
Incorporando a Barbie para a capa e recheio da edição de junho/julho da Vogue, Margot Robbie fala sobre o filme em uma entrevista detalhando os passos da produção com participação da diretora, Greta Gerwig, da equipe e do elenco. Veja o ensaio e leia a entrevista abaixo:
Margot Robbie não era fanática pela Barbie quando era criança. Ela nem ao menos tem certeza se já teve uma Barbie. “Eu acho que não”, ela me diz no café da manhã em Venice Beach. “Eu sei que a minha prima tinha várias Barbies e eu ia para a casa dela.” Crescendo em Gold Coast, na Austrália, Robbie passou muito tempo ao ar livre. Ela e a prima faziam tortas de lama. Brincavam com carrinhos. E brincavam com Barbies. Na maioria das vezes, elas construíam fortes, “cubbies” em inglês australiano. “Era o que fazíamos todos os dias.”
Estamos a alguns quarteirões do calçadão de Venice, no Great White, um restaurante australiano, e eu perguntei para Robbie o que a levou a produzir e estrelar em um filme live-action da Barbie, que estreia em julho. “Não é que eu sempre quis interpretar a Barbie ou sonhava em ser a Barbie, nada do tipo”, disse a atriz de 32 anos. “Isso vai soar idiota, mas eu realmente nem pensava em interpretar a Barbie até anos depois do desenvolvimento do projeto.”
Não soa idiota, mas a noção de que Robbie, que teve seu papel de estreia em O Lobo de Wall Street descrito no roteiro do filme como “a loira mais gostosa do mundo”, não se via no papel da Barbie quando buscou os direitos para cinema da Mattel, parece contraditória. E, no entanto, a pessoa sentada do outro lado da mesa não parece um mulherão. Não no sentido convencional, de qualquer forma.
Robbie está usando uma blusa vintage de mangas longas da Harley-Davidson e um macacão curto e justo, o tipo de coisa que uma lutadora adolescente usaria para treinar. “Me faz parecer uma criançona”, diz ela sobre o macacão em um momento. (Não faz nada disso). Nos pés, ela usa tênis New Balance e meias listradas de academia que ela comprou recentemente no Japão, com os dizeres “Você é garoto da cidade?” em torno dos calcanhares. O cabelo dela está preso para trás em duas tranças francesas, exibindo brincos dourados de sereia que ela comprou em Ibiza. Embora ela seja incrivelmente linda, a aura de Robbie é como de uma fada e um pouco selvagem. É fácil imaginar que ela tenha acabado de fugir de um circo.
Uma certa fisicalidade praiana era evidente de longe. Para essa entrevista, Robbie queria ir andar de patins. Presumi que alugaríamos rollerblades. Acontece que Robbie tem os dela e achou que eu também tinha. (Não tenho.) Robbie então ofereceu-me um de seus pares porque ela também tem patins antigos. (Mais tarde, quando estou colocando os rollerblades, descubro que eles não possuem freio. “Espera, cadê os freios?” pergunto. “Ahhhhh,” responde ela, soltando uma risada rouca. “Esqueci. Tirei os freios porque odeio frear.”)
Os planos estavam feitos. Depois do café da manhã, iríamos andar de patins no calçadão, depois caminharíamos até a sorveteria favorita de Robbie, Salt & Straw. Robbie precisava sair às 14h em ponto, fui avisada. Ela tinha uma reunião às 15h com o roteirista de O Urso do Pó Branco, Jimmy Warden, cuja estreia como diretor está sendo produzida pela LuckyChap. Essa última combinação de detalhes começa a transmitir a atmosfera geral da verdadeira Margot Robbie: Ela chegará com vários patins sem freio, e sairá às duas em ponto.
Entre mordidas em torradas de abacate, sanduíches de queijo Halloumi e bacon à moda australiana — “Torra bastante”, diz ela para o garçom —, Robbie me conta a história de origem de Barbie em uma velocidade no estilo O Sucesso a Qualquer Preço. Houve tentativas anteriores de fazer um filme da Barbie. Amy Schumer esteve no elenco em um momento. Anne Hathaway, também. Esses projetos nunca saíram do papel. Robbie ficou vigiando o status. Como produtora, ela viu um grande potencial na marca Barbie. “A palavra em si é mais reconhecida ao redor do mundo do que praticamente qualquer outra coisa, exceto pela Coca-Cola.”
Em 2018, Robbie sentiu uma abertura. Então, ela se encontrou com o CEO da Mattel, Ynon Kreiz, no Polo Lounge. A reunião era para apresentar a Luckychap, produtora que ela dirige ao lado do amigo, Josey McNamara, e do marido, Tom Ackerley, para a Mattel. “Somos a Luckychap”, disse ela. “Essa é a nossa produtora. Isso é o que fazemos e o que defendemos. É por isso que deveríamos fazer o filme da Barbie. E faríamos dessa forma.”
A LuckyChap não tinha um conceito específico em mente, mas eles sabiam de uma coisa. “É claro que queríamos honrar o legado de 60 anos que a marca possui,” diz Robbie. “Mas temos que reconhecer que existem muitas pessoas que não são fãs da Barbie. Na verdade, não são apenas indiferentes à Barbie. Elas odeiam a Barbie de verdade. E possuem um problema sério com ela. Precisamos encontrar uma maneira de reconhecer isso.”
Houve reuniões maiores com a Mattel, depois com a Warner Bros., onde a LuckyChap tinha um contrato de exclusividade na época. Eventualmente, Robbie começou a falar com Greta Gerwig sobre escrever e dirigir o filme. “Eu estava com muito medo dela dizer não”, disse Robbie. “Naquela época, era assustador aceitar uma coisa assim. As pessoas diziam: “Você vai fazer isso?’” Mas Gerwig aceitou, com a condição que pudesse escrever com o parceiro, Noah Baumbach. “Parecia brilhante para mim de um jeito promissor”, disse Gerwig mais tarde. “Fui eu quem disse: “Noah e eu vamos escrever.” (Baumbach: “Ela me deu a notícia depois que já estávamos escrevendo.”)
A Luckychap queria que Gerwig e Baumbach tivessem liberdade criativa completa. “Ao mesmo tempo,” diz Robbie, “temos duas empresas gigantes, Warner Bros. e Mattel, nervosas dizendo: “Quais são os planos deles? O que vão fazer? Qual vai ser o enredo? O que ela vai falar?” Eles tinham milhões de perguntas.” No fim, a LuckyChap encontrou uma maneira de estruturar um acordo para que Gerwig e Baumbach tivessem a liberdade de escrever o que quisessem, “o que foi muito difícil.”
Gerwig e Baumbach compartilharam um mimo, Robbie adiciona: “Greta escreveu um poema abstrato sobre a Barbie. E quando digo abstrato, quero dizer muito abstrato.” (Gerwig se recusa a ler o poema para mim, mas diz que “possui semelhanças com o Credo dos Apóstolos.”) Ninguém na LuckyChap, Mattel ou Warner Bros. viu qualquer página do roteiro até estar finalizado.
Quando peço para Gerwig e Baumbach para descrever o processo de escrita de Barbie, as palavras “desimpedido” e “livre” são usadas muitas vezes. O projeto parecia ter “uma grande abertura”, Gerwig me conta. “Realmente havia um tipo de caminho desimpedido, livre, que podíamos continuar seguindo”, diz Baumbach. Parte disso teve a ver com o fato de que seus personagens eram bonecas. “É como se você estivesse brincando de boneca quando você escreve algo, e nesse caso, é claro, havia essa camada extra de que eram realmente bonecas”, relata Baumbach. “Foi uma brincadeira literalmente imaginativa”, disse Gerwig. O fato de estarem escrevendo o roteiro durante o lockdown também foi importante, relata Baumbach. “Estávamos na pandemia e todos estavam com aquele sentimento de quem sabe o que será do mundo. Isso também deu um gás. O sentimento de bom, não vai dar em nada.”
Robbie e Ackerley leram o roteiro de Barbie ao mesmo tempo. Uma certa piada na primeira página os deixou de queixos caídos. “Nós olhamos um para o outro, puro pânico em nossos rostos,” lembra Robbie. “Pensamos: “Puta merda.’” Quando Robbie terminou de ler, “acho que a primeira coisa que eu disse para o Tom foi: “Isso é genial. Que pena que não vamos conseguir fazer esse filme.”
A LuckyChap fez o filme, é claro, e é realmente aquele que Gerwig e Baumbach escreveram. (Infelizmente, a piada da primeira página já era.) Se você viu o trailer lançado em dezembro, você viu o começo do filme. É uma paródia da cena A Aurora do Homem de 2001: Uma Odisseia no Espaço. Porém, em vez de macacos descobrindo ferramentas na presença de um monólito, menininhas quebram suas bonecas bebês na presença de uma Barbie gigantesca. Robbie, caracterizada como Barbie, aparece usando um maiô preto e branco e saltos altos. Ela abaixa lentamente um par de óculos de sol branco e dá uma piscadinha.
Eu vi mais um pouco do filme em uma manhã no lote da Warner Bros. Depois da paródia de Kubrick, nós seguimos para uma experiência na Barbielândia, “uma louca fantasia de beleza”, como Sarah Greenwood, a cenógrafa do filme, descreve mais tarde. A Barbie acorda em sua Casa dos Sonhos e embarca no Dia Perfeito, acompanhada de uma canção original que serve de trilha sonora. (Não posso contar quem canta.) Tudo em todos os lugares é rosa. “Nunca mergulhei tão fundo no rosa em toda minha vida”, disse Greenwood. O mundo perfeitamente falso e saturado da Barbie possui muitas das peculiaridades e limitações físicas da versão em brinquedo. O ambiente nem sempre é tridimensional e a escala de tudo é um pouco estranha. Barbie é um pouco grande demais para a casa dela e para o carro. Quando ela toma banho, não tem água. Os pés descalços permanecem arqueados.
O maiô que Robbie usa na sequência da Aurora da Mulher é uma réplica do que foi usado pela primeira boneca Barbie em 1959. Durante o Dia Perfeito, a Barbie muda de roupas constantemente. A progressão — uma saia de poodle, um look disco — equivale a uma pesquisa sobre a moda da Barbie durante os anos, diz Jacqueline Durran, figurinista do filme. (De maneira sensata, a pesquisa não inclui roupas mais retrógradas do passado da Barbie, como a da Festa do Pijama de 1965, que vinha com uma pequena balança de banheiro parada em 49kg e um livro intitulado Como Perder Peso que aconselhava: “Não coma.”)
“O principal sobre a Barbie é que ela se veste com uma intenção”, Durran me conta. “A Barbie não se veste para o dia, ela se veste para uma tarefa.” A tarefa pode ser uma atividade de lazer ou um emprego. Uma cena zomba da maneira como o universo da Barbie parece misturar as duas coisas. “Meu trabalho é só a praia”, explica o Ken.
O Ken é interpretado com uma desenvoltura idiota por Ryan Gosling. “A melhor versão de Ryan Gosling já exibida nas telas”, na avaliação de Robbie. (Gosling: “Ken não estava realmente na minha lista de desejos. Mas, para ser justo, não tenho uma lista de desejos. Então pensei em dar uma chance.”) Na Barbielândia, o Ken é basicamente outro acessório de moda. “A Barbie tem um ótimo dia todos os dias”, ouvimos em uma narração feita por Helen Mirren. “O Ken só tem um ótimo dia se a Barbie olhar para ele.” A Mattel introduziu o primeiro boneco Ken em 1962, em resposta a cartas exigindo que a Barbie tivesse um namorado. “A Barbie foi inventada primeiro”, aponta Gerwig. “O Ken foi inventado depois da Barbie, para abrilhantar a posição dela aos nossos olhos e aos olhos do mundo. Esse tipo de mito da criação é o oposto do mito da criação em Gênesis.”
Assim como a Barbie recebeu grandes seios sem mamilos, o Ken ganhou uma “protuberância” suave, como a Mattel se referiu na época. Juntos, sua anatomia parcial peculiar sugere um mundo escondido de coisas de adultos. Gerwig: “Você sente que há algo lá, o que faz parte do fascínio. Não está claro como tudo isso funciona, mas não passa batido.” Esse sentimento vago de mistério é capturado em uma troca cômica que a Barbie e o Ken têm na frente da Casa dos Sonhos. “Pensei em ficar aqui essa noite”, diz o Ken. “Por quê?” pergunta a Barbie. “Porque somos namorada e namorado”, responde o Ken. “Para fazer o que?” questiona Barbie. “Não sei direito”, afirma o Ken.
Barbie conquistou amigas durante os anos. Primeiro veio Midge, sua melhor amiga de anos, e depois Christie, uma das primeiras amigas negras da Barbie. (A Mattel não apresentou uma Barbie negra até 1980 e um documentário futuro, Black Barbie, explora seu legado.) Quando Gerwig fez um tour pela Mattel, ela descobriu que a maioria das bonecas da linha Barbie se chamam Barbie. “Nem todas as bonecas se chamam Barbie. Todas são a Barbie e a Barbie é todas elas. Filosoficamente, pensei: “Bem, isso é interessante.’” Quando mais ela pensava nisso, mais a multiplicidade das Barbies sugeria “uma ideia expansiva de identidade com a qual todos poderíamos aprender.”
Durante o processo de elenco, Gerwig e Robbie procuraram pela “energia da Barbie”, uma certa combinação indescritível de beleza e exuberância que elas concluíram estar incorporada em Gal Gadot. Robbie: “Gal Gadot é a energia da Barbie. Ela é tão incrivelmente linda, mas você não a odeia por ser assim, porque ela é tão sincera e gentil de uma maneira tão entusiasmada que chega a ser boba. É um passo antes de se tornar boba.” (Gadot não estava disponível.) Elas encontraram suas Barbies em Issa Rae, Hari Nef, Emma Mackey, Dua Lipa, Sharon Rooney, Ana Cruz Kayne, Alexandra Shipp, Kate McKinnon e outras. (Há vários Kens também). Nessa coleção, Rae é a Barbie Presidente. Robbie é a Barbie Estereotipada.
Antes das filmagens começarem em Londres, Gerwig deu uma festa do pijama para as Barbies no Hotel Claridge. Os Kens foram convidados para dar uma passadinha, mas não para ficar a noite. (Gosling não pôde comparecer, então mandou um telegrama musical na forma de um idoso escocês usando um kilt que tocava gaita de fole e fazia o discurso de Coração Valente.) Quando a produção estava em andamento, a LuckyChap organizava sessões semanais de filmes no Eletric Cinema em Notting Hill. Todo domingo de manhã, o elenco e a equipe eram convidados para assistir a um filme que serviu de referência para Barbie. Eles chamavam de “igreja do cinema.”
Gerwig teve a sensação de que Barbie estava sendo guiado por antigos musicais Tecnicolor gravados em estúdios, então eles assistiram vários do gênero, os mais úteis sendo Os Sapatinhos Vermelhos e Os Guarda-Chuvas do Amor. “Eles possuem um nível tão alto do que chamamos de artificialidade autêntica”, diz Gerwig. “Você tem um céu pintado em um estúdio. É uma ilusão, mas também está realmente lá. O cenário pintado está realmente lá. A tangibilidade do artifício é algo que sempre revisitamos.” O diretor de fotografia, Rodrigo Pietro, que filmou O Lobo de Wall Street, Babel, Argo e O Segredo de Brokeback Mountain, criou uma paleta de cores especial para Barbie mantendo isso em mente. Gerwig chamou de Tecni-Barbie.
Todo protagonista precisa ter uma jornada de herói e a Barbie Estereotipada não é exceção. O primeiro sinal de problema aparece durante uma coreografia de dança em grupo. Dançando a coreografia na frente do grupo, ela de repente vira para outra Barbie e pergunta: “Vocês já pensaram na morte?” Mais tarde, ela acorda e descobre que seus pés não estão mais arqueados. “Não tenho contexto para isso, mas meus calcanhares estão tocando o chão”, diz ela. “Você está com defeito”, responde outra Barbie.
Eventualmente, a Barbie Estereotipada vai para o “mundo real”. Não sei por que ela faz essa aventura em particular porque só me permitiram assistir os primeiros 20 minutos do filme, e então, avançando, os primeiros momentos no mundo real. Eu sei que o Ken vai com ela. Se você viu as fotos de Robbie e Gosling andando de patins no calçadão de Venice no ano passado usando neon da cabeça aos pés — as fotos que começaram uma tendência de rosa choque com a hashtag Barbiecore no TikTok e nas passarelas —, você viu um pouco do pouso alienígena de Barbie e Ken.
Depois do café da manhã, Robbie e eu passeamos de patins no calçadão. Como esperado, Robbie está completamente à vontade. Ela aprendeu a andar depois que patinou no gelo em Eu, Tonya, a biografia da LuckyChap sobre Tonya Harding, e por isso ela não gosta de freios. “Nunca tive freios nos patins de gelo, então isso me atrapalharia.”
Passamos pelo lugar em que ela filmou as cenas do mundo real no ano passado, depois paramos no parque de dança de patins e assistimos os dançarinos rodopiarem. “Já fui uma vez”, diz Robbie quando pergunto. “Em Babilônia, uma das figurantes era uma patinadora muito descolada no Instagram e estávamos conversando sobre patins. Eu perguntei: “Você quer me ensinar algumas manobras no fim de semana?” E ela respondeu: “Sim, claro.” Então, fomos e ela fez a gentileza de me ensinar a dançar de patins.”
Durante o dia, pergunto várias vezes para Robbie como ela encontrou sua personagem como Barbie. Mais tarde, entrevistando o resto do elenco, começo a entender que, em um filme com um elenco nessa escala, nenhum personagem existe sem os outros. Como Ana Cruz Kayne explica, consiste em encontrar o seu espaço no grupo. “É como quando uma criança mais nova pergunta na Festa da Libertação: “O que torna essa noite diferente das outras?” É tipo, o que torna essa Barbie diferente das outras?”
Hari Nef tomou uma decisão particular sobre o dono de sua Barbie. “Um colecionador de bonecas”, Nef me conta. “Um homem gay de 50 anos que vive em um apartamento alugado em West Village.” Ela pegou essa dica de seus figurinos. “Fiquei com os figurinos mais exagerados, fashion e loucos. E eu pensei: “Essa não é uma boneca de uma criança.” Além disso, sua Barbie parece bem preservada. “Tenho a sensação de que toda semana ele convida dois ou três amigos, talvez ele seja um pouco solitário, e mostra minha nova roupa. E eu fico dentro da minha caixa.”
Gosling desvia quando pergunto como ele encontrou seu personagem — “Não seria muito Ken da minha parte falar sobre o Ken” —, porém diz que Robbie deu uma ajuda. “Ela deixava um presente rosa com um laço rosa, da Barbie para o Ken, todos os dias enquanto filmávamos. Todos os presentes tinham relação com praia, como um colar de conchas ou uma placa que dizia “Reze pelo surf” porque o trabalho do Ken é só a praia. Eu nunca entendi o que isso significa. Porém, senti que ela estava tentando ajudar o Ken a entender por meio desses presentes.”
A Barbie Estereotipada foi dura de roer. Geralmente, Robbie acha algo chamado “trabalho animal” útil. Tonya era um pitbull na vida e uma égua selvagem no gelo. Nellie, a personagem de Robbie em Babilônia, era um polvo e um texugo do mel. Um polvo porque eles são sobreviventes, possuem muitas terminações nervosas, fluidez e mudam de aparência. Um texugo do mel porque possuem costas quadradas e pele grossa. “São animais insanos”, diz Robbie. “Você pode bater em um texugo do mel com um facão.” Com a Barbie, o trabalho animal não foi útil. Robbie tentou um flamingo, mas não chegou a lugar algum. Em um momento, ela estava realmente com dificuldade. “Eu disse: “Greta, preciso passar por essa jornada de personagem.” E a Greta disse: “Ah, eu tenho um podcast muito bom pra você.’” Gerwig enviou um episódio de This American Life, sobre uma mulher que não faz introspecção, para Robbie. “Sabe como você tem uma voz na sua cabeça o tempo todo?” diz Robbie. “Essa mulher, ela não tem essa voz na cabeça dela.”
Para resolver a questão da sensualidade, Robbie precisou destrinchá-la. “Tipo, tudo bem, ela é uma boneca. É uma boneca de plástico. Ela não possui órgãos. Se ela não possui órgãos, ela não possui órgãos reprodutivos. Se ela não tem órgãos reprodutivos, ela sentiria desejo sexual? Não, acho que não poderia.” Portanto: “Ela é sexualizada. Porém, ela nunca deveria ser sexy. As pessoas podem projetar sexo nela.” Logo: “Sim, ela pode usar uma saia curta, mas porque é divertido e é rosa. Não porque ela quer que você olhe para a bunda dela.”
Tentei extrair mais detalhes sobre o resto de Barbie. O enredo é parcialmente inspirado em algo que Gerwig leu quando era criança, no bestseller de 1994, Reviving Ophelia. “Minha mãe pegava uns livros na biblioteca sobre maternidade e depois eu lia”, diz Gerwig. O livro descreve uma mudança abrupta que acontece com as meninas americanas quando elas chegam na adolescência e começam a se curvar às expectativas externas. “Elas são engraçadas, ousadas, confiantes e então, elas só… param”, relata Gerwig. Essa memória apareceu no começo da escrita e Gerwig achou “chocante”, a percepção de que era para onde a história precisava ir. “Como essa jornada é a mesma de uma menina adolescente? Do nada, ela pensa: “Ah, eu não sou boa o bastante.’”
Há uma paleta de cores completamente diferente para o mundo real, Pietro menciona quando nos falamos. Tecni-Barbie é apenas para o mundo da Barbie. “Queríamos criar um visual diferente para a Barbie, para o mundo dela, em oposição ao mundo real”, diz Pietro.
Além disso, o padrão de fala de Robbie muda. Ela menciona isso quando descreve a falta de sotaque da Barbie. (A Barbie não deveria soar como se fosse de algum lugar particular, portanto: “Sotaque General American. É chamado de GenAm.” No começo do filme, Barbie fala em uma nota mais alta e “tudo é muito definido. Não existe pensar duas vezes. Não há hesitação.” Depois, a voz dela abaixa e há mais pausas.
Algo importante parece acontecer com os Kens. Quando pergunto para Gerwig como ela e Robbie definiram a energia do Ken, ela não consegue formular uma resposta sem rir. “Os Kens passam por uma jornada”, diz ela eventualmente. “No começo do filme, ninguém pensa no Ken. Ninguém se preocupa com o Ken. O Ken não tem uma casa. Ou um carro. Ou um emprego. Ou qualquer poder. E isso vai ser, hm, insustentável.”
Novos personagens são introduzidos no mundo real. Um deles é o CEO da Mattel, interpretado por Will Ferrell. Robbie descreve o personagem como: “Equivocado, mas de um jeito inocente. Ele se importa com as crianças e com os sonhos delas do jeito menos assustador possível.” Outra personagem é Gloria, interpretada por America Ferrera. Não se sabe ao certo quem é Gloria, mas ela definitivamente não é uma Barbie. “Acho que posso dizer que minha personagem tem uma conexão muito forte cm a Barbie”, Ferrera me conta. Nas fotos que viralizaram das gravações de Venice, há algumas de Robbie e Ferrera andando de patins lado a lado, de mãos dadas. Robbie usa uma roupa de cowgirl em jeans rosa.
Quando Robbie estava no último ano da escola, precisou preencher um questionário sobre suas esperanças e seus sonhos. Ela recentemente encontrou as respostas e abriu no celular quando perguntei como ela começou a atuar. Estamos voltando da Salt & Straw, casquinhas de sorvete de sal marinho e caramelo nas mãos. Robbie lê na voz aguda de sua versão mais nova. “Interesses: Sair com meus amigos. Sonhos futuros: Atriz de Hollywood, gestora de eventos, dona de hotel.” A combinação a faz rir. “Hm, pois é, tenho vários empregos de atriz de Hollywood, dona de hotel e gestora de eventos.”
Uma maneira de mapear a ascensão subsequente de Robbie é como uma série de movimentos corajosos. Em seu teste para O Lobo de Wall Street, ela saiu do roteiro e deu um tapa no rosto de Leonardo DiCpario. Ela nunca havia conhecido Quentin Tarantino quando escreveu uma carta dizendo que gostaria de trabalhar com ele e, logo depois, estava interpretando Sharon Tate em Era Uma Vez em Hollywood. Quando filmou uma certa cena em Babilônia, ela saiu do roteiro novamente e beijou Brad Pitt. Talvez Gosling expresse melhor: “Ela tem o tipo de coragem que você só consegue se literalmente passa a infância nadando em águas infestadas de tubarões.”
Robbie tem uma longa lista de diretores com quem gostaria de trabalhar, como atriz e produtora. Ela está trabalhando na lista. “Greta esteve nela por um longo tempo”, diz ela. “Damien também estava há muito tempo”, diz se referindo a Damien Chazelle, diretor de Babilônia. Robbie recentemente riscou outro nome na lista, Wes Anderson. Ela tem um papel pequeno em Asteroid City. “PTA é um grande nome que ainda não risquei”, diz ela, se referindo a Paul Thomas Anderson. “Ele está ciente?” pergunto. “Ele está ciente”, responde ela.
Quando Robbie não está trabalhando, ela costuma checar os sites de empresas de trem ao redor do mundo. “Tudo o que eu quero é morar em um trem”, afirma. O Expresso do Oriente esteve em sua lista de desejos por muito tempo, e ela e Ackerley finalmente riscaram esse item no ano passado. Eles começaram no British Pullman — Wes Anderson decorou um dos vagões e Robbie queria andar nele — e depois pegaram o Expresso Oriente durante a noite de Paris para Veneza. “Eu estava assistindo a versão de Sidney Lumet de Assassinato no Expresso do Oriente enquanto estava a bordo, só porque sou uma idiota, e ficava verificando os fundos de cada cena”, disse Robbie. De manhã, eles acordaram na Suíça. “Você literalmente acorda, abre a janela e parece que está em A Noviça Rebelde.”
A viagem recente do casal até o Japão foi parcialmente para andar no Seven Stars, um trem de sete vagões que atravessa a ilha de Kyushu. Eles também ficaram um tempo em Tóquio e Kyoto atrás de restaurantes de macarrão que Robbie havia lido em blogs de comida. Eles esperaram na fila por três horas e meia em um lugar em Tóquio para provar um udon carbonara, o que parece um sacrilégio, mas acabou sendo “a melhor coisa que já aconteceu comigo.”
O macarrão era grosso e cremoso, vinha com pimenta moída, um pedaço de manteiga, bastante queijo parmesão, ovo cru e cebolinha. “E eles tinham um pedaço enorme de tempura de bacon que era, tipo, desse tamanho”, Robbie faz um gesto para indicar a magnitude do bacon. “Era tipo um sanduíche de trinta centímetros do Subway.” (Antes de conseguir um papel grande em uma novela australiana, Robbie trabalhou no Subway em Melbourne.)
O interesse de Robbie por comida não se estende até a cozinha. “No nosso grupo de amigos em Los Angeles e Londres, todos os meninos cozinham, amam cozinhar e são bons nisso”, diz ela. “E nenhuma das meninas cozinha, nós amamos beber e somos muito boas nisso.” Robbie acha estressante cozinhar. Ela se distrai facilmente. “Tudo pode pegar fogo na cozinha. Não tô brincando.” Ela já colocou fogo em três tenderes de Natal. A última vez foi porque o tender cozido não estava torrado o bastante. Ackerley tem muitos utensílios de cozinha, incluindo um maçarico. “Então, eu pensei: “Ótimo, vou usar o maçarico’,” diz Robbie. “De alguma forma, até isso eu fiz errado. A parte de cima caiu inteira. O fluido de isqueiro derramou na minha mão. Todo mundo começou a gritar. Estranhamente, não me machuquei. Ele pegou fogo, então fiz assim…” Ela esfrega uma mão na outra, imitando como apagou o fogo. “Foi como um truque de mágica.”
Eu me encontro com Robbie mais uma vez algumas semanas depois, em uma gravação para uma campanha de beleza da Chanel. (Ela é embaixadora da grife.) A filmagem acontece em um estúdio em East Hollywood. A equipe de Robbie está reunida ao redor de um grande monitor exibindo a gravação sendo filmada em outro cômodo. A Robbie que está na tela parece estar em um cinema. Ela está usando óculos de sol preto da Chanel e batom vermelho, seu rosto ocupa a maior parte do quadro. Parece que estamos vendo Robbie assistindo a um filme. A luz do filme de mentirinha ilumina o rosto dela.
Quando a gravação faz uma pausa para o almoço, encontro Robbie no camarim dela. Ela está usando uma blusa preta de chiffon de bolinhas, calça combinando e botas pretas de couro envernizado. Estou tão imersa em tudo sobre a Barbie que só consigo pensar em: Barbie Chanel. “Você mudou de forma”, digo enquanto nos sentamos. “É uma versão bem diferente”, afirma ela. O conceito da campanha é abstrato, diz Robbie quando pergunto se existe algum. “É tipo: Estou em um carro! Estou numa boate. Estou em quarto! É um hotel? Não sei! Estou em um cinema. Estou assistindo o que filmamos. E agora, volto a passar o batom.”
Entre gravações para a Chanel, Robbie está no modo produtora. A LuckyChap está terminando Saltburn, o segundo filme de Emerald Fennell, que escreveu e dirigiu Bela Vingança. (Fennell interpreta a Midge em Barbie.) E eles estão próximos de finalizar Barbie. Eles têm três dias de fotografia adicional e muita mixagem pela frente. “Você precisa começar a finalizar as coisas para começar a enviar os rolos”, diz ela. Eles ainda estão editando o segundo trailer. Depois, precisam organizar o resto da estratégia de marketing e de estreia. O lançamento vai ocupar a agenda de Robbie durante todo o verão. “Eu sou completamente Barbie daqui até o lançamento de Barbie.”

Margot Robbie foi uma das capas da edição anual da revista W que lista as melhores performances de 2022. Na entrevista, ela fala sobre Babilônia, sobre não se identificar com seu signo e mais. Leia:
O estrelato, aquela mágica difícil de definir possuída por poucos humanos, é algo que Margot Robbie tem em abundância. Em Babilônia, ela canalize cada pitada disso em sua interpretação de Nellie LaRoy, uma atriz de filmes mudos no meio de uma era desordenada e decadente de Hollywood. Nesta entrevista, Robbie fala sobre como se conectou com o papel — e como se sente desconectada de seu signo astrológico.
Como Babilônia apareceu na sua vida?
Quando recebi o roteiro, senti que tinha que fazê-lo. Nunca me senti assim antes. Eu estava frenética, em um momento até sugeri ir até a casa do diretor. Quando eventualmente nos encontramos, eu disse: “Eu tenho que interpretar essa personagem, ela é minha.”Você conhecia muito da era silenciosa de Hollywood que é apresentada no filme?
Não havia assistido muitos filmes mudos. Os do Charlie Chaplin, é claro, vi clipes. Mas os filmes mudos são incríveis. E o Damien [Chazelle, roteirista e diretor] é o maior defensor da era silenciosa porque ele é um grande cinéfilo. Ele já assistiu tudo e pode te indicar os melhores. O primeiro ganhador de Melhor Filme no Oscar em 1927 foi um filme chamado Asas, Clara Bow estrela, e é uma obra prima. Tipo, é melhor do que 90% dos filmes que já vi na vida.Sua personagem, Nellie LaRoy, lembra Clara Bow, a estrela de cinema mudo que era um tanto selvagem.
Interpretar uma maluca não é difícil para mim. [Risos] Na época, na década de 1920, havia mais cocaína em Los Angeles do que hoje em dia. Pessoas de 30 anos estavam no comando dos estúdios e as de 20 estavam se tornando milionárias. Não tinha regras — era uma indústria completamente nova e nada era regulado. Elas se divertiam muito, tinha muitas festas. Nellie está no meio desse mundo. E ela não usa muitas roupas! Um dos principais figurinos que uso no filme é um macacão sem sutiã, blusa, nada — e ninguém ama mais se vestir do que eu. Sempre que faço uma festa, meus amigos dizem: “Qual o tema? Vamos ter que nos fantasiar, não é?” No ano passado, minha festa de aniversário foi com o tema Love Island, o reality show. Todos tinham que se vestir como participantes. Houve muitos bronzeados artificiais, apliques de cabelo e unhas de acrílico.Você se lembra do seu primeiro beijo em cena?
Não me lembro… mas em Babilônia, a Nellie beija muitas pessoas. Eu improvisei um beijo que não estava no roteiro. Estávamos fazendo uma cena de festa e a Nellie vai até o personagem do Brad [Pitt] e da Katherine [Waterston], e eu pensei: “Foda-se. Vou beijá-los e ver o que acontece.” Eles ficaram um pouco chocados. Não sei se está no filme.Está no filme. Você já ficou impressionada com alguma celebridade?
Sim, é claro. Acho que consigo esconder bem. Mesmo quando já trabalhei com alguém antes, ainda fico: “Uau, é o Brad Pitt. Que incrível.”Você já entrou de penetra em alguma festa, assim como a Nellie?
Ah, em várias festas. Já entrei de penetra em um casamento uma vez, só para ver como seria. Me diverti muito.Qual seu signo?
Sou de Câncer. Mas não me identifico muito, para ser honesta. Tudo que ouço sobre o signo não parece em nada comigo: são muito sensíveis, demonstram muita emoção e são muito caseiros. Eu odeio ficar em casa, não sou muito sensível e nem emotiva. Já chequei várias vezes meus ascendentes e tudo isso, é tudo Câncer. Acho que sou, tipo, triplo Câncer. Até chequei com a minha mãe se ela não me registrou na data errada, o que a ofendeu muito. Acho que sou mais de Gêmeos, talvez.

Para a entrevista anual da Variety em que os atores entrevistam outros colegas de profissão, Margot Robbie se sentou para uma conversa com Carey Mulligan. As duas falam sobre seus respectivos filmes, Babilônia e Ela Disse, sobre Bela Vingança, filme protagonizado por Carey e produzido por Margot, Barbie e muito mais. Confira a entrevista na íntegra e a transcrição traduzida abaixo:
CAREY MULLIGAN: Tenho muitas perguntas sobre Babilônia. Na verdade, eu terminei Maestro agorinha e estava conversando com Steve Morrow, do som, e ele disse: “Eu trabalhei em Babilônia. É incrível.”
MARGOT ROBBIE: É maluco! Quando eu li o roteiro, pensei que era como se La Dolce Vita e O Lobo de Wall Street tivessem um bebê — eu amei! Mas também pensei: “Podemos mostrar isso? Podemos mostrar aquilo?” Há tantas cenas em que pensei a) não tenho ideia de como farei isso e b) como vamos nos safar?
MULLIGAN: O quanto o roteiro está próximo do corte final?
ROBBIE: Bem perto. Como é o caso com muitos roteiristas que também são diretores, Damien não está entendendo o filme conforme edita, ele tem uma visão. E porque ele tem tanto talento musical, acho que o ritmo do filme era evidente nas páginas, então traduziu muito bem.
MULLIGAN: A música é tão incrível. Eu assisti com a minha mãe e ela…
ROBBIE: O que ela achou? Ai, meu Deus.
MULLIGAN: É um filme divertido para se ver com a mãe.
ROBBIE: Todo mundo deveria ver Babilônia com os pais. Não vai ser nada estranho.
MULLIGAN: Anos atrás, eu levei minha mãe e meu namorado de dois meses, agora meu marido, para assistir Shame. É, foi pesado.
ROBBIE: Um bom jeito de quebrar o gelo.
MULLIGAN: Mas, não, ela amou Babilônia. Então, a primeira grande sequência é uma festa gigante com um elefante. O quanto do elefante era real? Não destrua o cinema para mim.
ROBBIE: O elefante não era real.
MULLIGAN: Explicando, a sequência inicial é uma festa enorme, devassa e maluca. E muitas pessoas usam roupas bem pequenas ou até mesmo nada.
ROBBIE: É basicamente uma festa/orgia. Meio que vira uma orgia.
MULLIGAN: É porgia! Então, quem são esses figurantes? Porque são dançarinos incríveis.
ROBBIE: Muitos dançarinos. Também pedi para alguns amigos participarem porque era importante ter a atmosfera de festa durante o filme inteiro. Eles sempre estavam no meu trailer. O intervalo era como uma festa contínua. Pensei que precisava disso para a Nellie, precisava que ela nunca tivesse um minuto de silêncio para nunca se recompor.Mas, é, falando sobre entrar no personagem, podemos por favor falar sobre você e esse filme, Ela Disse? Fiquei impressionada quando terminei de assistir. Fiquei relembrando momentos diferentes do filme na minha cabeça. Eu pensei: “Estou tão animada, vou ver o filme da Carey!” Mas não penso em você como atriz quando estou te assistindo, penso em você como um ser humano verdadeiro. Você traz tanta humanidade, é como se não estivesse atuando. Exceto quando você faz essas cenas malucas de choro ou grita com algum cara no bar, aí eu penso: “Ela está atuando pra caramba, mas não parece.” Fiquei muito impressionada.
MULLIGAN: Ah, amiga, obrigada. Quando eu li o roteiro, ainda estava divulgando Bela Vingança, que você produziu. Você estava por trás das câmeras.
ROBBIE: Você era nossa gloriosa estrela. É estranha, a relação.
MULLIGAN: E, é claro, estamos falando de coisas bem sensíveis em Ela Disse. Nosso filme, Bela Vingança, era uma fantasia com base em coisas que sabemos e vivemos, mas não era real, não estávamos falando sobre o depoimento verdadeiro de alguém. Mas Megan Twohey e Jodi Kantor são bem reais, estão bem vivas, ainda trabalham e são jornalistas incríveis, talentosas e formidáveis. E a história que elas escreveram é um material bem carregado. É uma responsabilidade a mais. E eu fiquei fascinada com a Megan — quem ela é e como o cérebro dela funciona.
ROBBIE: Ela parece durona. O que ela fez é insano.
MULLIGAN: É incrível. É o trabalho que fizeram desenvolvendo esses relacionamentos com as sobreviventes que eventualmente testemunharam — de modo oficial ou não — pareceu tipo, nossa, esse grupo de mulheres fez algo heroico mesmo. Eu tenho descrevido para meus filhos porque estão vendo vários anúncios. Eles perguntam: “O que é Ela Disse?” E eu respondo: “Podemos assistir quando vocês tiverem 40 anos, mas é sobre umas mulheres que estavam sofrendo bullying feito por um homem. E isso aconteceu por muito tempo. Era muito injusto, então elas decidiram tomar uma atitude. Elas se juntaram e o enfrentaram. Ele foi responsabilizado.”
ROBBIE: É um jeito incrível de explicar.
MULLIGAN: Eu apenas pensei: “É isso.” Mais exemplos assim, por favor. Mais exemplos de como mulheres podem se juntar e serem muito fortes.
ROBBIE: E você conversou com a Megan?
MULLIGAN: Bastante, na verdade. Fizemos muitas chamadas no Zoom e me mudei para Nova York com a minha família, então nos encontramos muito com as crianças. Megan foi muito solícita. Ela foi muito honesta sobre sua experiência com a depressão pós-parto e muitas coisas que aconteceram em sua vida doméstica.
ROBBIE: Lembro-me de quando fui até você para interpretar a Cassandra em Bela Vingança. Pensei: “Nunca vamos conseguir a Carey Mulligan.” E paguei a língua. Já disse isso antes, mas tenho você como a Meryl Streep neste ar rarefeito de atores de prestígio. E eu queria ver uma atriz de prestígio usando vestido apertadinho, com o rímel escorrendo pelo rosto e bêbada em um bar.
MULLIGAN: Meu sonho era que um dos figurinos dela se tornasse uma fantasia de Halloween para as mulheres… E aconteceu.
ROBBIE: Sempre pensei que eu realmente chegaria no auge quando um rapper de verdade usasse meu nome em um rap.
MULLIGAN: Deve ter acontecido.
ROBBIE: Na verdade, foi o Jack Harlow. Fiquei muito animada. Todos os meus amigos me enviaram dizendo: “Aconteceu. Você chegou no auge.”
MULLIGAN: Eu quero perguntar sobre Barbie. Ainda não conheci Greta Gerwig de maneira apropriada. Ela é a melhor — digo isso de vista. Mas ela fazendo com você e com o Ryan Gosling, minha nossa.
ROBBIE: É verdade, você trabalhou com…
MULLIGAN: Trabalhei com o Ryan em Drive.
ROBBIE: Ele não é o ser humano mais glorioso do mundo?
MULLIGAN: O homem mais doce e gentil do mundo e um ator incrível. Vocês dois fazendo Barbie com a Greta é tão engraçado.
ROBBIE: Vi muitas semelhanças entre a Greta e o Damien. Eles faziam as mesmas referências. Os dois amam Os Guarda-Chuvas do Amor. Digo, vários diretores amam, mas estranhamente peguei os dois fazendo as mesmas referências. E perguntei se eles já haviam conversado antes e Greta disse que eles nunca se conheceram.
MULLIGAN: Foi uma reviravolta surpreendente para a Greta.
ROBBIE: Estive trabalhando no filme por uns quatro ou cinco anos — é um projeto da LuckyChap. E fomos atrás da Greta. Existiam talvez três pessoas com quem eu gostaria de fazer um filme da Barbie, então se ela dissesse não… Que bom que ela aceitou. Ela é brilhante.
MULLIGAN: Vocês construíram casas dos sonhos gigantes no filme?
ROBBIE: As casas dos sonhos? Vocês vão ver algumas. E será tudo o que sempre sonharam.

Margot Robbie é capa e recheio da edição de dezembro/janeiro da revista Vanity Fair! A atriz e produtora conversou com a revista sobre seu papel como Nellie LaRoy em Babilônia, falou sobre as últimas fofocas inventadas por tablóides, sobre a LuckyChap Entertainment e muito mais. Veja as fotos e leia a entrevista traduzida abaixo:
Margot Robbie quer me levar para Nova York. Estamos no lote da Paramount em Los Angeles e ela está fazendo um tour comigo por alguns dos lugares em que filmaram Babilônia, seu próximo filme sobre a mudança vertiginosa que aconteceu em Hollywood no final da década de 1920. Estamos prestes a entrar no lote de Nova York — bairros falsos usados como cenário para várias cidades — quando um segurança nos interrompe dizendo: “Com licença, para onde estão indo?”
Tentamos dizer “para lá” e continuar caminhando como se fossemos donas do lugar. O segurança não acredita. Ele pergunta com qual produção estamos. É quando espero que minha guia turística diga: “Sou a Margot Robbie.” Em vez disso, ela murmura algo sobre estar com Babilônia e “fazendo pós-produção”. Em seguida, sua voz desaparece. O segurança claramente não reconhece que em sua frente está a atriz que deu vida à Harley Quinn e foi indicada a um Oscar por interpretar Tonya Harding. Ele nos diz para sair do set porque estão filmando. Robbie concorda educadamente. Ela ri quando viramos a esquina. “Eu deveria ter uma história melhor para a capa”, diz ela. “Você deve achar que eu seria melhor nisso.”
E eu realmente acho difícil acreditar que Robbie dá de cara com duros “nãos” com muita frequência. Não por conta de sua aparência — sim, ela é deslumbrante, já falamos muito sobre isso — mas por conta das histórias que ouvi sobre sua tenacidade. Seu primeiro grande trabalho, a novela australiana Neighbours, era para ter sido uma aparição especial, mas ela causou uma impressão tão boa que ficaram com ela por três anos. Robbie conseguiu seu primeiro papel bem-sucedido em O Lobo de Wall Street em parte porque teve a coragem de dar um tapa em Leonardo DiCaprio durante o teste. E ela escreveu uma carta não solicitada para Quentin Tarantino dizendo que esperava trabalhar com ele um dia, eventualmente se vendo no set de Era uma Vez em… Hollywood.
Todos com quem falo sobre Robbie enfatizam sua ética de trabalho. “Seu superpoder e o que a torna um talento de uma geração só é que ela consegue fazer tudo”, diz Christina Hodson, uma boa amiga e roteirista de Aves de Rapina. “Se você assistir Margot aprendendo uma nova habilidade, é bem assustador. Quando ela fez as cenas de ação para Aves de Rapina, as equipes de dublês mostravam algo para ela uma vez só. Ela tenta uma vez e na segunda já está fazendo melhor do que eles.” A colega de elenco de Robbie em Eu, Tonya, Allison Janney, disse que ela a lembra de Katherine Hepburn, que organizou Núpcias de Escândalo sozinha quando sentiu que não estava recebendo os papéis que merecia. Martin Scorsese diz que ela o lembra de duas lendas, Carole Lombard e Joan Crawford: “Como Lombard, ela é vivaz, de uma beleza impressionante, e com um ótimo senso de humor, principalmente sobre ela mesma. Como Crawford, ela é completamente pé no chão e instantaneamente dominante — ela entra em cena e você presta atenção nela.”
Não é surpresa, então, que Robbie interpreta um ícone fictício de Hollywood em ascensão em Babilônia, a dramédia épica da Paramount liderada por ela, Brad Pitt e o novato Diego Calva. O filme, que chega aos cinemas em janeiro, se passa durante a época mais louca da indústria, quando o dinheiro estava fluindo, as regras eram poucas e as possibilidades de fama e sucesso pareciam infinitas. De acordo com a uma hora e pouquinho que assisti, o filme aspira ser uma visão caleidoscópica sobre a indústria do cinema quando os filmes falados estavam prestes a mudar tudo para sempre. Babilônia busca capturar a decadência e deprevação da época, junto com a loucura e — não querendo soar muito como a Nicole Kidman naquele comercial da AMC — a mágica do cinema. “O que você vê na tela é o caos de fazer um filme e como é foda, mas também como é a melhor coisa do mundo”, Robbie diz sobre Babilônia. “E, literalmente, filmar foi a mesma coisa. Tudo era tão descontrolado, divertido, incrível e absurdo. Definitivamente foi a melhor experiência da minha vida.”
Robbie pode estar sentada comigo porque ela tem um filme para divulgar, mas para constar, eu acredito nela. A Nellie LaRoy de Babilônia é sem dúvidas a personagem mais próxima dela mesma que ela já interpretou. Nellie é uma estranha em Hollywood, apimentada e cheia de vigor e de uma energia indomável. Ela tropeça em seu primeiro papel com um pouco de sorte, mas faz uma performance tão distinta que a coloca no caminho do estrelado. “Margot é capaz de explorar esse lado selvagem e essa bravura em que você não sabe o que vai acontecer, e continua a surpreender” diz Damien Chazelle, que dirigiu Babilônia. “Normalmente, quando você pensa em atores com esse tipo de energia crua, é uma energia sem instrução. Com a Margot, esse não é o caso.” Em outras palavras, ela é um tornado com uma verdadeira técnica.
Assim como Nellie, Robbie, que tem 32 anos de idade, ganhou a atenção de Hollywood com uma performance explosiva, em O Lobo de Wall Street, e construiu uma carreira que sugere o que uma estrela de cinema moderna pode ser. Ela é uma atriz e produtora que não leva desaforo e fica entre os filmes de grande orçamento e independentes obscuros, mesmo que ainda esteja um pouco desconfortável com a atenção. “O jeito que eu tentei explicar esse trabalho — e mundo — para as pessoas é que os altos são realmente muito altos,” diz ela, com a mão pairando acima de sua cabeça, “e os baixos são muito, muito baixos. E acho que, se você tiver sorte, encontra uma balança no meio.”
Robbie está usando uma jaqueta preta grande por cima de uma camiseta preta e calças xadrez marrom wide-leg, carregando uma braçada de cadernos e livros. É provavelmente por isso que, quando três carrinhos de golfe repletos de turistas passam por nós, ninguém a nota. Enquanto caminhamos pelo lote, falamos sobre como é louco que 100 anos de estrelas passaram por essas mesmas ruas, Clara Bow entre elas, o ícone da era dos filmes mudos. Bow foi a primeira it girl — um símbolo sexual e a principal bilheteria da Paramount por vários anos, estrelando em 46 filmes mudos, incluindo Asas, de 1927, o primeiro a ganhar o prêmio de Melhor Filme.
Bow também é a principal inspiração para Nellie LaRoy em Babilônia. Robbie estudou seus filmes e, principalmente, o começo de sua vida. “Sempre que estou tentando formar um personagem, tenho que entender sua infância. Posso justificar tudo o que fazem no resto da vida se apenas conseguir entender a infância”, diz ela. Uma vez que Robbie aprendeu sobre o quanto a juventude de Bow foi traumatizante — repleta de violência e pobreza, além do abuso cometido por sua mãe com problemas mentais — ela entendeu o que levou Nellie a fugir para os filmes. “Ela provavelmente teve a pior infância que eu poderia imaginar”, diz ela. “Você consegue justificar tudo o que Nellie faz e diz no filme se você imaginar que ela passou por algo assim quando criança.”
Robbie trabalha com um instrutor de movimento para encontrar animais que inspirem o físico de seus personagens — ei, qualquer coisa que dê certo — e me diz que os animais de Nellie eram um polvo e um texugo do mel, porque ela é fluida e tátil, mas brutal quando necessário. Robbie abre um caderno preto e lê algumas anotações sobre polvos: “Eles são fluidos, são brincalhões. Muito inteligentes, ótimos sobreviventes e transformadores. Podem se transformar em qualquer coisa.” Posso confirmar que o polvo aparece em uma cena de festa no começo do filme, em que Nellie — usando um vestido vermelho justo e tendo acabado de usar cocaína — se move pela multidão em uma dança libidinosa e contorcida. O texugo do mel aparece mais tarde durante brigas. Robbie fecha o caderno. “Queria estar com o mapa da minha personagem também,” diz ela, “porque isso faria você ter certeza de que sou maluca quando visse aquilo.”
Nellie é sexy de um jeito natural. Em um momento, Robbie está usando um macacão sem nada por baixo, uma roupa inspirada em algo que Bow já usou uma vez, e ela tem alguns momentos em que está seminua no filme, embora isso não a desanime: Ela já mostrou tudo o que tinha para mostrar em O Lobo de Wall Street. “Eu realmente não tenho muita modéstia sobrando”, diz Robbie, rindo, antes de adicionar que consegue separar-se de seus personagens. “Não tenho vergonha quando é a Nellie fazendo alguma coisa. Teria se fosse eu, mas é tudo ela.” A cena da festa exigiu que Robbie dançasse por oito horas sem parar em dois dias consecutivos. Calva diz que quando terminaram a cena, toda a equipe do filme, os dançarinos e músicos a aplaudiram: “Ela deu tudo de si. Tudo é cru. Ela é uma atriz destemida.”
Adam McKay, que dirigiu Robbie em uma cena altamente memorável em A Grande Aposta em que ela explica os títulos garantidos por hipotecas enquanto toma um banho de espumas, concorda que o compromisso de Robbie é uma de suas maiores qualidades, junto com a vida sempre presente em seus olhos. “Com a Margot, tudo o que ela fizer vai ser sem parar, do começo ao fim”, diz ele. “Mas o que é tão legal nisso é que existe um senso de humor por trás. Há uma diversão que é irrestível.”
Antes do tour pelo lote, Robbie e eu nos sentamos na primeira fila do Paramount Theatre, o deslumbrante cinema de 500 lugares que fica logo após a fonte icônica e o portão de entrada ornamentada do lote. Seu cabelo está alguns tons mais escuros do que o loiro iluminado que já vimos nas telas. Seus livros e cadernos estão em pilha no seu colo. Robbie me conta sobre sua infância em Queensland, Austrália, onde ela e os irmãos foram criados apenas pela mãe. “Eu cresci em uma casa muito barulhenta e movimentada, então me sinto segura e confortável quando o caos está acontecendo ao meu redor”, conta ela. “Acho que é por isso que amo sets de filmagens.” Ela odeia ficar sozinha e muitas vezes convida amigos para ficarem em seu trailer entre as tomadas.
Depois de Neighbours, Robbie mudou-se para os Estados Unidos e interpretou uma comissária de bordo na série da ABC, Pan Am. A série só durou uma temporada, mas ela conseguiu o papel do mulherão que era Naomi Lapaglia em O Lobo de Wall Street de Scorsese. Robbie não estava preparada para ser uma it girl. A fama foi instantânea e intensa. Ela não estava preparada emocionalmente para a perda de sua privacidade e a estabilidade financeira ainda estava longe. Ela me disse que foi um de seus piores momentos: “Algo estava acontecendo naquele momento inicial e foi muito ruim, me lembro de dizer para a minha mãe: “Acho que eu não quero fazer isso.” E ela apenas olhou para mim, completamente séria, e disse: “Querida, acho que é tarde demais para não fazer.” Foi quando percebi que o único caminho era para frente.”
Robbie está lidando melhor com a fama. “Eu sei como passar despercebida em aeroportos e agora sei quem está tentando me foder e de quais jeitos”, diz ela. Mas ainda existem obstáculos. Antes da nossa entrevista, Robbie estava de férias na Argentina quando um paparazzo supostamente tentou tirar fotos dela e de sua amiga Cara Delevingne enquanto tentavam entrar em um táxi. Relatos iniciais afirmaram que Robbie havia se machucado. Quando pergunto sobre o episódio, ela diz que não pode falar nada por conta de questões legais em andamento entre as outras partes envolvidas. Pergunto se ela se machucou e ela diz: “Não, mas poderia ter me machucado.”
De maneira internacional, ela me diz que não há leis que protegem figuras públicas como há em Los Angeles. A família de Robbie na Austrália já passou por situações perigosas enquanto foram perseguidos por fotógrafos. “Se minha mãe morre em um acidente de carro porque você queria uma foto minha indo fazer compras, ou você derruba meu sobrinho da uma bicicleta — para que? Por uma foto?” diz ela. “É perigoso, mas estranhamente parece que nada vai mudar.”
No outono, a mãe de Robbie ligou para ela após um paparazzi fotografá-la supostamente chorando do lado de fora da casa de Cara Delevingne. Os tabloides teorizaram que Robbie estava preocupada com sua amiga e colega de elenco em Esquadrão Suicida, que recentemente havia sido fotografada parecendo transtornada. Então, a mãe dela ligou. Margot estava bem? E a Cara? “Eu disse: “Primeiramente, sim e sim’”, diz Robbie, furiosa. “‘Em segundo lugar, não estou na casa da Cara… Estou do lado de fora de um Airbnb que eu estava alugando por cinco dias! E não estou chorando!” Tinha alguma coisa no meu olho. Estava tentando pegar minha máscara, tentando segurar um copo de café e não conseguia tirar um cabelo do meu olho.”
Antes de entrar para a indústria, Robbie presumiu que a imprensa só publicava a verdade. Então, os tablóides começaram a anunciar diariamente que ela estava grávida quando não estava, e as pessoas ligavam para dar os parabéns. Eventualmente, Robbie aceitou o fato de que ela não pode refutar todas as histórias falsas, uma tarefa de Sísifo, se já existiu alguma. “Você quer corrigir, mas não pode. Você precisa, não sei, olhar para o outro lado.” Quanto a entrevistas, ela admite que a deixa estressada. “Eles querem uma manchete e eu entendo, eles só têm três minutos”, diz ela. “Mas é como fazer sapateado em um campo minado porque você está tão cansada e deu entrevistas por horas e horas, então ter que ficar atenta o tempo todo… Você pode falar a coisa certa centenas de vezes, mas se disser uma coisa errada uma vez, está fodido.”
Quando encontro com ela, Robbie havia acabado de completar a turnê de imprensa de Amsterdam, de David O. Russell, um filme estranho ambientado na década de 1930 em que ela estrela ao lado de Christian Bale e John David Washington. Russell é conhecido por, como posso dizer, seu comportamento intenso no set. Para começar, ele fez Amy Adams chorar enquanto faziam American Hustle e gritou de modo profano com Lily Tomlin no set de Huckabees – A Vida é uma Comédia em um vídeo tão horrível que agora virou lenda. Pergunto para Robbie se ela teve receio em trabalhar com ele, especialmente nessa “nova” Hollywood em que, idealmente, comportamento tóxico não é tolerado. “O processo com David começou anos atrás”, diz ela, completando que eles criaram o personagem juntos. “Uma conversa levou para outra que levou para outra que durou anos e anos. Então, não foi um momento do tipo: “Você diria sim para um filme do David O. Russell?’” Ela gostou do brainstorming, dizendo: “Nunca me envolvi tanto apenas como atriz. Nunca um diretor quis ouvir tanto o meu ponto de vista no processo de desenvolvimento.”
Eu pergunto se alguma vez foi desconfortável no set. Ela balança a cabeça em negação. “Eu tive uma experiência bastante incrível”, diz ela. “Outra coisa que gostaria que as pessoas entendessem é que quando você faz um filme, não está fazendo apenas com o diretor e com os atores. Está fazendo com tantas pessoas.” Ela destaca o cinegrafista ganhador do Oscar Emmanuel “Chivo” Lubezki e diz que trabalhar com ele foi um dos “melhores momentos” de sua carreira.
À medida que nos falamos, Robbie é sincera e generosa, muitas vezes divagando em histórias apaixonantes sobre suas experiências no set de filmagens ou seus filmes e podcasts favoritos (ela ama Team Deakins, um podcast sobre filmes com o cinegrafista Roger Deakins e sua esposa, James Ellis Deakins). Ela é mais cuidadosa quando desviamos para sua vida pessoa. “É uma coisa tão irônica”, diz ela. “Quando você é ator, o ponto principal é que você está mostrando outras pessoas para as pessoas, então é uma coisa tão sem lógica falar sobre si mesmo quando você passa esse tempo todo se escondendo.”
Mesmo assim, ela parece estar escondendo nada mais do que decência humana (ela pagou toda a hipoteca da mãe com seu primeiro grande salário) e um gosto por se divertir com amigos (ela viaja com as amigas para surfar na Nicarágua e vai para a Espanha em grupos). Alguns outros detalhes que sugerem que estamos lidando com uma pessoa em três dimensões: Robbie consegue abrir uma garrafa de cerveja com outra garrafa de cerveja. Ela quer aprender a tocar banjo. Sua festa de aniversário teve a temática de Love Island. “Ela realmente ama Love Island, o que é surpreendente porque ela tem muita classe”, diz Hodson. “Mas, sim, definitivamente é um prazer culposo que gastamos muitas e muitas horas.”
Em um momento, Robbie diz que gostaria de ter sido atriz na década de 1920 ou até mesmo na década de 1970. Mas ela pôde interpretar uma variedade de papéis — colocando furúnculos no rosto para interpretar a Rainha Elizabeth I em Duas Rainhas, usando patins e enchimento para Tonya Harding e maquiagem exagerada e um taco de beisebol para a Harley Quinn — enquanto produzia os tipos de projetos que desejava. Clara Bow podia interpretar apenas um tipo de personagem e tinha pouco controle sobre sua carreira — o que, posso dizer com certeza, incomodaria Robbie. Ela pega outro caderno e lê Walt Whitman: “Eu me contradigo? Muito bem, então me contradigo. Sou grande. Contenho multidões.” Ela olha para cima e sorri. “‘Contenho multidões” é uma coisa bem legal de se lembrar.”
Hollywood não esperava que ela fosse conter multidões. Quando ela ganhou destaque depois de O Lobo de Wall Street aos 22 anos, Robbie recebeu ofertas de papéis previsíveis da loira gostosa, e ela recusou todos. Digo que Hollywood ama colocar as mocinhas em uma caixa e ela vai ainda mais longe: “Acho que as pessoas gostam de colocar outras em caixas.” Até mesmo hoje em dia, Robbie não recebe os créditos suficientes por seu trabalho como produtora. Em 2014, ela fundou a LuckyChap Entertainment com três de seus melhores amigos — um deles, Tom Ackerley, tornou-se marido dela em 2016. A primeira estreia da produtora foi Eu, Tonya em 2017, um sucesso em críticas que rendeu três indicações ao Oscar e uma vitória para Allison Janney. Em 2021, Bela Vingança trouxe mais cinco indicações ao Oscar e uma vitória em Melhor Roteiro Original para Emerald Fennell. A produtora, que defende histórias e talentos femininos, produziu cinco filmes neste ano, incluindo o próximo de Fennell.
E então, há Barbie. O filme estava essencialmente morto depois de mudar de atrizes principais (Amy Schumer e Anne Hathaway) e roteiristas até que Robbie assinou para estrelar e produzir. Ela trouxe Greta Gerwig para coescrever (com seu parceiro, Noah Baumbach) e dirigir, buscando uma visão subversiva da boneca mais icônica do mundo. “Fazer um filme óbvio sobre a Barbie seria extremamente fácil,” diz Robbie, “e tudo o que é fácil provavelmente não vale a pena fazer.” Gerwig ficou tão impressionada com Robbie a ponto de ficar perplexa: “Uma vez, queria filmar a Margot em câmera lenta, mas fazer todo o resto continuar rápido, então fui até ela e disse: “Você pode se mover em 48 quadros por segundo, mesmo que estejamos filmando em 24 quadros por segundo e todo mundo se movendo na velocidade normal?” Ela fez algum cálculo de cabeça e conseguiu. Ela literalmente se moveu em uma taxa de quadros mais alta. Não sei em que categoria isso se encaixa além de mágica.”
Robbie está ciente de que há muitos olhos nesse filme, o que ela vivenciou em primeira mão enquanto filmava em Venice Beach com seu colega de elenco Ryan Gosling usando maiô neon e patins: “As pessoas têm sentimentos intensos. Eu prefiro isso do que indiferença. Agora, deixe-me destruir suas expectativas. É muito mais assustador, mas é um ótimo lugar para começar.”
Para deixar claro, Robbie é uma produtora que realmente trabalha. Ela está nas reuniões de pré-produção, está no set, está apagando incêndios e recebendo “gritos dos agentes”. Quando aponto que muitos atores que conseguem créditos como produtores realmente não, hm, fazem nada na produção, ela diz: “É, isso me tira do sério. É tão irritante porque eu tenho que lutar toda vez.” Por lutar, ela quer dizer lutar para ser levada a sério como produtora. No começo de todos os projetos, ela é deixada de fora dos e-mails ou não é convidada para as reuniões porque as pessoas presumem que é apenas um título de vaidade para ela. “Então, depois de alguns meses, as pessoas percebem: “Ah, ela realmente é produtora’”, diz ela. “Mas ainda assim, as pessoas dirigem todas as perguntas sobre dinheiro aos meus parceiros, nunca a mim. E muitas vezes Tom e Josey precisam falar: “Isso é com ela, na verdade.’”
Passeamos por quase todas as ruas no lote da Paramount. Robbie me mostrou onde ela fez ensaios de dança (e escola de palhaço) por meses para Babilônia, e onde ela filmou uma de suas cenas favoritas, uma briga voraz e acirrada entre sua personagem e o de Calva. (Ela acidentalmente quebrou uma janela e machucou as costelas de Calva — e então a cena foi cortada do filme.) Robbie mostrou alguns dos 31 sotaques que ela tentou para a Nellie em algumas gravações em seu celular. Em uma delas, ela soa exatamente como Fran Drescher. Em outra, é como se a Snooki de Jersey Shore encontrasse o Joe Pesci. Eles eventualmente concordaram em um sotaque de Jersey com uma voz rouca de tanto festejar. Quando as filmagens de Babilônia terminaram, Robbie estava desnorteada: “Foi a personagem com mais desgaste físico e mental que já interpretei, em disparada. Ela exige tanto de você que me deixou em frangalhos.”
Robbie e o marido estão se mudando para uma nova casa em Los Angeles — eles também têm uma casa em Londres — e, para completar os cinco filmes que está produzindo, ela está preparando Barbie para o próximo verão. Robbie também está em pré-produção com a prequência de Onze Homens e Um Segredo que ela irá estrelar e produzir. O outro spin-off de outra franquia, Piratas do Caribe, que ela esteve envolvida está morto, ela me conta. “Tínhamos uma ideia e estávamos desenvolvendo por um momento, um tempão atrás, de ter um filme mais comandado por mulheres — não totalmente, mas só um tipo diferente de história — o que achamos que seria bem legal, mas acho que eles não queriam”, diz ela sobre a Disney.
Há diretores que ela ainda espera trabalhar, é claro: Paul Thomas Anderson, Bong Joon Ho e Céline Sciamma. Mas mais do que nunca, o foco de Robbie está no legado. Ela fala sobre os filmes que ela assiste e reassiste em suas noites de cinema com o marido e amigos — os de 1920 ou de 1970 que “décadas e décadas depois, ainda conseguem te emocionar de novo.” Robbie fará alguns. Apenas espere.