas usando mini vestidos rosa pink. (Embora, como o executivo da Mattel me lembra, o Barbiecore “não aconteceu do nada.”)

O que quer que o público pense de Barbie, Gerwig ainda parece não acreditar que conseguiu fazer essa versão. “Esse filme é um milagre do caramba”, diz. Ela o chama de “uma margarita surpreendentemente picante.” Quando você percebe que a borda salgada tem pimenta caiena misturada, é tarde demais. “Você já sentiu a doçura e então decide ir com a pimenta.”

Como uma cineasta que é mais conhecida por filmes reflexivos sobre a vida interior das mulheres escreve e dirige um filme sobre um brinquedo que não tem vida interior e é definida (principalmente) pela aparência? É simples: Gerwig ama bonecas.

“Eu brinquei com bonecas por tempo demais”, diz a diretora de 39 anos. “Eu ainda brincava no ensino médio. A galera estava bebendo e eu estava brincando de boneca.” A mãe de Gerwig não era fã da Barbie por razões feministas: “Ela passou pelos anos sessenta e dizia: “Para que fizemos aquilo tudo?’” Porém, brincar com Barbies provou ser um treinamento para o trabalho de Gerwig como contadora de histórias.

Gerwig e o parceiro, o cineasta Noah Baumbach, escreveram o roteiro em circunstâncias inusitadas. Depois de participarem de um acampamento de treinamento oferecido pela Mattel, que começou com uma aula de história sobre a inventora da Barbie, Ruth Handler, e envolveu um tour das roupas mais fabulosas (e vergonhosas) da Barbie, a pandemia aconteceu. Trancados em casa em Nova York, a dupla não recebeu as típicas anotações do estúdio enquanto faziam o rascunho. “Trabalhamos muito para dar espaço para eles e deixá-los criar o conceito do filme, sem interrupções, sem pressão das pessoas — nem a Mattel, nem a Warner Bros., nem nós”, diz Robbie, de 32 anos, cuja produtora LuckyChap produziu o filme. “Depois, quando eu vi o roteiro, pensei: “Não vão deixar a gente fazer esse filme. Esse roteiro está realmente abusando.’”

Então, o que exatamente é esse filme? Mesmo com o ataque de rosa da divulgação, a Warner Bros. conseguiu manter o enredo em segredo. Não estou aqui para dar spoilers do filme, que eu assisti no escritório temporário de Gerwig, um espaço cinza em Chelsea enfeitado com um capacho magenta da Barbie. Porém, posso compartilhar que é uma brincadeira divertida, embora autoconsciente, com toques de As Patricinhas de Beverly Hills e Legalmente Loira. Também é cheio de ideias e ocasionalmente dominado por elas.

O filme se passa na Barbielândia, uma utopia onde cada Barbie tem um trabalho impressionante. Como a narradora de Helen Mirren diz ironicamente, “todos os problemas do feminismo e da igualdade de direitos foram resolvidos.” As Barbies fazem festas do pijama todas as noites, durante as quais elas declaram o quanto se sentem bonitas e confiantes. Os Kens (interpretados por Gosling, Simu Liu e outros) existem como convenientes parceiros de dança. Mas então a Barbie de Robbie começa a pensar na mortalidade. Aqueles pés arqueados ficam planos. As celulites aparecem em suas coxas. Para combater essas mudanças, ela deve se aventurar no mundo real com o Ken, que tem se sentido como um mero acessório na vida dos sonhos da Barbie. O mundo real é, bem, real. Homens usando ternos na Mattel — liderada pelo CEO de Will Ferrell — fazem discursos falsos sobre o empoderamento feminino; pré-adolescentes criticam a Barbie por causar estragos na autoestima. Tanto a Barbie quanto o Ken partem em busca da auto descoberta, e é aí que as coisas ficam muito interessantes. (Não vou revelar a história do Ken, mas Gosling quase rouba a cena.)

Também há um número musical surpreendentemente balético que parece ter sido inspirado em Grease e Cantando na Chuva; uma sequência de perseguição de carros; uma mulher misteriosa em uma cozinha; uma piada recorrente sobre a paixão de Sylvester Stallone por casacos de pele. E isso tudo acontece antes das coisas ficarem filosóficas.

Cada um dos atores com quem conversei citou Gerwig e o roteiro inteligente como a razão pela qual participaram do filme. “Eu sabia que o filme não ia se afastar das partes da Barbie que são mais interessantes, mas potencialmente um pouco mais complicadas”, diz Hari Nef, que interpreta a Barbie médica. “A história contemporânea do feminismo e da positividade corporal… há questões sobre como a Barbie se encaixa nisso tudo.”

Esses pontos se provaram mais controversos com as entidades corporativas envolvidas. Robbie Brenner, a primeira produtora executiva da Mattel Films e arquiteta do universo cinematográfico, disse ao alto escalão da empresa: “Vocês vão ficar nervosos o tempo inteiro.”

Gerwig ganhou a confiança da fabricante dos brinquedos com a ajuda de Robbie. Em um momento, Richard Dickson, COO e presidente da Mattel, disse que pegou um avião até Londres para discutir com Gerwig e Robbie sobre uma cena em particular, que ele sentiu estar fora do tom. Dickson exagera sua exuberância naturalmente masculina, imitando-se marchando diretamente do avião até o encontro. Porém, Gerwig e Robbie representaram a cena e ele mudou de ideia. “Quando você olha no roteiro, não há nuance, a performance não está lá”, explica Robbie.

Robbie preparou o terreno para essa situação com o CEO da Mattel quando se encontrou com ele em 2018, na esperança de que a LuckyChap pudesse assumir o projeto do filme da Barbie. “Naquela primeira reunião, convencemos Ynon de que honraremos o legado da marca, mas se não reconhecermos certas coisas… se não dissermos, outra pessoa dirá”, diz ela. “Então, é melhor fazer parte da conversa.”

Kreiz organizou várias reuniões importantes sobre Barbie no Polo Lounge, um lugar famoso no Beverly Hills Hotel. Foi onde ele se encontrou com Robbie pela primeira vez e onde convidou Brenner para discutir a administração de filmes da Mattel. E então, Kreiz me convida, também, sem um pingo de ironia, para o Polo Lounge para falar sobre as outras conversas sobre Barbie que aconteceram no local. Kreiz foi o quarto CEO da Mattel em quatro anos quando assumiu o cargo em 2018. Ele orquestrou uma reviravolta que incluiu ir atrás do maior talento de Hollywood com uma proposta precisa que provou ser persuasiva. “Não queremos fazer filmes para vender mais brinquedos”, diz ele. “Temos nos saído bem vendendo brinquedos sem filmes.” (O filme ajuda: no dia que a Barbie da Margot Robbie foi à venda, se tornou a boneca mais vendida na Amazon.)

“A transição mais importante foi de ser uma empresa de brinquedos que fabricava itens para se tornar uma empresa de propriedade intelectual que gerencia franquias”, diz ele. É uma estratégia particularmente presciente em um momento em que a fadiga dos filmes de super-herói se instaurou e os estúdios estão desesperados para encontrar uma nova propriedade intelectual com uma base de fãs já existente — desde Super Mario Bros. até Dungeons & Dragons. A Mattel já anunciou quatorze filmes baseados em seus brinquedos, incluindo um filme da Hot Wheels produzido por J.J. Abrams e (curiosamente) um filme do Barney com Daniel Kaluuya. A expansão também inclui mais séries para o streaming, video games, e um parque de diversão da Mattel atualmente em construção no Arizona.

De uma mesa ao ar livre coberta por folhas, Kreiz aponta para o local onde ele se encontrou com Robbie. O CEO estava tão ansioso para falar com Robbie quanto ela estava para fazer um filme da Barbie. Antes de contratar Brenner como produtora executiva da Mattel Films, ele perguntou quem ela achava que deveria interpretar a icônica boneca. Brenner também sugeriu Robbie. “Ela é muito engraçada, profunda, é uma atriz fantástica e se parece…” Brenner faz uma pausa. “Ela é linda.”

É óbvio por que os dois executivos se concentraram em Robbie. Ela se parece com a Barbie. Ou, como o filme coloca, ela parece a “Barbie Estereotipada”. A distinção é importante. Apenas oito anos atrás, em 2015, as vendas da Barbie caíram para 900 milhões de dólares, o mais baixo em vinte e cinco anos. Então, em 2016, a Mattel fez a maior mudança na boneca desde que ela foi lançada em 1959. Em uma capa para a TIME, relatei sobre como, depois de lançar um leque maior de tons de pele e tipos de cabelo para as bonecas, a Mattel lançou três novos tipos de corpo, incluindo a Barbie com curvas. Funcionou (eventualmente). As vendas da Barbie aumentaram e alcançaram um recorde de 1,7 bilhões de dólares em 2021 antes de uma pequena queda em todo o setor no ano passado.

A Mattel esteve brincando com a ideia de um filme da Barbie desde 2009. Houveram rumores de que grandes estrelas (Amy Schumer, Anne Hathaway) e diretoras famosas como Patty Jenkins estavam no projeto antes de Robbie se encontrar com a empresa em 2018. Uma das razões pelas quais a Mattel resistiu em levar a Barbie para as grandes telas de cinema por tanto tempo é porque a empresa trabalhou muito para modernizar a marca e estabelecer que a Barbie não é apenas um corpo, uma personalidade, uma mulher. Atualmente existem 175 Barbies diferentes, com combinações diferentes de corpos, tons de pele e tipos de cabelo. E, no entanto, aqui está Margot Robbie no cartaz como a personificação da Barbie. Há um momento no filme em que Mirren faz uma piada irônica sobre Robbie ser bonita demais para ter inseguranças.

Dickson argumenta que a Barbie precisa parecer com Robbie para que o público que não acompanhou as atualizações da Mattel nos últimos anos vá ao cinema. “É claro que ela parece a Barbie”, diz ele. “Mas todas elas são a Barbie. É o elenco perfeito para expressar o que a Barbie é hoje em dia. E a Margot é a ponte.”

Robbie fica lisonjeada que os executivos da Mattel tenham pensado nela, mas ela nunca quis interpretar a única Barbie. “Se a Mattel não tivesse feito a mudança para existir uma multiplicidade de Barbies, eu acho que não teria tentado fazer um filme da boneca”, diz ela. “Não acho que você deve dizer: “Essa é a única versão da Barbie e é assim que as mulheres devem buscar ser, parecer e agir.’”

Issa Rae, de 38 anos, que interpreta a Barbie Presidente, argumenta que o objetivo do filme é mostrar um mundo em que o ideal singular não existe. “Minha preocupação era que o filme parecesse muito com o feminismo branco, mas acho que é autoconsciente”, diz ela. “A Barbielândia é perfeita, né? Representa a perfeição. Então, se a perfeição fosse apenas um monte de Barbies brancas, não sei se alguém concordaria com isso.”

Mas parece que a Mattel resistiu em parecer moderna demais. Em uma entrevista recente, Amy Schumer revelou que ela saiu do filme da Barbie que ia estrelar porque não era “feminista e descolado” como ela presume que o de Gerwig será. Dickson, que estava na diretoria da Mattel para outras discussões sobre filmes, não comenta sobre Schumer, mas reflete sobre experiências passadas: “Era uma questão de encontrar o talento certo que poderia apreciar a autenticidade da marca e dar vida para aquela controvérsia de uma maneira que, sim, faz piada de nós, mas possui um propósito e uma emoção no final.”

Mesmo assim, em uma entrevista para essa matéria, Brenner disse que o filme de Gerwig “não é feminista”, um sentimento repetido por outros executivos da Mattel com quem conversei. Foi um contraste enorme com a minha interpretação de filme e com as conversas que tive com muitos dos atores, que usaram o termo de maneira espontânea para descrever o roteiro. Quando repassei as palavras da Mattel para Robbie, ela arqueou as sobrancelhas. “Quem disse isso?” pergunta e depois suspira. “Não é questão de ser ou não ser. É um filme. É um filme que tem muito a ver com isso.” O mais importante, Robbie enfatiza para mim, é que “fazemos parte da piada. Não é um artigo de bajulação para a Barbie.”

O Corvette da Barbie não é qualquer conversível velho com uma pintura rosa. Se você colocar uma boneca no carro dela, ele é muito pequeno — o para-brisa termina no peito. Portanto, Gerwig insistiu que a versão em tamanho real fosse um pouco pequena para Robbie. O veículo da Barbie foi criado cuidadosamente como um modelo, e ampliado usando uma fórmula matemática para garantir que tudo na Barbielândia parecesse de brinquedo.

A equipe de Gerwig construiu uma vizinhança inteira feita de Casas dos Sonhos sem paredes. Os atores tiveram que ficar presos por cabos para que não caíssem do segundo andar. Os céus e nuvens no fundo foram pintados à mão para dar um aspecto de sala de brinquedos, bem como o resto do set.

“De uma perspectiva da produção, é maior do que qualquer coisa que já fizemos”, diz Tom Ackerley, de 33 anos, parceiro de produção e marido de Robbie. “Queríamos que você sentisse que poderia alcançar a tela e tocar nas coisas.” A LuckyChap contratou David Heyman, que produziu os filmes da saga Harry Potter, para ajudar a criar esse mundo fantástico. “Acho que nunca vimos ou veremos um filme com mais rosa”, diz Heyman. Gerwig apelidou de brincadeira a dupla de Ken David e Ken Tom.

Nem todos no filme tiveram um grande relacionamento com a Barbie na infância como Gerwig. Kate McKinnon preferia brincar com conchas que encontrava na praia ou pequenos animais de zoológico de plástico. “Eu não me via na Barbie quando era mais nova”, diz ela. “Eu me via em uma lagosta inflável.”

Porém, McKinnon, de 39 anos, observava a irmã e as amigas brincarem com as bonecas: elas cortavam o cabelo da Barbie, desenhavam no rosto dela e até colocavam fogo. Ela tem uma teoria: “Elas estavam externalizando como se sentiam, e elas se sentiam diferentes.” Então, quando Gerwig ofereceu o papel da Barbie Estranha para McKinnon, uma boneca que foi usada de maneira bastante agressiva no mundo real, ela agarrou a oportunidade. McKinnon ficou impressionada com a maneira como o roteiro lidava com o apego complicado à boneca. “O filme comenta com sinceridade sobre os sentimentos positivos e negativos”, diz ela. “É uma crítica cultural incisiva.”

Alexandra Shipp, que interpreta a Barbie Autora, também se projetava nas bonecas quando era criança. Shipp, de 31 anos, andou no carro temático da Barbie da Warner Bros. na Parada LGBTQ+ de West Hollywood neste ano e reflete sobre como a Barbie a ajudou a explorar aspectos de sua identidade. “Quando você é criança, seus brinquedos são uma extensão de quem você é de como você pode existir no mundo como uma adulta”, diz Shipp. “É claro, eu tinha Kens, mas quando brincava de casinha, duas Barbies criavam a Skipper.”

Nas redes sociais, Hari Nef, de 30 anos, publicou uma carta que ela escreveu para Gerwig e Robbie pedindo para interpretar uma das Barbies no filme. Ela diz que, como uma mulher trans, se sente ambivalente em relação à palavra boneca, uma gíria na cultura queer para mulheres trans, particularmente aquelas que celebram a alta feminilidade. A palavra pode ser inspiradora e opressiva ao mesmo tempo. “É uma palavra complicada que detém, pelo menos para mim, um padrão tão restrito criado pelo patriarcado que merece ser analisado, mas também é uma promessa da liberdade, segurança e pertencimento”, diz ela. “No mínimo, há uma performance suculenta de uma boneca em algum lugar.”

O mundo pode estar obcecado com os pés da Barbie, mas Gerwig gostaria que eu prestasse atenção nas mãos da boneca. A diretora está enfurnada em Nova York dando os retoques finais no filme e ela está ansiosa para se aprofundar em suas minúcias. A equipe de RP me lembra que nossa chamada no Zoom já acabou há muito tempo, mas Gerwig precisa de mais alguns minutos para apontar que há uma imagem específica no filme que possui uma semelhança notável com A Criação de Adão, de Michelangelo. Ela começa a apontar o dedo para baixo, imitando de maneira animada o momento em que Deus dá vida ao primeiro homem. Exceto que, na pintura filmada de Gerwig, a mão da criadora Ruth Handler toca na mão da Barbie.

“Está no mesmo percurso e ângulo da Capela Sistina”, diz ela. “Ninguém vai notar, então preciso dizer.” Há muito o que extrair da noção de Handler como Deus, criando a mulher perfeita, para ser colocada em um matriarcado idílico — e o caos inevitável que vai se instaurar quando a Barbie deixar o paraíso. Mas sempre que mergulho nas referências ou na política do filme com Gerwig ou com os atores, sou rapidamente lembrada por um executivo ou produtor que esse é um filme divertido de verão.

E é, em parte. É uma mistura de ambição corporativa e traços pessoais. Talvez isso seja um triunfo em uma época em que filmes sobre produtos estejam na moda. Somente nos meses anteriores vimos filmes baseados em um tênis da Nike (Air), um smartphone obsoleto (BlackBerry) e um salgadinho (Flamin’ Hot). Para a Mattel, Barbie é apenas o começo. Kreiz se entusiasma com a possibilidade de “mais filmes da Barbie.”

Robbie esquiva. Ela tem se envolvido em conversas, mas nada concreto. “Podemos seguir milhões de direções diferentes a partir daqui”, diz ela. “Mas acho que você cai em uma armadilha quando tenta montar um primeiro filme enquanto também planeja sequências.”

É difícil imaginar uma sequência, ou qualquer outro filme de brinquedo, tendo o impacto que Barbie já tem. “Procuramos criar filmes que se tornem eventos culturais”, diz Kreiz, e para isso a Mattel precisa de visionários para produzir algo mais intrigante do que um comercial de brinquedo. “Se você pode estimular cineastas como Greta e Noah a abraçar a oportunidade e ter liberdade criativa, você consegue causar um verdadeiro impacto.”

A própria Gerwig admite que “às vezes esses filmes podem ter uma qualidade hegemônica de capitalismo” e ela precisa encontrar maneiras de fazer o filme ter a cara dela. Ela adicionou filmagens dos amigos e família do elenco e da equipe, incluindo imagens que a própria Robbie filmou em uma câmera Super 8 ao longo dos anos, para dar um toque pessoal ao filme. É um filme caseiro bem no meio de um blockbuster de verão, e Gerwig chora toda vez que assiste aquela parte. “É como introduzir a humanidade em algo que todos pensam ser um pedaço de plástico.”

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil

Em uma matéria para a revista Rolling Stone, Margot Robbie comenta sobre a trilha sonora de Barbie, que conta com artistas como Dua Lipa, Nicki Minaj, Ice Spice, Karol G e muito mais. Leia:

Barbie começa a boneca favorita de todos em um dia perfeito: Ela tem um mundo perfeito repleto de outras Barbies perfeitas, que podem ter outra aparência e usar roupas diferentes, mas agem exatamente do mesmo jeito. E há o amor do Ken, cuja existência é principalmente um acessório para a Barbie. No dia seguinte, tudo dá muito, muito errado. Ao fundo, está tocando Pink, de Lizzo, uma música que descreve exatamente o que a Barbie está vivendo na tela — um toque exagerado dos clichês da televisão nos anos oitenta para construir o mundo em tons pasteis da boneca.

“As letras da Lizzo são tão engraçadas,” diz a Barbie principal, Margot Robbie, “e adicionam uma camada extra de comédia que achei genial.”

A trilha sonora de Barbie é uma das armas mais importantes no arsenal da diretora e roteirista Greta Gerwig. Ela estava buscando trechos musicais altamente específicos para muitas cenas do filme, o que significa que ela precisava de uma equipe a bordo desde o começo para dar vida para a visão.

“Você está ouvindo letras que estão respondendo ao que está acontecendo na tela, então a música se tornou mais do que apenas música — se tornou um dispositivo para potencializar o que o público está assistindo e vivenciando, se tornou a voz do público”, adiciona Robbie.

A gravadora Atlantic Records pegou o projeto no início, trabalhando em estreita colaboração com Gerwig e o marido, também roteirista, Noah Baumbach.

“Esse foi um projeto bastante competitivo no nosso cenário, mas acompanhamos Barbie por muito tempo”, diz Kevin Weaver, presidente da costa oeste da Atlantic Records. A gravadora foi uma parceira particularmente forte para esse projeto, tendo dominado o mercado de trilhas sonoras nos últimos anos, graças aos álbuns para os filmes Esquadrão Suicida e Aves de Rapina, de Margot Robbie, bem como os da franquia Velozes e Furiosos e o recente Daisy Jones & the Six.

A equipe de Barbie sabia que precisavam de duas músicas em particular o mais cedo possível: um número pop de parar o trânsito para uma cena de dança com uma grande coreografia e uma grande balada estilo anos oitenta para o Ken, interpretado por Ryan Gosling.

Foi quando o produtor e escritor vencedor do Oscar e sete vezes vencedor do Grammy Mark Ronson (Nasce uma Estrela) recebeu uma mensagem de texto de seu supervisor musical e amigo George Drakoulias. “Barbie?” era tudo o que dizia. Ronson participou de uma chamada no Zoom com a equipe de Barbie enquanto estavam na Inglaterra se preparando para as filmagens. Eles disseram que precisavam de pelo menos a base de uma música para a cena de parar o trânsito em duas semanas.

“Eu não leio muitos roteiros, mas era tudo o que eu queria em um filme”, Ronson lembra. “Eu pensei: “Se eu não conseguir esse trabalho, esse vai ser o meu filme favorito do ano.’”

Junto ao colaborador Andrew Wyatt, os dois criaram a batida do hit da pista de dança, Dance the Night, com base em uma seleção de músicas que Gerwig montou para eles. Felizmente, ela amou o que lhe foi enviado.

“Nós ensaiamos a coreografia com a batida da música antes que a letra fosse sobreposta”, Robbie lembra. “Se tornou um hino de Barbie no set. A hora dos ensaios da coreografia foi realmente a primeira oportunidade para todos os atores que interpretavam Barbies criarem laços e fazerem amizades.”

O disco pareceu o ponto de referência perfeito para o que a Barbie vivencia, especialmente depois de chegar no mundo real. Como Gerwig disse para Robbie: “O disco vem com a suposição de que as pessoas querem dançar e se divertir. Ele não percebeu que parou de ser descolado nos anos setenta. O disco não fazia ideia de que as pessoas começaram a ouvir punk rock. Ele ainda está lá, usando calças boca de sino, fazendo o que sempre fez.”

Dance the Night, que foi escrita para outra estrela de Barbie, Dua Lipa, está intrínseca no DNA do filme, de acordo com Weaver. Porém, Ronson e Wyatt também se tornaram integrais para a história: Juntos, a dupla compôs uma trilha instrumental para o filme, e Ronson serve como produtor executivo para a trilha sonora. Por quase um ano inteiro, Ronson ficou encarregado de ajudar a selecionar músicas que combinassem perfeitamente com o que Gerwig havia imaginado. A trilha sonora se formou exatamente como o filme: trabalhando em sincronia e colaborando um com o outro.

“[Gerwig] tinha uma visão para um mundo realmente diverso e único criado por ela”, explica Brandon Davis, vice-presidente executivo e co-diretor de pop A&R na Atlantic. “É por isso que você escuta, por exemplo, uma música da Karol G que vai mais para o reggaeton ao lado de uma música do Dominic Fike que é uma referência para Sugar Ray.”

Enquanto Barbie estava sendo editado, Ronson e Gerwig criaram o hábito de mostrar cenas do filme para um novo artista da lista de desejos deles a cada semana.

“Todos assistiam a uma cena, voltavam uma ou duas semanas depois e iam direto ao ponto de tudo que estávamos tentando fazer”, diz Ronson.

Uma das primeiras ligações que ele fez foi para a amiga Charli XCX, uma grande fã da Barbie que diz que sua primeira apresentação ao vivo foi uma versão a cappella de Barbie Girl, do AQUA, quando ela tinha quatro anos em um show de talentos de um cruzeiro. (Ela venceu.)

“Meus pais disseram: “Ai, meu Deus. Não.” Eles estavam muito preocupados que eu subisse no palco e chorasse, e seria um desastre”, ela explica. “Mas eu estava convencida de que queria fazer aquilo. Eu apenas cantei no microfone com uma nova música — a canção inteira — e ganhei o concurso.”

Ronson e Gerwig deram algumas cenas para Charli XCX escolher, mas a maior amante de hinos sobre carros do pop ficou viciada na cena de perseguição, e acabou escrevendo Speed Drive.

“Eu sempre gostei de cantar sobre carros”, diz ela. “Para mim, há uma ligação intrínseca entre dirigir, música e sentir que você é uma estrela quando está em um carro.”

Ela queria que Speed Drive, em que ela inverte Mickey, de Toni Basil, para o refrão, fosse “bastante revoltada” e “apenas sobre ser gostosa”.

Quanto a música do AQUA mencionada anteriormente, os fãs ficaram indignados quando o grupo dinamarquês contou para a imprensa no ano passado que o hit pop de 1997 não estaria no filme. Mesmo sem estar no roteiro, o plano de Gerwig desde o início era encontrar um lugar para a música, especialmente porque Robbie e os outros estavam implorando.

“Eu disse: “Greta, como vamos incorporar essa música? Não podemos fazer um filme da Barbie sem uma referência para Barbie Girl do AQUA. Precisa estar no filme.” E [Greta] disse: “Não se preocupe, vamos encontrar um jeito legal de incorporá-la’”, lembra Robbie.

Robbie continua: “E depois, ela disse: “Adivinha quem vai fazer o remix de Barbie Girl? Nicki Minaj e Ice Spice.” E eu respondi: “Juntas? Tá brincando?!” Eu soube imediatamente que todas as minhas amigas iam surtar.”

Para Ronson, o maestro musical, conseguir a rainha dos Barbz para um rap em uma versão estendida de Barbie Girl foi algo muito fácil.

“Sinto que as pessoas têm pedido para a Nicki rimar em alguma versão de Barbie Girl por uns quinze anos”, diz Ronson.

Quanto a Ice Spice, foi quase impossível fechar com a rapper que está extremamente em demanda. Ela deveria ter ido ao estúdio durante o dia para gravar seus versos, mas não conseguiu chegar até depois da meia-noite. Ronson, que já estava se aprontando para dormir “como um velho”, foi de bicicleta até o estúdio no meio da noite para fazer a música acontecer.

Karol G também se certificou de tirar um tempinho de um ano maluco para criar a faixa “louca e estridente” Watati. Ela foi convidada musical do SNL apenas seis horas depois de estar sentada no estúdio de Ronson assistindo as cenas de Barbie. PinkPantheress pode não ter tido Barbies quando era criança (“Só porque minha mãe não comprou para mim”, compartilha), mas ela estudou a filmografia de Gerwig quando estava na escola, uma vez que sonhava em se tornar atriz antes de seguir com a música. Ela ficou muito animada com a possibilidade de trabalhar com a diretora, o que inspirou a sonoridade da melancólica Angel.

Tendo passado a maior parte do ano no mundo da Barbie, Ronson ainda não está pronto para ir embora. “Esse filme é bonito de uma maneira insana e visualmente cativante”, diz ele. “Você poderia pausar na cena mais aleatória em qualquer momento dele e ficar encarando por uma hora como se fosse um quadro no Louvre porque há centenas de tons de rosa.”

No início da jornada, Ronson comprou uma variedade de Barbies na Toys R Us e as colocou no estúdio (assim como alguns Kens que a Mattel precisou enviar porque ele não conseguia encontrá-los em nenhuma loja). Quando seu trabalho no filme estava terminando, ele se tornou pai pela primeira vez de uma menininha.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil

Incorporando a Barbie para a capa e recheio da edição de junho/julho da Vogue, Margot Robbie fala sobre o filme em uma entrevista detalhando os passos da produção com participação da diretora, Greta Gerwig, da equipe e do elenco. Veja o ensaio e leia a entrevista abaixo:

Margot Robbie não era fanática pela Barbie quando era criança. Ela nem ao menos tem certeza se já teve uma Barbie. “Eu acho que não”, ela me diz no café da manhã em Venice Beach. “Eu sei que a minha prima tinha várias Barbies e eu ia para a casa dela.” Crescendo em Gold Coast, na Austrália, Robbie passou muito tempo ao ar livre. Ela e a prima faziam tortas de lama. Brincavam com carrinhos. E brincavam com Barbies. Na maioria das vezes, elas construíam fortes, “cubbies” em inglês australiano. “Era o que fazíamos todos os dias.”

Estamos a alguns quarteirões do calçadão de Venice, no Great White, um restaurante australiano, e eu perguntei para Robbie o que a levou a produzir e estrelar em um filme live-action da Barbie, que estreia em julho. “Não é que eu sempre quis interpretar a Barbie ou sonhava em ser a Barbie, nada do tipo”, disse a atriz de 32 anos. “Isso vai soar idiota, mas eu realmente nem pensava em interpretar a Barbie até anos depois do desenvolvimento do projeto.”

Não soa idiota, mas a noção de que Robbie, que teve seu papel de estreia em O Lobo de Wall Street descrito no roteiro do filme como “a loira mais gostosa do mundo”, não se via no papel da Barbie quando buscou os direitos para cinema da Mattel, parece contraditória. E, no entanto, a pessoa sentada do outro lado da mesa não parece um mulherão. Não no sentido convencional, de qualquer forma.

Robbie está usando uma blusa vintage de mangas longas da Harley-Davidson e um macacão curto e justo, o tipo de coisa que uma lutadora adolescente usaria para treinar. “Me faz parecer uma criançona”, diz ela sobre o macacão em um momento. (Não faz nada disso). Nos pés, ela usa tênis New Balance e meias listradas de academia que ela comprou recentemente no Japão, com os dizeres “Você é garoto da cidade?” em torno dos calcanhares. O cabelo dela está preso para trás em duas tranças francesas, exibindo brincos dourados de sereia que ela comprou em Ibiza. Embora ela seja incrivelmente linda, a aura de Robbie é como de uma fada e um pouco selvagem. É fácil imaginar que ela tenha acabado de fugir de um circo.

Uma certa fisicalidade praiana era evidente de longe. Para essa entrevista, Robbie queria ir andar de patins. Presumi que alugaríamos rollerblades. Acontece que Robbie tem os dela e achou que eu também tinha. (Não tenho.) Robbie então ofereceu-me um de seus pares porque ela também tem patins antigos. (Mais tarde, quando estou colocando os rollerblades, descubro que eles não possuem freio. “Espera, cadê os freios?” pergunto. “Ahhhhh,” responde ela, soltando uma risada rouca. “Esqueci. Tirei os freios porque odeio frear.”)

Os planos estavam feitos. Depois do café da manhã, iríamos andar de patins no calçadão, depois caminharíamos até a sorveteria favorita de Robbie, Salt & Straw. Robbie precisava sair às 14h em ponto, fui avisada. Ela tinha uma reunião às 15h com o roteirista de O Urso do Pó Branco, Jimmy Warden, cuja estreia como diretor está sendo produzida pela LuckyChap. Essa última combinação de detalhes começa a transmitir a atmosfera geral da verdadeira Margot Robbie: Ela chegará com vários patins sem freio, e sairá às duas em ponto.

Entre mordidas em torradas de abacate, sanduíches de queijo Halloumi e bacon à moda australiana — “Torra bastante”, diz ela para o garçom —, Robbie me conta a história de origem de Barbie em uma velocidade no estilo O Sucesso a Qualquer Preço. Houve tentativas anteriores de fazer um filme da Barbie. Amy Schumer esteve no elenco em um momento. Anne Hathaway, também. Esses projetos nunca saíram do papel. Robbie ficou vigiando o status. Como produtora, ela viu um grande potencial na marca Barbie. “A palavra em si é mais reconhecida ao redor do mundo do que praticamente qualquer outra coisa, exceto pela Coca-Cola.”

Em 2018, Robbie sentiu uma abertura. Então, ela se encontrou com o CEO da Mattel, Ynon Kreiz, no Polo Lounge. A reunião era para apresentar a Luckychap, produtora que ela dirige ao lado do amigo, Josey McNamara, e do marido, Tom Ackerley, para a Mattel. “Somos a Luckychap”, disse ela. “Essa é a nossa produtora. Isso é o que fazemos e o que defendemos. É por isso que deveríamos fazer o filme da Barbie. E faríamos dessa forma.”

A LuckyChap não tinha um conceito específico em mente, mas eles sabiam de uma coisa. “É claro que queríamos honrar o legado de 60 anos que a marca possui,” diz Robbie. “Mas temos que reconhecer que existem muitas pessoas que não são fãs da Barbie. Na verdade, não são apenas indiferentes à Barbie. Elas odeiam a Barbie de verdade. E possuem um problema sério com ela. Precisamos encontrar uma maneira de reconhecer isso.”

Houve reuniões maiores com a Mattel, depois com a Warner Bros., onde a LuckyChap tinha um contrato de exclusividade na época. Eventualmente, Robbie começou a falar com Greta Gerwig sobre escrever e dirigir o filme. “Eu estava com muito medo dela dizer não”, disse Robbie. “Naquela época, era assustador aceitar uma coisa assim. As pessoas diziam: “Você vai fazer isso?’” Mas Gerwig aceitou, com a condição que pudesse escrever com o parceiro, Noah Baumbach. “Parecia brilhante para mim de um jeito promissor”, disse Gerwig mais tarde. “Fui eu quem disse: “Noah e eu vamos escrever.” (Baumbach: “Ela me deu a notícia depois que já estávamos escrevendo.”)

A Luckychap queria que Gerwig e Baumbach tivessem liberdade criativa completa. “Ao mesmo tempo,” diz Robbie, “temos duas empresas gigantes, Warner Bros. e Mattel, nervosas dizendo: “Quais são os planos deles? O que vão fazer? Qual vai ser o enredo? O que ela vai falar?” Eles tinham milhões de perguntas.” No fim, a LuckyChap encontrou uma maneira de estruturar um acordo para que Gerwig e Baumbach tivessem a liberdade de escrever o que quisessem, “o que foi muito difícil.”

Gerwig e Baumbach compartilharam um mimo, Robbie adiciona: “Greta escreveu um poema abstrato sobre a Barbie. E quando digo abstrato, quero dizer muito abstrato.” (Gerwig se recusa a ler o poema para mim, mas diz que “possui semelhanças com o Credo dos Apóstolos.”) Ninguém na LuckyChap, Mattel ou Warner Bros. viu qualquer página do roteiro até estar finalizado.

Quando peço para Gerwig e Baumbach para descrever o processo de escrita de Barbie, as palavras “desimpedido” e “livre” são usadas muitas vezes. O projeto parecia ter “uma grande abertura”, Gerwig me conta. “Realmente havia um tipo de caminho desimpedido, livre, que podíamos continuar seguindo”, diz Baumbach. Parte disso teve a ver com o fato de que seus personagens eram bonecas. “É como se você estivesse brincando de boneca quando você escreve algo, e nesse caso, é claro, havia essa camada extra de que eram realmente bonecas”, relata Baumbach. “Foi uma brincadeira literalmente imaginativa”, disse Gerwig. O fato de estarem escrevendo o roteiro durante o lockdown também foi importante, relata Baumbach. “Estávamos na pandemia e todos estavam com aquele sentimento de quem sabe o que será do mundo. Isso também deu um gás. O sentimento de bom, não vai dar em nada.”

Robbie e Ackerley leram o roteiro de Barbie ao mesmo tempo. Uma certa piada na primeira página os deixou de queixos caídos. “Nós olhamos um para o outro, puro pânico em nossos rostos,” lembra Robbie. “Pensamos: “Puta merda.’” Quando Robbie terminou de ler, “acho que a primeira coisa que eu disse para o Tom foi: “Isso é genial. Que pena que não vamos conseguir fazer esse filme.”

A LuckyChap fez o filme, é claro, e é realmente aquele que Gerwig e Baumbach escreveram. (Infelizmente, a piada da primeira página já era.) Se você viu o trailer lançado em dezembro, você viu o começo do filme. É uma paródia da cena A Aurora do Homem de 2001: Uma Odisseia no Espaço. Porém, em vez de macacos descobrindo ferramentas na presença de um monólito, menininhas quebram suas bonecas bebês na presença de uma Barbie gigantesca. Robbie, caracterizada como Barbie, aparece usando um maiô preto e branco e saltos altos. Ela abaixa lentamente um par de óculos de sol branco e dá uma piscadinha.

Eu vi mais um pouco do filme em uma manhã no lote da Warner Bros. Depois da paródia de Kubrick, nós seguimos para uma experiência na Barbielândia, “uma louca fantasia de beleza”, como Sarah Greenwood, a cenógrafa do filme, descreve mais tarde. A Barbie acorda em sua Casa dos Sonhos e embarca no Dia Perfeito, acompanhada de uma canção original que serve de trilha sonora. (Não posso contar quem canta.) Tudo em todos os lugares é rosa. “Nunca mergulhei tão fundo no rosa em toda minha vida”, disse Greenwood. O mundo perfeitamente falso e saturado da Barbie possui muitas das peculiaridades e limitações físicas da versão em brinquedo. O ambiente nem sempre é tridimensional e a escala de tudo é um pouco estranha. Barbie é um pouco grande demais para a casa dela e para o carro. Quando ela toma banho, não tem água. Os pés descalços permanecem arqueados.

O maiô que Robbie usa na sequência da Aurora da Mulher é uma réplica do que foi usado pela primeira boneca Barbie em 1959. Durante o Dia Perfeito, a Barbie muda de roupas constantemente. A progressão — uma saia de poodle, um look disco — equivale a uma pesquisa sobre a moda da Barbie durante os anos, diz Jacqueline Durran, figurinista do filme. (De maneira sensata, a pesquisa não inclui roupas mais retrógradas do passado da Barbie, como a da Festa do Pijama de 1965, que vinha com uma pequena balança de banheiro parada em 49kg e um livro intitulado Como Perder Peso que aconselhava: “Não coma.”)

“O principal sobre a Barbie é que ela se veste com uma intenção”, Durran me conta. “A Barbie não se veste para o dia, ela se veste para uma tarefa.” A tarefa pode ser uma atividade de lazer ou um emprego. Uma cena zomba da maneira como o universo da Barbie parece misturar as duas coisas. “Meu trabalho é só a praia”, explica o Ken.

O Ken é interpretado com uma desenvoltura idiota por Ryan Gosling. “A melhor versão de Ryan Gosling já exibida nas telas”, na avaliação de Robbie. (Gosling: “Ken não estava realmente na minha lista de desejos. Mas, para ser justo, não tenho uma lista de desejos. Então pensei em dar uma chance.”) Na Barbielândia, o Ken é basicamente outro acessório de moda. “A Barbie tem um ótimo dia todos os dias”, ouvimos em uma narração feita por Helen Mirren. “O Ken só tem um ótimo dia se a Barbie olhar para ele.” A Mattel introduziu o primeiro boneco Ken em 1962, em resposta a cartas exigindo que a Barbie tivesse um namorado. “A Barbie foi inventada primeiro”, aponta Gerwig. “O Ken foi inventado depois da Barbie, para abrilhantar a posição dela aos nossos olhos e aos olhos do mundo. Esse tipo de mito da criação é o oposto do mito da criação em Gênesis.”

Assim como a Barbie recebeu grandes seios sem mamilos, o Ken ganhou uma “protuberância” suave, como a Mattel se referiu na época. Juntos, sua anatomia parcial peculiar sugere um mundo escondido de coisas de adultos. Gerwig: “Você sente que há algo lá, o que faz parte do fascínio. Não está claro como tudo isso funciona, mas não passa batido.” Esse sentimento vago de mistério é capturado em uma troca cômica que a Barbie e o Ken têm na frente da Casa dos Sonhos. “Pensei em ficar aqui essa noite”, diz o Ken. “Por quê?” pergunta a Barbie. “Porque somos namorada e namorado”, responde o Ken. “Para fazer o que?” questiona Barbie. “Não sei direito”, afirma o Ken.

Barbie conquistou amigas durante os anos. Primeiro veio Midge, sua melhor amiga de anos, e depois Christie, uma das primeiras amigas negras da Barbie. (A Mattel não apresentou uma Barbie negra até 1980 e um documentário futuro, Black Barbie, explora seu legado.) Quando Gerwig fez um tour pela Mattel, ela descobriu que a maioria das bonecas da linha Barbie se chamam Barbie. “Nem todas as bonecas se chamam Barbie. Todas são a Barbie e a Barbie é todas elas. Filosoficamente, pensei: “Bem, isso é interessante.’” Quando mais ela pensava nisso, mais a multiplicidade das Barbies sugeria “uma ideia expansiva de identidade com a qual todos poderíamos aprender.”

Durante o processo de elenco, Gerwig e Robbie procuraram pela “energia da Barbie”, uma certa combinação indescritível de beleza e exuberância que elas concluíram estar incorporada em Gal Gadot. Robbie: “Gal Gadot é a energia da Barbie. Ela é tão incrivelmente linda, mas você não a odeia por ser assim, porque ela é tão sincera e gentil de uma maneira tão entusiasmada que chega a ser boba. É um passo antes de se tornar boba.” (Gadot não estava disponível.) Elas encontraram suas Barbies em Issa Rae, Hari Nef, Emma Mackey, Dua Lipa, Sharon Rooney, Ana Cruz Kayne, Alexandra Shipp, Kate McKinnon e outras. (Há vários Kens também). Nessa coleção, Rae é a Barbie Presidente. Robbie é a Barbie Estereotipada.

Antes das filmagens começarem em Londres, Gerwig deu uma festa do pijama para as Barbies no Hotel Claridge. Os Kens foram convidados para dar uma passadinha, mas não para ficar a noite. (Gosling não pôde comparecer, então mandou um telegrama musical na forma de um idoso escocês usando um kilt que tocava gaita de fole e fazia o discurso de Coração Valente.) Quando a produção estava em andamento, a LuckyChap organizava sessões semanais de filmes no Eletric Cinema em Notting Hill. Todo domingo de manhã, o elenco e a equipe eram convidados para assistir a um filme que serviu de referência para Barbie. Eles chamavam de “igreja do cinema.”

Gerwig teve a sensação de que Barbie estava sendo guiado por antigos musicais Tecnicolor gravados em estúdios, então eles assistiram vários do gênero, os mais úteis sendo Os Sapatinhos Vermelhos e Os Guarda-Chuvas do Amor. “Eles possuem um nível tão alto do que chamamos de artificialidade autêntica”, diz Gerwig. “Você tem um céu pintado em um estúdio. É uma ilusão, mas também está realmente lá. O cenário pintado está realmente lá. A tangibilidade do artifício é algo que sempre revisitamos.” O diretor de fotografia, Rodrigo Pietro, que filmou O Lobo de Wall Street, Babel, Argo e O Segredo de Brokeback Mountain, criou uma paleta de cores especial para Barbie mantendo isso em mente. Gerwig chamou de Tecni-Barbie.

Todo protagonista precisa ter uma jornada de herói e a Barbie Estereotipada não é exceção. O primeiro sinal de problema aparece durante uma coreografia de dança em grupo. Dançando a coreografia na frente do grupo, ela de repente vira para outra Barbie e pergunta: “Vocês já pensaram na morte?” Mais tarde, ela acorda e descobre que seus pés não estão mais arqueados. “Não tenho contexto para isso, mas meus calcanhares estão tocando o chão”, diz ela. “Você está com defeito”, responde outra Barbie.

Eventualmente, a Barbie Estereotipada vai para o “mundo real”. Não sei por que ela faz essa aventura em particular porque só me permitiram assistir os primeiros 20 minutos do filme, e então, avançando, os primeiros momentos no mundo real. Eu sei que o Ken vai com ela. Se você viu as fotos de Robbie e Gosling andando de patins no calçadão de Venice no ano passado usando neon da cabeça aos pés — as fotos que começaram uma tendência de rosa choque com a hashtag Barbiecore no TikTok e nas passarelas —, você viu um pouco do pouso alienígena de Barbie e Ken.

Depois do café da manhã, Robbie e eu passeamos de patins no calçadão. Como esperado, Robbie está completamente à vontade. Ela aprendeu a andar depois que patinou no gelo em Eu, Tonya, a biografia da LuckyChap sobre Tonya Harding, e por isso ela não gosta de freios. “Nunca tive freios nos patins de gelo, então isso me atrapalharia.”

Passamos pelo lugar em que ela filmou as cenas do mundo real no ano passado, depois paramos no parque de dança de patins e assistimos os dançarinos rodopiarem. “Já fui uma vez”, diz Robbie quando pergunto. “Em Babilônia, uma das figurantes era uma patinadora muito descolada no Instagram e estávamos conversando sobre patins. Eu perguntei: “Você quer me ensinar algumas manobras no fim de semana?” E ela respondeu: “Sim, claro.” Então, fomos e ela fez a gentileza de me ensinar a dançar de patins.”

Durante o dia, pergunto várias vezes para Robbie como ela encontrou sua personagem como Barbie. Mais tarde, entrevistando o resto do elenco, começo a entender que, em um filme com um elenco nessa escala, nenhum personagem existe sem os outros. Como Ana Cruz Kayne explica, consiste em encontrar o seu espaço no grupo. “É como quando uma criança mais nova pergunta na Festa da Libertação: “O que torna essa noite diferente das outras?” É tipo, o que torna essa Barbie diferente das outras?”

Hari Nef tomou uma decisão particular sobre o dono de sua Barbie. “Um colecionador de bonecas”, Nef me conta. “Um homem gay de 50 anos que vive em um apartamento alugado em West Village.” Ela pegou essa dica de seus figurinos. “Fiquei com os figurinos mais exagerados, fashion e loucos. E eu pensei: “Essa não é uma boneca de uma criança.” Além disso, sua Barbie parece bem preservada. “Tenho a sensação de que toda semana ele convida dois ou três amigos, talvez ele seja um pouco solitário, e mostra minha nova roupa. E eu fico dentro da minha caixa.”

Gosling desvia quando pergunto como ele encontrou seu personagem — “Não seria muito Ken da minha parte falar sobre o Ken” —, porém diz que Robbie deu uma ajuda. “Ela deixava um presente rosa com um laço rosa, da Barbie para o Ken, todos os dias enquanto filmávamos. Todos os presentes tinham relação com praia, como um colar de conchas ou uma placa que dizia “Reze pelo surf” porque o trabalho do Ken é só a praia. Eu nunca entendi o que isso significa. Porém, senti que ela estava tentando ajudar o Ken a entender por meio desses presentes.”

A Barbie Estereotipada foi dura de roer. Geralmente, Robbie acha algo chamado “trabalho animal” útil. Tonya era um pitbull na vida e uma égua selvagem no gelo. Nellie, a personagem de Robbie em Babilônia, era um polvo e um texugo do mel. Um polvo porque eles são sobreviventes, possuem muitas terminações nervosas, fluidez e mudam de aparência. Um texugo do mel porque possuem costas quadradas e pele grossa. “São animais insanos”, diz Robbie. “Você pode bater em um texugo do mel com um facão.” Com a Barbie, o trabalho animal não foi útil. Robbie tentou um flamingo, mas não chegou a lugar algum. Em um momento, ela estava realmente com dificuldade. “Eu disse: “Greta, preciso passar por essa jornada de personagem.” E a Greta disse: “Ah, eu tenho um podcast muito bom pra você.’” Gerwig enviou um episódio de This American Life, sobre uma mulher que não faz introspecção, para Robbie. “Sabe como você tem uma voz na sua cabeça o tempo todo?” diz Robbie. “Essa mulher, ela não tem essa voz na cabeça dela.”

Para resolver a questão da sensualidade, Robbie precisou destrinchá-la. “Tipo, tudo bem, ela é uma boneca. É uma boneca de plástico. Ela não possui órgãos. Se ela não possui órgãos, ela não possui órgãos reprodutivos. Se ela não tem órgãos reprodutivos, ela sentiria desejo sexual? Não, acho que não poderia.” Portanto: “Ela é sexualizada. Porém, ela nunca deveria ser sexy. As pessoas podem projetar sexo nela.” Logo: “Sim, ela pode usar uma saia curta, mas porque é divertido e é rosa. Não porque ela quer que você olhe para a bunda dela.”

Tentei extrair mais detalhes sobre o resto de Barbie. O enredo é parcialmente inspirado em algo que Gerwig leu quando era criança, no bestseller de 1994, Reviving Ophelia. “Minha mãe pegava uns livros na biblioteca sobre maternidade e depois eu lia”, diz Gerwig. O livro descreve uma mudança abrupta que acontece com as meninas americanas quando elas chegam na adolescência e começam a se curvar às expectativas externas. “Elas são engraçadas, ousadas, confiantes e então, elas só… param”, relata Gerwig. Essa memória apareceu no começo da escrita e Gerwig achou “chocante”, a percepção de que era para onde a história precisava ir. “Como essa jornada é a mesma de uma menina adolescente? Do nada, ela pensa: “Ah, eu não sou boa o bastante.’”

Há uma paleta de cores completamente diferente para o mundo real, Pietro menciona quando nos falamos. Tecni-Barbie é apenas para o mundo da Barbie. “Queríamos criar um visual diferente para a Barbie, para o mundo dela, em oposição ao mundo real”, diz Pietro.

Além disso, o padrão de fala de Robbie muda. Ela menciona isso quando descreve a falta de sotaque da Barbie. (A Barbie não deveria soar como se fosse de algum lugar particular, portanto: “Sotaque General American. É chamado de GenAm.” No começo do filme, Barbie fala em uma nota mais alta e “tudo é muito definido. Não existe pensar duas vezes. Não há hesitação.” Depois, a voz dela abaixa e há mais pausas.

Algo importante parece acontecer com os Kens. Quando pergunto para Gerwig como ela e Robbie definiram a energia do Ken, ela não consegue formular uma resposta sem rir. “Os Kens passam por uma jornada”, diz ela eventualmente. “No começo do filme, ninguém pensa no Ken. Ninguém se preocupa com o Ken. O Ken não tem uma casa. Ou um carro. Ou um emprego. Ou qualquer poder. E isso vai ser, hm, insustentável.”

Novos personagens são introduzidos no mundo real. Um deles é o CEO da Mattel, interpretado por Will Ferrell. Robbie descreve o personagem como: “Equivocado, mas de um jeito inocente. Ele se importa com as crianças e com os sonhos delas do jeito menos assustador possível.” Outra personagem é Gloria, interpretada por America Ferrera. Não se sabe ao certo quem é Gloria, mas ela definitivamente não é uma Barbie. “Acho que posso dizer que minha personagem tem uma conexão muito forte cm a Barbie”, Ferrera me conta. Nas fotos que viralizaram das gravações de Venice, há algumas de Robbie e Ferrera andando de patins lado a lado, de mãos dadas. Robbie usa uma roupa de cowgirl em jeans rosa.

Quando Robbie estava no último ano da escola, precisou preencher um questionário sobre suas esperanças e seus sonhos. Ela recentemente encontrou as respostas e abriu no celular quando perguntei como ela começou a atuar. Estamos voltando da Salt & Straw, casquinhas de sorvete de sal marinho e caramelo nas mãos. Robbie lê na voz aguda de sua versão mais nova. “Interesses: Sair com meus amigos. Sonhos futuros: Atriz de Hollywood, gestora de eventos, dona de hotel.” A combinação a faz rir. “Hm, pois é, tenho vários empregos de atriz de Hollywood, dona de hotel e gestora de eventos.”

Uma maneira de mapear a ascensão subsequente de Robbie é como uma série de movimentos corajosos. Em seu teste para O Lobo de Wall Street, ela saiu do roteiro e deu um tapa no rosto de Leonardo DiCpario. Ela nunca havia conhecido Quentin Tarantino quando escreveu uma carta dizendo que gostaria de trabalhar com ele e, logo depois, estava interpretando Sharon Tate em Era Uma Vez em Hollywood. Quando filmou uma certa cena em Babilônia, ela saiu do roteiro novamente e beijou Brad Pitt. Talvez Gosling expresse melhor: “Ela tem o tipo de coragem que você só consegue se literalmente passa a infância nadando em águas infestadas de tubarões.”

Robbie tem uma longa lista de diretores com quem gostaria de trabalhar, como atriz e produtora. Ela está trabalhando na lista. “Greta esteve nela por um longo tempo”, diz ela. “Damien também estava há muito tempo”, diz se referindo a Damien Chazelle, diretor de Babilônia. Robbie recentemente riscou outro nome na lista, Wes Anderson. Ela tem um papel pequeno em Asteroid City. “PTA é um grande nome que ainda não risquei”, diz ela, se referindo a Paul Thomas Anderson. “Ele está ciente?” pergunto. “Ele está ciente”, responde ela.

Quando Robbie não está trabalhando, ela costuma checar os sites de empresas de trem ao redor do mundo. “Tudo o que eu quero é morar em um trem”, afirma. O Expresso do Oriente esteve em sua lista de desejos por muito tempo, e ela e Ackerley finalmente riscaram esse item no ano passado. Eles começaram no British Pullman — Wes Anderson decorou um dos vagões e Robbie queria andar nele — e depois pegaram o Expresso Oriente durante a noite de Paris para Veneza. “Eu estava assistindo a versão de Sidney Lumet de Assassinato no Expresso do Oriente enquanto estava a bordo, só porque sou uma idiota, e ficava verificando os fundos de cada cena”, disse Robbie. De manhã, eles acordaram na Suíça. “Você literalmente acorda, abre a janela e parece que está em A Noviça Rebelde.”

A viagem recente do casal até o Japão foi parcialmente para andar no Seven Stars, um trem de sete vagões que atravessa a ilha de Kyushu. Eles também ficaram um tempo em Tóquio e Kyoto atrás de restaurantes de macarrão que Robbie havia lido em blogs de comida. Eles esperaram na fila por três horas e meia em um lugar em Tóquio para provar um udon carbonara, o que parece um sacrilégio, mas acabou sendo “a melhor coisa que já aconteceu comigo.”

O macarrão era grosso e cremoso, vinha com pimenta moída, um pedaço de manteiga, bastante queijo parmesão, ovo cru e cebolinha. “E eles tinham um pedaço enorme de tempura de bacon que era, tipo, desse tamanho”, Robbie faz um gesto para indicar a magnitude do bacon. “Era tipo um sanduíche de trinta centímetros do Subway.” (Antes de conseguir um papel grande em uma novela australiana, Robbie trabalhou no Subway em Melbourne.)

O interesse de Robbie por comida não se estende até a cozinha. “No nosso grupo de amigos em Los Angeles e Londres, todos os meninos cozinham, amam cozinhar e são bons nisso”, diz ela. “E nenhuma das meninas cozinha, nós amamos beber e somos muito boas nisso.” Robbie acha estressante cozinhar. Ela se distrai facilmente. “Tudo pode pegar fogo na cozinha. Não tô brincando.” Ela já colocou fogo em três tenderes de Natal. A última vez foi porque o tender cozido não estava torrado o bastante. Ackerley tem muitos utensílios de cozinha, incluindo um maçarico. “Então, eu pensei: “Ótimo, vou usar o maçarico’,” diz Robbie. “De alguma forma, até isso eu fiz errado. A parte de cima caiu inteira. O fluido de isqueiro derramou na minha mão. Todo mundo começou a gritar. Estranhamente, não me machuquei. Ele pegou fogo, então fiz assim…” Ela esfrega uma mão na outra, imitando como apagou o fogo. “Foi como um truque de mágica.”

Eu me encontro com Robbie mais uma vez algumas semanas depois, em uma gravação para uma campanha de beleza da Chanel. (Ela é embaixadora da grife.) A filmagem acontece em um estúdio em East Hollywood. A equipe de Robbie está reunida ao redor de um grande monitor exibindo a gravação sendo filmada em outro cômodo. A Robbie que está na tela parece estar em um cinema. Ela está usando óculos de sol preto da Chanel e batom vermelho, seu rosto ocupa a maior parte do quadro. Parece que estamos vendo Robbie assistindo a um filme. A luz do filme de mentirinha ilumina o rosto dela.

Quando a gravação faz uma pausa para o almoço, encontro Robbie no camarim dela. Ela está usando uma blusa preta de chiffon de bolinhas, calça combinando e botas pretas de couro envernizado. Estou tão imersa em tudo sobre a Barbie que só consigo pensar em: Barbie Chanel. “Você mudou de forma”, digo enquanto nos sentamos. “É uma versão bem diferente”, afirma ela. O conceito da campanha é abstrato, diz Robbie quando pergunto se existe algum. “É tipo: Estou em um carro! Estou numa boate. Estou em quarto! É um hotel? Não sei! Estou em um cinema. Estou assistindo o que filmamos. E agora, volto a passar o batom.”

Entre gravações para a Chanel, Robbie está no modo produtora. A LuckyChap está terminando Saltburn, o segundo filme de Emerald Fennell, que escreveu e dirigiu Bela Vingança. (Fennell interpreta a Midge em Barbie.) E eles estão próximos de finalizar Barbie. Eles têm três dias de fotografia adicional e muita mixagem pela frente. “Você precisa começar a finalizar as coisas para começar a enviar os rolos”, diz ela. Eles ainda estão editando o segundo trailer. Depois, precisam organizar o resto da estratégia de marketing e de estreia. O lançamento vai ocupar a agenda de Robbie durante todo o verão. “Eu sou completamente Barbie daqui até o lançamento de Barbie.”

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil