Margot Robbie e as Barbies Issa Rae, Kate McKinnon, Hari Nef e Alexandra Shipp são capa da icônica revista TIME. A atriz e produtora do filme do momento conversa com a revista sobre a produção, além de participar de um vídeo brincando com as bonecas ao lado das atrizes. Leia:

Há muito a ser considerado sobre a Barbie, mas vamos começar com os pés dela. Perfeitamente arqueados, mas não totalmente em meia ponta — a posição ideal para caber em qualquer salto alto. Eles são instantaneamente reconhecíveis para qualquer pessoa que já brincou com a icônica boneca. Então, quando o trailer do filme da Barbie começou com uma cena da estrela Margot Robbie tirando os saltos, ainda na ponta dos pés, a internet explodiu. No TikTok, pessoas tentaram imitar a cena que viralizou com saltos ainda mais altos. O Wall Street Journal entrevistou um podólogo sobre a impossibilidade física do momento. “Eu preciso saber tudo”, tweetou Chrissy Teigen.

Robbie tem as respostas: A cena precisou de oito tomadas. Ela teve que segurar em uma barra para manter os pés flexionados. E, sim, são os pés dela. “Eu realmente não gosto quando outra pessoa faz as minhas mãos ou pés em uma cena de inserção”, diz ela.

Interpretar a Barbie é complicado, e não só porque requer uma força imensa na panturrilha. Já fiz reportagens sobre a Mattel, empresa-mãe da Barbie, pela maior parte da década e já participei de grupos de teste com mães e filhas. Alguns pais dizem que a Barbie inspira as crianças a se imaginarem como astronautas e figuras políticas. Porém, outros se recusam a comprar a boneca — com a cintura pequena e grandes seios — porque ela estabeleceu um padrão de beleza impossível para suas filhas, um problema que precipitou grandes mudanças no visual da boneca em 2016. Um filme da Barbie sempre seria complicado e o estúdio que está por trás da divulgação sabe disso. Como o trailer coloca: “Se você ama a Barbie, esse filme é para você. Se você odeia a Barbie, esse filme é para você.”

Robbie adiciona: “Se você se sente indiferente quanto a Barbie ou não pensa nela há anos, esse filme também é para você.”

Quando foi anunciado em 2021 que Greta Gerwig, que dirigiu as histórias de amadurecimento indicadas ao Oscar Lady Bird e Adoráveis Mulheres, estaria no comando de Barbie, os fãs ficaram confusos, surpresos e encantados. Talvez o filme fosse uma abordagem idiossincrática, subversiva e até feminista da boneca, não apenas um comercial para a Mattel. Porém, assim como a Barbie, a existência do filme é um exercício sobre contradições.

Se você está se perguntando se Barbie é uma sátira das ambições capitalistas de uma empresa de brinquedos, uma denúncia contundente do estado atual das relações de gênero e uma homenagem comovente, embora ocasionalmente clichê, ao poder feminino, ou um espetáculo musical repleto de músicas chicletes de Nicki Minaj e Dua Lipa, a resposta é sim. Todas as opções. E mais algumas.

Também é o filme mais aguardado do verão — se não do ano —, o que significa que muito depende de Barbie. Não apenas para Robbie e Gerwig, nenhuma já tendo produzido um filme dessa escala, mas também para a Mattel. Depois de um período de queda nas vendas, a Barbie recentemente revigorada está pronta para sua estreia nas telas. A mudança da Barbie para Hollywood é ideia do CEO da Mattel, Ynon Kreiz, que assumiu o cargo há cinco anos com a visão de alavancar a propriedade intelectual da empresa em um universo cinematográfico baseado nos brinquedos da Mattel.

Barbie será a prova do conceito quando chegar aos cinemas no dia 20 de julho, mas primeiro precisa enfrentar Tom Cruise (Missão: Impossível) e Christopher Nolan (Oppenheimer) na temporada de filmes de verão mais movimentada em anos. Se as projeções de estreia de 55 milhões de dólares de bilheteria se confirmarem, será graças à febre da Barbie. Qualquer coisa associada ao filme — um raro blockbuster direcionado para mulheres — tem sido recebida de maneira impressionante, desde fotos de paparazzi de Robbie com o colega de elenco Ryan Gosling (Ken) andando de patins em Venice Beach usando maiô fluorescente no ano passado até uma prévia que parodia de forma inteligente o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço. A Mattel criou parte do entusiasmo lançando cafés com a temática Barbie Malibu e anunciando parcerias com a Bloomingdale’s, a Crocs e a Hot Topic. Outros momentos sugerem um efeito bola de neve: Kim Kardashian recentemente fez uma festa com o tema da Barbie para a filha e celebridades estão sendo fotografadas usando mini vestidos rosa pink. (Embora, como o executivo da Mattel me lembra, o Barbiecore “não aconteceu do nada.”)

O que quer que o público pense de Barbie, Gerwig ainda parece não acreditar que conseguiu fazer essa versão. “Esse filme é um milagre do caramba”, diz. Ela o chama de “uma margarita surpreendentemente picante.” Quando você percebe que a borda salgada tem pimenta caiena misturada, é tarde demais. “Você já sentiu a doçura e então decide ir com a pimenta.”

Como uma cineasta que é mais conhecida por filmes reflexivos sobre a vida interior das mulheres escreve e dirige um filme sobre um brinquedo que não tem vida interior e é definida (principalmente) pela aparência? É simples: Gerwig ama bonecas.

“Eu brinquei com bonecas por tempo demais”, diz a diretora de 39 anos. “Eu ainda brincava no ensino médio. A galera estava bebendo e eu estava brincando de boneca.” A mãe de Gerwig não era fã da Barbie por razões feministas: “Ela passou pelos anos sessenta e dizia: “Para que fizemos aquilo tudo?’” Porém, brincar com Barbies provou ser um treinamento para o trabalho de Gerwig como contadora de histórias.

Gerwig e o parceiro, o cineasta Noah Baumbach, escreveram o roteiro em circunstâncias inusitadas. Depois de participarem de um acampamento de treinamento oferecido pela Mattel, que começou com uma aula de história sobre a inventora da Barbie, Ruth Handler, e envolveu um tour das roupas mais fabulosas (e vergonhosas) da Barbie, a pandemia aconteceu. Trancados em casa em Nova York, a dupla não recebeu as típicas anotações do estúdio enquanto faziam o rascunho. “Trabalhamos muito para dar espaço para eles e deixá-los criar o conceito do filme, sem interrupções, sem pressão das pessoas — nem a Mattel, nem a Warner Bros., nem nós”, diz Robbie, de 32 anos, cuja produtora LuckyChap produziu o filme. “Depois, quando eu vi o roteiro, pensei: “Não vão deixar a gente fazer esse filme. Esse roteiro está realmente abusando.’”

Então, o que exatamente é esse filme? Mesmo com o ataque de rosa da divulgação, a Warner Bros. conseguiu manter o enredo em segredo. Não estou aqui para dar spoilers do filme, que eu assisti no escritório temporário de Gerwig, um espaço cinza em Chelsea enfeitado com um capacho magenta da Barbie. Porém, posso compartilhar que é uma brincadeira divertida, embora autoconsciente, com toques de As Patricinhas de Beverly Hills e Legalmente Loira. Também é cheio de ideias e ocasionalmente dominado por elas.

O filme se passa na Barbielândia, uma utopia onde cada Barbie tem um trabalho impressionante. Como a narradora de Helen Mirren diz ironicamente, “todos os problemas do feminismo e da igualdade de direitos foram resolvidos.” As Barbies fazem festas do pijama todas as noites, durante as quais elas declaram o quanto se sentem bonitas e confiantes. Os Kens (interpretados por Gosling, Simu Liu e outros) existem como convenientes parceiros de dança. Mas então a Barbie de Robbie começa a pensar na mortalidade. Aqueles pés arqueados ficam planos. As celulites aparecem em suas coxas. Para combater essas mudanças, ela deve se aventurar no mundo real com o Ken, que tem se sentido como um mero acessório na vida dos sonhos da Barbie. O mundo real é, bem, real. Homens usando ternos na Mattel — liderada pelo CEO de Will Ferrell — fazem discursos falsos sobre o empoderamento feminino; pré-adolescentes criticam a Barbie por causar estragos na autoestima. Tanto a Barbie quanto o Ken partem em busca da auto descoberta, e é aí que as coisas ficam muito interessantes. (Não vou revelar a história do Ken, mas Gosling quase rouba a cena.)

Também há um número musical surpreendentemente balético que parece ter sido inspirado em Grease e Cantando na Chuva; uma sequência de perseguição de carros; uma mulher misteriosa em uma cozinha; uma piada recorrente sobre a paixão de Sylvester Stallone por casacos de pele. E isso tudo acontece antes das coisas ficarem filosóficas.

Cada um dos atores com quem conversei citou Gerwig e o roteiro inteligente como a razão pela qual participaram do filme. “Eu sabia que o filme não ia se afastar das partes da Barbie que são mais interessantes, mas potencialmente um pouco mais complicadas”, diz Hari Nef, que interpreta a Barbie médica. “A história contemporânea do feminismo e da positividade corporal… há questões sobre como a Barbie se encaixa nisso tudo.”

Esses pontos se provaram mais controversos com as entidades corporativas envolvidas. Robbie Brenner, a primeira produtora executiva da Mattel Films e arquiteta do universo cinematográfico, disse ao alto escalão da empresa: “Vocês vão ficar nervosos o tempo inteiro.”

Gerwig ganhou a confiança da fabricante dos brinquedos com a ajuda de Robbie. Em um momento, Richard Dickson, COO e presidente da Mattel, disse que pegou um avião até Londres para discutir com Gerwig e Robbie sobre uma cena em particular, que ele sentiu estar fora do tom. Dickson exagera sua exuberância naturalmente masculina, imitando-se marchando diretamente do avião até o encontro. Porém, Gerwig e Robbie representaram a cena e ele mudou de ideia. “Quando você olha no roteiro, não há nuance, a performance não está lá”, explica Robbie.

Robbie preparou o terreno para essa situação com o CEO da Mattel quando se encontrou com ele em 2018, na esperança de que a LuckyChap pudesse assumir o projeto do filme da Barbie. “Naquela primeira reunião, convencemos Ynon de que honraremos o legado da marca, mas se não reconhecermos certas coisas… se não dissermos, outra pessoa dirá”, diz ela. “Então, é melhor fazer parte da conversa.”

Kreiz organizou várias reuniões importantes sobre Barbie no Polo Lounge, um lugar famoso no Beverly Hills Hotel. Foi onde ele se encontrou com Robbie pela primeira vez e onde convidou Brenner para discutir a administração de filmes da Mattel. E então, Kreiz me convida, também, sem um pingo de ironia, para o Polo Lounge para falar sobre as outras conversas sobre Barbie que aconteceram no local. Kreiz foi o quarto CEO da Mattel em quatro anos quando assumiu o cargo em 2018. Ele orquestrou uma reviravolta que incluiu ir atrás do maior talento de Hollywood com uma proposta precisa que provou ser persuasiva. “Não queremos fazer filmes para vender mais brinquedos”, diz ele. “Temos nos saído bem vendendo brinquedos sem filmes.” (O filme ajuda: no dia que a Barbie da Margot Robbie foi à venda, se tornou a boneca mais vendida na Amazon.)

“A transição mais importante foi de ser uma empresa de brinquedos que fabricava itens para se tornar uma empresa de propriedade intelectual que gerencia franquias”, diz ele. É uma estratégia particularmente presciente em um momento em que a fadiga dos filmes de super-herói se instaurou e os estúdios estão desesperados para encontrar uma nova propriedade intelectual com uma base de fãs já existente — desde Super Mario Bros. até Dungeons & Dragons. A Mattel já anunciou quatorze filmes baseados em seus brinquedos, incluindo um filme da Hot Wheels produzido por J.J. Abrams e (curiosamente) um filme do Barney com Daniel Kaluuya. A expansão também inclui mais séries para o streaming, video games, e um parque de diversão da Mattel atualmente em construção no Arizona.

De uma mesa ao ar livre coberta por folhas, Kreiz aponta para o local onde ele se encontrou com Robbie. O CEO estava tão ansioso para falar com Robbie quanto ela estava para fazer um filme da Barbie. Antes de contratar Brenner como produtora executiva da Mattel Films, ele perguntou quem ela achava que deveria interpretar a icônica boneca. Brenner também sugeriu Robbie. “Ela é muito engraçada, profunda, é uma atriz fantástica e se parece…” Brenner faz uma pausa. “Ela é linda.”

É óbvio por que os dois executivos se concentraram em Robbie. Ela se parece com a Barbie. Ou, como o filme coloca, ela parece a “Barbie Estereotipada”. A distinção é importante. Apenas oito anos atrás, em 2015, as vendas da Barbie caíram para 900 milhões de dólares, o mais baixo em vinte e cinco anos. Então, em 2016, a Mattel fez a maior mudança na boneca desde que ela foi lançada em 1959. Em uma capa para a TIME, relatei sobre como, depois de lançar um leque maior de tons de pele e tipos de cabelo para as bonecas, a Mattel lançou três novos tipos de corpo, incluindo a Barbie com curvas. Funcionou (eventualmente). As vendas da Barbie aumentaram e alcançaram um recorde de 1,7 bilhões de dólares em 2021 antes de uma pequena queda em todo o setor no ano passado.

A Mattel esteve brincando com a ideia de um filme da Barbie desde 2009. Houveram rumores de que grandes estrelas (Amy Schumer, Anne Hathaway) e diretoras famosas como Patty Jenkins estavam no projeto antes de Robbie se encontrar com a empresa em 2018. Uma das razões pelas quais a Mattel resistiu em levar a Barbie para as grandes telas de cinema por tanto tempo é porque a empresa trabalhou muito para modernizar a marca e estabelecer que a Barbie não é apenas um corpo, uma personalidade, uma mulher. Atualmente existem 175 Barbies diferentes, com combinações diferentes de corpos, tons de pele e tipos de cabelo. E, no entanto, aqui está Margot Robbie no cartaz como a personificação da Barbie. Há um momento no filme em que Mirren faz uma piada irônica sobre Robbie ser bonita demais para ter inseguranças.

Dickson argumenta que a Barbie precisa parecer com Robbie para que o público que não acompanhou as atualizações da Mattel nos últimos anos vá ao cinema. “É claro que ela parece a Barbie”, diz ele. “Mas todas elas são a Barbie. É o elenco perfeito para expressar o que a Barbie é hoje em dia. E a Margot é a ponte.”

Robbie fica lisonjeada que os executivos da Mattel tenham pensado nela, mas ela nunca quis interpretar a única Barbie. “Se a Mattel não tivesse feito a mudança para existir uma multiplicidade de Barbies, eu acho que não teria tentado fazer um filme da boneca”, diz ela. “Não acho que você deve dizer: “Essa é a única versão da Barbie e é assim que as mulheres devem buscar ser, parecer e agir.’”

Issa Rae, de 38 anos, que interpreta a Barbie Presidente, argumenta que o objetivo do filme é mostrar um mundo em que o ideal singular não existe. “Minha preocupação era que o filme parecesse muito com o feminismo branco, mas acho que é autoconsciente”, diz ela. “A Barbielândia é perfeita, né? Representa a perfeição. Então, se a perfeição fosse apenas um monte de Barbies brancas, não sei se alguém concordaria com isso.”

Mas parece que a Mattel resistiu em parecer moderna demais. Em uma entrevista recente, Amy Schumer revelou que ela saiu do filme da Barbie que ia estrelar porque não era “feminista e descolado” como ela presume que o de Gerwig será. Dickson, que estava na diretoria da Mattel para outras discussões sobre filmes, não comenta sobre Schumer, mas reflete sobre experiências passadas: “Era uma questão de encontrar o talento certo que poderia apreciar a autenticidade da marca e dar vida para aquela controvérsia de uma maneira que, sim, faz piada de nós, mas possui um propósito e uma emoção no final.”

Mesmo assim, em uma entrevista para essa matéria, Brenner disse que o filme de Gerwig “não é feminista”, um sentimento repetido por outros executivos da Mattel com quem conversei. Foi um contraste enorme com a minha interpretação de filme e com as conversas que tive com muitos dos atores, que usaram o termo de maneira espontânea para descrever o roteiro. Quando repassei as palavras da Mattel para Robbie, ela arqueou as sobrancelhas. “Quem disse isso?” pergunta e depois suspira. “Não é questão de ser ou não ser. É um filme. É um filme que tem muito a ver com isso.” O mais importante, Robbie enfatiza para mim, é que “fazemos parte da piada. Não é um artigo de bajulação para a Barbie.”

O Corvette da Barbie não é qualquer conversível velho com uma pintura rosa. Se você colocar uma boneca no carro dela, ele é muito pequeno — o para-brisa termina no peito. Portanto, Gerwig insistiu que a versão em tamanho real fosse um pouco pequena para Robbie. O veículo da Barbie foi criado cuidadosamente como um modelo, e ampliado usando uma fórmula matemática para garantir que tudo na Barbielândia parecesse de brinquedo.

A equipe de Gerwig construiu uma vizinhança inteira feita de Casas dos Sonhos sem paredes. Os atores tiveram que ficar presos por cabos para que não caíssem do segundo andar. Os céus e nuvens no fundo foram pintados à mão para dar um aspecto de sala de brinquedos, bem como o resto do set.

“De uma perspectiva da produção, é maior do que qualquer coisa que já fizemos”, diz Tom Ackerley, de 33 anos, parceiro de produção e marido de Robbie. “Queríamos que você sentisse que poderia alcançar a tela e tocar nas coisas.” A LuckyChap contratou David Heyman, que produziu os filmes da saga Harry Potter, para ajudar a criar esse mundo fantástico. “Acho que nunca vimos ou veremos um filme com mais rosa”, diz Heyman. Gerwig apelidou de brincadeira a dupla de Ken David e Ken Tom.

Nem todos no filme tiveram um grande relacionamento com a Barbie na infância como Gerwig. Kate McKinnon preferia brincar com conchas que encontrava na praia ou pequenos animais de zoológico de plástico. “Eu não me via na Barbie quando era mais nova”, diz ela. “Eu me via em uma lagosta inflável.”

Porém, McKinnon, de 39 anos, observava a irmã e as amigas brincarem com as bonecas: elas cortavam o cabelo da Barbie, desenhavam no rosto dela e até colocavam fogo. Ela tem uma teoria: “Elas estavam externalizando como se sentiam, e elas se sentiam diferentes.” Então, quando Gerwig ofereceu o papel da Barbie Estranha para McKinnon, uma boneca que foi usada de maneira bastante agressiva no mundo real, ela agarrou a oportunidade. McKinnon ficou impressionada com a maneira como o roteiro lidava com o apego complicado à boneca. “O filme comenta com sinceridade sobre os sentimentos positivos e negativos”, diz ela. “É uma crítica cultural incisiva.”

Alexandra Shipp, que interpreta a Barbie Autora, também se projetava nas bonecas quando era criança. Shipp, de 31 anos, andou no carro temático da Barbie da Warner Bros. na Parada LGBTQ+ de West Hollywood neste ano e reflete sobre como a Barbie a ajudou a explorar aspectos de sua identidade. “Quando você é criança, seus brinquedos são uma extensão de quem você é de como você pode existir no mundo como uma adulta”, diz Shipp. “É claro, eu tinha Kens, mas quando brincava de casinha, duas Barbies criavam a Skipper.”

Nas redes sociais, Hari Nef, de 30 anos, publicou uma carta que ela escreveu para Gerwig e Robbie pedindo para interpretar uma das Barbies no filme. Ela diz que, como uma mulher trans, se sente ambivalente em relação à palavra boneca, uma gíria na cultura queer para mulheres trans, particularmente aquelas que celebram a alta feminilidade. A palavra pode ser inspiradora e opressiva ao mesmo tempo. “É uma palavra complicada que detém, pelo menos para mim, um padrão tão restrito criado pelo patriarcado que merece ser analisado, mas também é uma promessa da liberdade, segurança e pertencimento”, diz ela. “No mínimo, há uma performance suculenta de uma boneca em algum lugar.”

O mundo pode estar obcecado com os pés da Barbie, mas Gerwig gostaria que eu prestasse atenção nas mãos da boneca. A diretora está enfurnada em Nova York dando os retoques finais no filme e ela está ansiosa para se aprofundar em suas minúcias. A equipe de RP me lembra que nossa chamada no Zoom já acabou há muito tempo, mas Gerwig precisa de mais alguns minutos para apontar que há uma imagem específica no filme que possui uma semelhança notável com A Criação de Adão, de Michelangelo. Ela começa a apontar o dedo para baixo, imitando de maneira animada o momento em que Deus dá vida ao primeiro homem. Exceto que, na pintura filmada de Gerwig, a mão da criadora Ruth Handler toca na mão da Barbie.

“Está no mesmo percurso e ângulo da Capela Sistina”, diz ela. “Ninguém vai notar, então preciso dizer.” Há muito o que extrair da noção de Handler como Deus, criando a mulher perfeita, para ser colocada em um matriarcado idílico — e o caos inevitável que vai se instaurar quando a Barbie deixar o paraíso. Mas sempre que mergulho nas referências ou na política do filme com Gerwig ou com os atores, sou rapidamente lembrada por um executivo ou produtor que esse é um filme divertido de verão.

E é, em parte. É uma mistura de ambição corporativa e traços pessoais. Talvez isso seja um triunfo em uma época em que filmes sobre produtos estejam na moda. Somente nos meses anteriores vimos filmes baseados em um tênis da Nike (Air), um smartphone obsoleto (BlackBerry) e um salgadinho (Flamin’ Hot). Para a Mattel, Barbie é apenas o começo. Kreiz se entusiasma com a possibilidade de “mais filmes da Barbie.”

Robbie esquiva. Ela tem se envolvido em conversas, mas nada concreto. “Podemos seguir milhões de direções diferentes a partir daqui”, diz ela. “Mas acho que você cai em uma armadilha quando tenta montar um primeiro filme enquanto também planeja sequências.”

É difícil imaginar uma sequência, ou qualquer outro filme de brinquedo, tendo o impacto que Barbie já tem. “Procuramos criar filmes que se tornem eventos culturais”, diz Kreiz, e para isso a Mattel precisa de visionários para produzir algo mais intrigante do que um comercial de brinquedo. “Se você pode estimular cineastas como Greta e Noah a abraçar a oportunidade e ter liberdade criativa, você consegue causar um verdadeiro impacto.”

A própria Gerwig admite que “às vezes esses filmes podem ter uma qualidade hegemônica de capitalismo” e ela precisa encontrar maneiras de fazer o filme ter a cara dela. Ela adicionou filmagens dos amigos e família do elenco e da equipe, incluindo imagens que a própria Robbie filmou em uma câmera Super 8 ao longo dos anos, para dar um toque pessoal ao filme. É um filme caseiro bem no meio de um blockbuster de verão, e Gerwig chora toda vez que assiste aquela parte. “É como introduzir a humanidade em algo que todos pensam ser um pedaço de plástico.”

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil