Além de ser entrevistada por Quentin Tarantino para a edição de setembro da VOGUE Austrália, Margot Robbie também foi entrevistada por sua mãe, Sarie Kessler, para a mesma edição da revista. Confira:

É adequado que o título do novo filme de Quentin Tarantino, Era Uma Vez em… Hollywood, soa como se pertencesse a um conto de fadas. Desde que chegou em Los Angeles, Margot Robbie realizou a fantasia de ir da temporada de pilotos para uma atriz indicada ao Oscar, e agora também produtora, aos 29 anos. Nós pedimos para a mãe de Robbie, Sarie Kessler, ligar para sua filha para lembrar não somente da jornada, mas de algumas de suas memórias favoritas juntas.

SARIE KESSLER: Oi querida, é a mamãe!

MARGOT ROBBIE: Oi mãe, como vai?

SK: Bem, amor, estou terminando a minha vitamina do café da manhã. Eu queria ter uma xícara de chá e você sentada aqui comigo. Ok, queria, eu queria falar com você sobre quando você começou a atuar. Você foi para Melbourne [para Neighbours] e ligou para um agente e fez isso tudo por si mesma. Da onde veio isso, essa coragem, essa impetuosidade de fazer isso?

MR: Eu não sei dizer. Acho que é uma pergunta que eu faria para você porque você me conhece melhor do que ninguém. Me diz o que você acha.

SK: Okay, isso é o que eu acho. Quando você nasceu, você era uma pessoinha muito independente – você fazia suas próprias coisas. Você lembra do Rick, um amigo da família, dizendo: ”Ela vai ser a primeira mulher a ser primeira ministra da Austrália um dia.” Ele podia ver essa tenacidade, a individualidade e coragem, e essa atitude de tomar o mundo inteiro que você ainda tem.

MR: Eu acho que você está certa e é engraçado você mencionar o Rick dizendo isso. Eu espero que muitas outras meninas tenham adultos que dizem coisas assim para elas. Não ”Você vai crescer e casar com um homem legal?” ou ”Você vai crescer e ser princesa?” Eu sei que ele estava brincando, mas eu tenho muita sorte de um adulto ter dito isso pra mim quando eu era pequena. Foi um momento comovente onde eu fiquei: ”Sim, por que não tentar alcançar as estrelas?” Você é muito gentil de dizer que era independência. Eu diria que era um pouco de impaciência da minha parte. Eu lembro que quando eu era mais nova, se eu queria fazer alguma coisa, eu não tinha paciência de esperar para ver se alguém poderia me ajudar a fazer. Era mais ”Eu quero isso agora então eu vou olhar os horários do ônibus para ir lá e fazer. Não quero esperar até a mamãe chegar em casa do trabalho e então ver se consigo uma carona para algum lugar.”

SK: Você diria que foi impaciência quando você foi para a Itália… quando você esteve lá com uma viagem da escolha visitando sua irmã Anya e voltou para casa com um piercing no nariz?

MR: Não, eu diria que isso foi estupidez. Se eu soubesse naquela época que um dia eu seria atriz, eu definitivamente não teria feito um piercing no nariz. É muito irritante. Eu vejo o buraco do piercing no nariz o tempo todo na tela e eu sempre penso naquela época que eu era uma adolescente idiota e bêbada na Itália pensando que seria hilário ter um piercing no nariz.

SK: Bom, nada como um pouco de idade para te dar uma perspectiva diferente.

MR: Eu não sei se eu parei de fazer decisões precipitadas, para ser honesta.

SK: Eu não sei se chamaria de precipitadas, Margot, porque você pensa muitos sobre as coisas, também. Eu realmente admirei o jeito que você decidiu como seu futuro seria. Eu lembro da primeira vez que você me disse que seria atriz aos 12 anos.

MR: Eu não lembro de nada.

SK: Você lembra de fazer aquele filme? Você amou tanto que chegou em casa e disse: ”Mãe, você não vai gostar disso, mas eu decidi que vou ser atriz.” E Margot, minha cara foi no chão porque você estava em uma escola muito boa. Você vem de uma família com histórico em medicina e negócios, e você me disse que seria atriz. Eu fiquei perplexa.

MR: Não acredito que não lembro de ter dito isso. Mas quando eu disse, sua cara foi no chão porque você estava surpresa ou porque você pensou que era uma ideia ruim e que devia me dissuadir?

SK: Tudo isso. Eu pensei que é difícil ser atriz e ter uma boa vida. Mas eu fiquei muito preocupada que você estava querendo tomar um caminho que, para mim, não tinha um futuro muito extenso. E agora você poderia dizer: ”Mãe, você precisava de mais fé no que eu posso alcançar.” Eu estou absolutamente muito feliz por você, que você está em uma situação onde você ama o que você faz e você tem a independência de fazer o que você faz porque vocês começaram sua própria empresa. Me conte sobre isso – quando essa ideia começou?

MR: Eu não lembro do quanto eu te contei na época. Conversamos sobre isso quando conheci o Tom [Ackerley, marido de Robbie] e Josey [McNamara, co-fundador] em Suíte Francesa em 2013. Nós não articulamos nossos pensamentos para dizer que deveríamos ter nossa própria produtora chamada LuckyChap, mas foi tipo: ”Vamos fazer alguma coisa.” Nós tivemos essa conversa em 2013 e então novamente quando fomos morar juntos em Londres em 2014. Nós meio que começamos a nos movimentar e organizar a empresa naquela época.

SK: Eu não entendo muito a indústria, só achei que era uma ótima ideia. Eu vi como um jeito de ter longevidade, permite que você tenha essa habilidade extra de fazer o que ama, mas até você ficar muito mais velha. Mas você também disse que queria ter liberdade criativa.

MR: Essa conversa realmente começou com Josey e eu dizendo que os melhores papéis em um roteiro são sempre personagens masculinos. Desde então, nós dissemos que deveríamos fazer roteiros onde as personagens femininas são as mais incríveis – e isso foi antes de ficar popular dizer isso sobre projetos focados em mulheres. O movimento não tinha começado naquela época, mas depois que começou nossa confiança foi apoiada no que estávamos fazendo e também mudou a apetite das pessoas por esses tipos de projetos, então o timing foi perfeito.

SK: Foi mesmo. Você estava a frente do seu tempo, querida. Você lembra o que você fez com seu primeiro salário vindo da atuação?

MR: Eu gastei pagando você de volta, mãe. Você não lembra?

SK: Não, eu lembro, está certa.

MR: Eu estava devendo no final do terceiro ano. Eu tinha anotado tudo o que eu estava te devendo em um pedaço de papel e sempre que eu recebia meu salário eu pagava minha dívida, mas então eu guardei o papel porque era tão satisfatório no final saber que eu paguei tudo. E então eu comecei a guardar. E depois eu provavelmente passei a sair e, não sei, gastei no cinema.

SK: Quando estávamos falando sobre o começo da sua carreira na atuação, eu realmente não vi os traços, mas eu deveria, porque mesmo quando você era pequena você era uma performer. Eu só pensava que você era um pouco precoce. Eu lembro seu primeiro dia de personagem no jardim de infância. Todas as crianças tinham que subir no palco de fantasia, dizer olá para alguma autora adorável, e então mostrá-la o livro que tinha o seu personagem. Então encontramos uma fantasia de abelha para você…

MR: Eu lembro. Eu não lembro do livro, no entanto.

SK: Foi muito fofo, você subiu no palco para dizer olá para a senhora e então você ficou lá girando e fazendo ‘Buzz, buzz…’ Eu lembro de pensar: ”Da onde surgiu isso?” Esse foi o começo.

MR: Eu lembro que era O Ursinho Pooh.

SK: Eu também quero falar sobre como seu gosto para moda mudou. Quando você era pequena eu não conseguia tirar você dos boardshorts e blusas mal combinadas.

MR: E botas de fazenda.

SK: Sim, e botas de fazenda. E agora você é esse incrível ícone da moda sentada na primeira fila da alta costura da Chanel.

MR: Mãe. Deus te abençoe. Eu não sou um ícone da moda, mas obrigada por dizer isso.

SK: Bom, você é para mim. Então me conte, qual sua primeira memória com a moda?

MR: Eu acho que você é suspeita para dizer. Eu lembro da minha prima Julia e eu, nós tínhamos esse baú de fantasias e era a coisa mais legal do mundo. Não era muito sobre moda quanto fantasias e brincar de se fantasiar e de contar histórias. É hilário quando eu olho para aquelas foto e honestamente, mãe, eu não sei porque você me deixava me vestir sozinha. Eu parecia ridícula. As meninas acharam uma foto nossa outro dia em uma coisa da escola e estou usando uma saia cor de damasco, que eu acho que a Tahlia, minha babá, tinha feito, e uma camisa e botas de fazenda. Eu não sei como você me deixou sair usando aquilo.

SK: Provavelmente porque você teria feito pirraça se eu não deixasse. Quando eu vejo você sentada do lado da Anna Wintour ou sendo a nova embaixadora de fragrâncias da Chanel, eu penso: ”Me belisca, essa não pode ser minha filha. A que usava botas de fazenda e saia com cor de damasco.”

MR: Estou pensando a mesma coisa.

SK: E você sabe que, estando em uma família grande – com dois irmãos, uma irmã e você – nós tínhamos que nos organizar e superar as dificuldades de termos orçamentos apertados e você estava bem disposta a ajudar com isso.

MR: Falando nisso, você lembra do jantar de formatura na escola e eu não tinha roupa para usar? Eu encontrei uma saia no baú de fantasias, era uma saia dos anos 80, e eu usei como um vestido e coloquei um cinto. Quando eu cheguei lá todo mundo ficou: ”Ooo, vestido legal, da onde é?” Porque todos estavam usando algo mais elegante, e eu disse que era Willow, que é uma marca muito chique e descolada na Austrália.

SK: Era uma saia de tafetá preta e você colocou um cinto e pegou um par de sapatos vermelho. Você sente falta da sua família, querida? Sentimos sua falta.

MR: Sempre. Sempre, mãe, você sabe disso. Mas eu vou ver o Cam [irmão] em breve. Vou trazer ele para a premiere porque ele estava em LA quando eu estava filmando e ele veio até o set. Quentin foi muito legal e colocou o Cameron sentado ao lado dele e do monitor, explicou a cena inteira para ele, o que o guindaste estava fazendo… Eu pude dizer que ele estava tentando ficar frio, mas ele estava praticamente hiperventilando.

SK: Quando você foi para LA pela primeira vez, Margot, para mim você era tão jovem e cada vez que você voltava para casa e ia embora era horrível. Eu costumava chorar o caminho inteiro até Gold Coast. Eu estava muito feliz por você e porque você estava fazendo o que amava, mas você ainda estava lá sozinha. Mas quando você conheceu o Tom, e então casou com ele, eu costumava pensar: ”Oh, graças a Deus ela vai voltar para esse homem maravilhoso e tenho muita sorte porque ele adora ela e ela adora ele.” Sou muito grata por tê-lo como meu genro, e muito grata por você poder voltar para ele.

MR: Aww, obrigada, mãe.

SK: Quando fazemos coisas juntas, você e eu, qual foi o momento em que você parou e pensou: ”Estamos realmente aqui?”

MR: Com certeza no começo desse ano, quando estávamos em Cannes para o Festival. Esse foi um momento “me belisca”. Nós estávamos ficando no Hotel du Cap, que é muito chique, e parecia que em todo quarto que entrávamos tinha uma garrafa de champagne a disposição. Honestamente, você e eu esperávamos todo mundo sair do quarto e então olhávamos para a outra e dizíamos: ”Vamos beber champagne.” Ou, você lembra do vôo até lá? Nós voamos de primeira classe e estávamos surtando porque eles tinham caviar. Em um avião! E eu fiquei tipo: ”Eu nem gosto de caviar, mas vamos pedir de qualquer jeito.”

SK: Falando sobre memórias queridas, qual uma das suas favoritas da infância em Gold Coast? Algo que sempre ficou com você.

MR: Quer saber? Todas as minhas memórias mais queridas são fora de casa. A primeira coisa que vem na minha mente é brincar no quintal da casa da Julia, brincando de casinha, indo para a fazenda, para a piscina de pedras. Você lembra de quando morávamos em Currumbin Valley e eu sempre fazia a lição de casa em uma árvore? Eu já disse isso para amigos que cresceram em Nova York e Londres e eles não fazem ideia do que eu estou falando. E eu digo: ”Bem, havia árvores canforeiras atrás do pasto e eu podia sentar na árvore e fazer minha lição de casa e a mamãe podia gritar da janela quando o jantar estivesse pronto.” Você conta histórias assim e percebe o quão sortuda é por crescer na Gold Coast.

SK: Eu lembro de quando você sentava no topo da caixa d’água para olhar as estrelas. Como era absolutamente lindo. Existe alguma lição de vida que você aprendeu comigo que ficou com você?

MR: Essa é uma boa pergunta. Quero dizer, você é provavelmente a pessoa mais ética e boa que eu conheço. Eu acho que todo mundo que conhece você concorda. Eu aprendi incontáveis coisas com você. Uma lição de vida que ficou comigo foi na verdade algo que você me disse. Você me contou uma história sobre seu pai – sobre Grandy – você disse que quando você era pequena, sua mãe e seu pai estavam fazendo um jantar e você estava ouvindo os adultos conversarem quando deveria estar na cama. Eles estavam falando sobre alguém e fofocando. E Grandy disse: ”Bem, ele não está aqui para se defender agora, então vamos falar sobre outra coisa.” Ele disse isso calmamente e de modo muito educado. E eu não sei por que mas essa é uma das coisas que eu sempre me lembro. Eu quero ser o tipo de pessoa que escuta alguma fofoca e diz ”Vamos falar sobre outra coisa.” Eu acho que entre você, Grandy e tantas outras pessoas na nossa família, eu tenho muito a viver em termos de ser uma boa pessoa.

Fonte | Tradução & Adaptação: Equipe Margot Robbie Brasil